A Pra. Danijela Schubert fala à Zelota sobre seus estudos, experiência no ministério e militância pró-mulher no contexto adventista
Pra. Danijela Schubert (Fonte: Adventist Record)
Danijela Schubert, ministra comissionada desde 2013 pela Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) nos concedeu uma entrevista exclusiva, na qual contou sobre sua atuação junto à Divisão Sul do Pacífico (SPD) e como percebeu seu chamado para o ministério. Se você frequentou a igreja assiduamente nesses últimos dois anos, provavelmente já se deparou com um texto escrito por nossa entrevistada. Aliás, sua filha ou filho talvez tenha ouvido uma de suas histórias sem se dar conta até este momento. O conteúdo de Danijela apareceu como sermão e workshop elaborado para o Dia Internacional de Oração da Mulher, Sábado Missionário da Mulher Adventista e a meditação da Adoração Infantil.
Nascida em Pula, cidade mediterrânea na Croácia, Schubert é graduada em Estudos Bíblicos pelo Adventist Theological College, possui dois mestrados, sendo um em Ministério da Saúde, no Instituto Adventista Internacional de Estudos Avançados, nas Filipinas; e o outro em Teologia do Antigo Testamento, na Universidade Adventista do Pacífico. Também é formada em Artes pelo Sydiney College of Divinity, na Austrália, e doutora em Ministério Jovem, Família e Cultura, pelo Seminário Teológico de Fuller.
Sua atuação na IASD iniciou ainda em 1998 como chefa do Departamento de Religião no Pakistan Adventist Seminary, e posteriormente se tornou diretora de uma escola de ensino primário. Entre os anos de 2002 e 2010 foi professora sênior da Escola de Teologia da Pacific Union University nas áreas de línguas bíblicas, história da IASD, saúde, família e pentateuco. Até que recebeu seu chamado para se tornar Assistente da Presidência da SPD, em 2011.
Com excelência, no mesmo ano foi nomeada como Secretária Associada da divisão onde ficou até 2018 quando foi eleita membra do time de discipulado do Ministério da Mulher. Contudo, a Associação Geral decidiu por reconhecê-la como diretora do Ministério da Mulher. Atualmente, Danijela atua como Assistente de Projetos da SPD.
Danijela Schubert, ainda que no início de seu ministério não quisesse lugar na liderança, os planos se seguiram para que ela se tornasse uma referência em lutas de justiça pelas mulheres em seu campo, incluindo a valorização e fortalecimento do pastorado feminino. Alguns de seus notáveis trabalhos estão a mobilização contra a violência da mulher, seu mapeamento das mulheres no ministério e o livro Called: Meet 50 Women Working with God in the South Pacific, onde apresenta uma variedade de experiências ministeriais, como administração, comunicação, ministério pastoral feminino e ministério da mulher. Os valores obtidos pela venda dos livros são destinados para dar suporte à formação ministerial das mulheres em todo Pacífico Sul.
Confira a entrevista.
Revista Zelota – Como você se sentiu ao ser chamada para o ministério?
Pra. Danijela Schubert – Pareceu algo normal para mim. Eu treinei em várias instituições na área da teologia, e pareceu natural que eu serviria Deus em algum ministério.
Revista Zelota – Como você começou sua jornada no ministério?
Pra. Danijela Schubert – Eu decidi estudar teologia para aprender mais sobre nossas crenças. Naquela época, mulheres que completavam o curso trabalhavam como secretárias, e eu não estava interessada naquilo. Não havia pastoras nesta parte do mundo naquela época. Como eu me casei com um pastor, eu estava trabalhando ao lado dele, nós éramos parceiros no ministério, embora somente ele fosse pago por isso. Foi através dos seus chamados para lugares diferentes que então tornou-se possível que eu também fosse empregada no campo educacional.
Revista Zelota – Quando foi o seu comissionamento?
Pra. Danijela Schubert – Em 2013.
Revista Zelota – Quais são as dificuldades enfrentadas por pastoras devido ao preconceito, intolerância e resistência contra a ordenação feminina?
Pra. Danijela Schubert – Algumas igrejas são contra ter uma pastora e recusam a que lhes é designada. Alguns membros também geram muitas dificuldades para as pastoras. Elas são muito mais vigiadas que os homens na mesma função. Por exemplo, o que ela veste, como ela se apresenta, o tom da sua voz, a autoridade que ela usa etc.
Revista Zelota – Na DSA, mulheres têm muito pouco espaço em posições de liderança e ancionato, e não há pastoras. Na Europa, por exemplo, anciãs são contratadas como pastoras, mas só ano passado a DSA reconheceu a legitimidade da ordenação de anciãs. Qual é a importância da equidade no ministério?
Pra. Danijela Schubert – Quando Deus criou o homem, ele disse “não é bom que o homem esteja só”, e então fez uma parceira adequada. Somente quando os dois estavam juntos eles eram uma representação da imagem de Deus, e só então Deus pôde dizer que aquela criação era muito boa. Nós não podemos representar bem a Deus se não temos homens e mulheres trabalhando juntos para Deus e com Deus, de acordo com seu chamado e os dons que dá a todos. Não podemos frutificar tanto quanto poderíamos enquanto não estivermos unidos. Mulher e homem trabalhando um ao lado do outro, apoiando um ao outro, usando generosamente os dons de Deus, é o que é necessário para mover a obra de Deus adiante. Mesmo no Antigo Testamento Deus prometeu derramar seu Espírito tanto em filhas quanto em filhos, que vão profetizar, e suas servas e servos, mulheres e homens. Isso deveria ser muito mais óbvio em tempos após o Novo Testamento!
Revista Zelota – Qual a importância da igualdade na liderança?
Pra. Danijela Schubert – Por igualdade na liderança eu imagino ter mulheres e homens ocupando posições de liderança em números iguais? Eu acho que é essencial. As organizações e nações que promovem a parceria plena e igual às mulheres e homens tendem a estar entre as mais humanas, economicamente vibrantes e respeitosas com o meio ambiente. A lista anual da revista Fortune mostra que empresas comprometidas com o desenvolvimento das mulheres e sua promoção a posições elevadas na liderança têm melhor desempenho financeiro que as empresas com menor representação feminina. A proporção geral de mulheres na liderança da igreja atualmente não passa de 13%. O perfil ideal de candidato para uma igreja que deseja crescer parece ser o de uma mulher jovem, disposta a permanecer na posição por dez a doze anos! É minha convicção que mulheres e homens foram planejados por Deus para co-administrar seus recursos, de modo a atingir seus propósitos em cada tarefa humana. Quando falta um dos dois na liderança, também falta um aspecto distinto da natureza de Deus.
Revista Zelota – No debate sobre ordenação feminina, a unidade mundial da igreja é sempre evocada. O que você acha que poderia afetar efetivamente a unidade da igreja nesses termos?
Pra. Danijela Schubert – A missão nos une. Missão baseada nos dons que cada pessoa recebeu de Deus, os quais são fáceis de reconhecer. Usar a Bíblia para nos transformar e trazer a lei do Reino de Deus para nossa vida pessoal e nossos tratos com o próximo, sem orgulho e egoísmo. União na missão de amar as pessoas como Deus as ama e levar boas-novas a elas.
Revista Zelota – De acordo com o Pr. Townend, a SPD é a Divisão com o maior número de mulheres no ministério per capita. Esses dados deixaram de ser conhecidos depois que os anuários pararam de listar informações como nome, gênero e credenciais por tipo (licenciada, comissionada ou ordenada). Por que esses dados não estão mais disponíveis? Há algum relatório ou banco de dados onde essa informação está disponível?
Pra. Danijela Schubert – Creio que a razão para essa informação não estar mais disponível nos anuários seja uma combinação de legislação de privacidade e capacidade/mão de obra necessária para manter essas informações em portais de informação online. Você precisaria perguntar ao Escritório de Arquivos, Pesquisa e Estatística da AG para mais explicações [ver a lista de 2019 ao final da entrevista].
Revista Zelota – Em 2018, a AG criou a Comissão de Conformidade, atualmente desativada, mas que passou advertências a 6 Uniões em 2019. Em 2018, a Divisão Sul Pacífico pediu que a ordenação feminina fosse discutida novamente na Assembleia de 2020 (postergada para 2022). Infelizmente, o pedido foi negado por falta de apoio das outras divisões. A Divisão Pacífico Sul é uma referência no assunto. Como ela tem trabalhado na afirmação do papel das mulheres no ministério, tanto para mulheres já no campo quanto para as que desejam atuar no ministério?
Pra. Danijela Schubert – Há muitos anos a SPD, em toda reunião anual, fornece um relatório sobre mulheres no ministério e o progresso que foi feito (se houver). Foi nesse fórum que essa decisão foi tomada. A SPD investiu uma quantidade significativa de dinheiro para patrocinar uma conferência de mulheres no ministério como sinal de sua apreciação do que as mulheres fazem e afirmação do seu papel. Na nova estrutura da SPD vai existir um cargo específico para cuidar das mulheres no ministério, e é a primeira vez que tal posição será de dedicação exclusiva. Há um projeto de 5 anos que será discutido para esboçar um caminho para aumentar o número de mulheres no ministério e na liderança. Atualmente um programa piloto de liderança de alto nível foi iniciado, com o objetivo de preparar mulheres para cargos importantes na liderança. Cerca de ⅓ das pessoas sendo aprimoradas desta forma são mulheres. Além disso, líderes do nosso território estão envolvidos em um treinamento de governança conduzido pela Universidade de Loma Linda, e 35% dos participantes de países do Pacífico são mulheres. Nós temos uma Comissão Consultiva para Mulheres no Ministério, com representantes de cada União em nossa Divisão, que se concentram na promoção de mulheres ao ministério, no fomento à educação e ao desenvolvimento profissional de mulheres no ministério, além de aconselhar o conselho a respeito de políticas e procedimentos relacionados a mulheres no ministério.
Revista Zelota – Você pode nos contar um pouco mais sobre seus dois livros?
Pra. Danijela Schubert – Meus dois livros são resultado do meu trabalho na pós-graduação. Um foi a dissertação de mestrado, e o outro foi a tese de doutorado. Um foi a exegese cuidadosa nos livros do Pentateuco procurando todos os casos em que a palavra “julgamento” é usada, mas na língua original, e então checando o contexto do verso em que são encontradas para informar o significado do termo. O livro contém todos os versos para os termos din, shapat e mishpat, as três principais palavras traduzidas como julgamento no hebraico. O título é “Meaning of Judgment in the Pentateuch: A Word Study” [O significado do julgamento no Pentateuco: Um estudo das palavras]. O segundo se chama “Youth Ministry in Papua New Guinea: Challenge, Theology, and Curriculum” [Ministério Jovem na Papua Nova Guiné: Desafio, teologia, e grade curricular]. Ele fornece observações dos desafios ao ministério jovem olhando para influências contextuais e do desenvolvimento psicossocial. Ele explora o ministério jovem como uma teologia prática no contexto adventista. Ele olha brevemente para a história do ministério jovem e para as tendências previstas. Por fim, ele oferece uma grade curricular para o curso, especificando objetivos e resultados do aprendizado, assim como elementos da grade curricular com unidades e exercícios.
Revista Zelota – Em 2019, você esteve com a Rainha Nanasipau’u, rainha de Tonga, junto com Janet Page, Ann Wooldridge e Wendy Jackson, assim como outras 600 mulheres, em uma manifestação para trazer visibilidade à violência sofrida por mulheres e para advertir a população. Você pode nos contar mais sobre seu papel como líder mulher da IASD no fomento a discussões públicas e políticas?
Pra. Danijela Schubert – Eu dissemino informação pertinente e recursos para a liderança da União e das Associações/Missões em nossa Divisão, tanto da alta liderança quanto do departamento da mulher. Os líderes, por sua vez, fazem o que pensam ser necessário em seus territórios. Na Austrália há muitas discussões públicas e políticas sobre o tópico. Os países do Pacífico precisam de mais trabalho nessa área, e as lideranças do ministério da mulher estão fazendo muito trabalho bom para ajudar seus países. Por exemplo, em Papua Nova Guiné, um documento intitulado “Teologia da Igualdade Humana” é discutido e disseminado para mudar a visão e a compreensão das pessoas, e assim mudar seu comportamento. Eu sou parte do Strong Family Strong Community Innovation Hub [em português: Eixo de Inovação Família Forte, Comunidade Forte], que conecta organizações como AdSafe, ADRA, Education, Avondale College, o Departamento Ministerial e Ministérios de Discipulado, para encontrar formas de mudar a situação na igreja e na comunidade em relação a violência doméstica.
Lista atualizada de mulheres no ministério em outubro de 2019:
AUC | NZPUC | PNGUM | TPUM | TOTAL | |
Mulheres no Ministério Pastoral | 35 | 5 | 26 | 11 | 77 |
Mulheres no Trabalho Departamental | 14 | 3 | 28 | 3 | 48 |
Capelãs | 37 | 2 | 2 | 0 | 41 |
Mulheres na Administração da Igreja (oficiais & assoc) | 4 | 1 | 3 | 1 | 9 |
Professoras de teologia | 2 | 0 | 4 | 1 | 7 |
TOTAL | 92 | 11 | 63 | 16 | 182 |
AUC | NZPUC | PNGUM | TPUM | TOTAL | |
Homens no Ministério Pastoral | 306 | 97 | 763 | 423 | 1589 |
Homens no Trabalho Departamental | 32 | 14 | 56 | 18 | 120 |
Capelães | 69 | 14 | 16 | 35 | 120 |
Homens na Administração da Igreja (oficiais & assoc) | 29 | 10 | 38 | 21 | 98 |
Professores de teologia | 5 | 0 | 7 | 4 | 16 |
TOTAL | 441 | 135 | 880 | 501 | 1943 |
Ministério Pastoral | AUC | NZPUC | PNGUM | TPUM | TOTAL |
Homens | 306 | 97 | 763 | 423 | 1589 |
Mulheres | 35 | 5 | 26 | 11 | 77 |
Porcentagem de mulheres | 10 | 5 | 3 | 3 | 5 |
Trabalho Departamental | AUC | NZPUC | PNGUM | TPUM | TOTAL |
Homens | 32 | 14 | 56 | 18 | 120 |
Mulheres | 14 | 3 | 28 | 3 | 48 |
Porcentagem de mulheres | 30 | 18 | 33 | 14 | 29 |
Administração da igreja (oficiais & associados) | AUC | NZPUC | PNGUM | TPUM | TOTAL |
Homens | 29 | 10 | 38 | 21 | 98 |
Mulheres | 4 | 1 | 3 | 1 | 9 |
Porcentagem de mulheres | 12 | 9 | 7 | 5 | 8 |
Capelania | AUC | NZPUC | PNGUM | TPUM | TOTAL |
Homens | 69 | 14 | 16 | 35 | 134 |
Mulheres | 20 | 2 | 2 | 0 | 24 |
Porcentagem de mulheres | 22 | 13 | 11 | 0 | 15 |
Professores de teologia | AUC | NZPUC | PNGUM | TPUM | TOTAL |
Homens | 5 | 0 | 7 | 4 | 16 |
Mulheres | 2 | 0 | 4 | 1 | 7 |
Porcentagem de mulheres | 29 | 0 | 36 | 20 | 30 |
Capelães nas escolas da AUC | Homens | Mulheres | Total |
GSC | 11 | 5 | 16 |
NA | 5 | 0 | 5 |
NNSW | 19 | 7 | 26 |
SA | 3 | 1 | 4 |
SNSW | 3 | 0 | 3 |
SQld | 10 | 9 | 19 |
Tas | 3 | 1 | 4 |
Vic | 9 | 12 | 21 |
WA | 6 | 2 | 8 |
Total | 69 | 37 | 106 |
Mulheres empregadas pela igreja % 2019 | Total | AUC | NZPUC | PNGUM | TPUM |
Ministério pastoral | 18 | 10 | 4 | 3 | 2 |
Trabalho departamental | 29 | 30 | 23 | 32 | 14 |
Administração da igreja | 8 | 12 | 8 | 11 | 4 |
Capelania | 15 | 22 | 13 | 11 | 0 |
Professoras de teologia | 30 | 29 | 0 | 36 | 20 |