Mulheres adventistas sempre receberam licenças ministeriais, mas, a despeito das práticas denominacionais, tal privilégio foi revogado por conta de dívidas fiscais que ameaçavam a Divisão Norte-Americana, conferindo privilégio aos homens e excluindo as mulheres do espaço ministerial


Por Kendra Haloviak Valentine | pesquisadora do Novo Testamento e reitora de Educação Geral da Universidade La Sierra. O texto foi traduzido e adaptado do original em inglês por André Kanasiro para a revista Zelota.

Ellen G. White falando à Conferência Geral em 1901, Battle Creek, Michigan (Fonte: Ellen G. White Estate).

O ano de 1968 foi crucial para o adventismo. Não só foi o início do Adventist Forum e da revista Spectrum (isto é, o início da imprensa independente do adventismo), mas foi também o ano em que uma importante declaração de Ellen G. White foi redescoberta. Setenta e três anos antes, Ellen G. White, enquanto morava na Austrália e testemunhava o trabalho que as mulheres estavam fazendo em todo o novo território da União Australásia, havia feito esta declaração em 1895:

“Mulheres que estão dispostas a consagrar parte de seu tempo ao serviço do Senhor devem ser designadas para visitar os doentes, cuidar dos jovens e atender às necessidades dos pobres. Elas devem ser separadas para este trabalho pela oração e imposição de mãos. Em alguns casos elas precisarão se aconselhar com os oficiais da igreja ou com um ministro; mas se forem mulheres devotas, mantendo uma ligação vital com Deus, serão uma força para o bem na igreja. Este é outro meio de fortalecer e edificar a igreja. Precisamos nos diversificar mais em nossos métodos de trabalho […] Nem uma mão deve ser atada, nem uma alma desanimada, nem uma voz deve ser silenciada; que cada indivíduo trabalhe, no público ou no privado, para ajudar a levar adiante esta grande obra.”1

Esta declaração foi redescoberta em 1968, mais ou menos na mesma época em que a Divisão Norte-Europeia pediu conselhos à Associação Geral sobre a possibilidade de ordenar mulheres qualificadas que estavam tendo sucesso como pastoras em um território da sua divisão (Finlândia). Pedidos semelhantes de líderes da igreja na China chegaram à Associação Geral no início da década de 1970.

Assim, em 1973, a Associação Geral criou a “Comissão sobre o Papel da Mulher na Igreja” (composto por quatorze mulheres e treze homens), que se reuniu em Camp Mohaven, em Ohio, para considerar as questões. Eles foram chamados para lidar com a declaração redescoberta de 1895 e os recentes pedidos específicos. O conselho incluiu 26 documentos de estudo que refletiam a diversidade, mas houve um consenso notável sobre o seguinte:

1. Mulheres devem ser ordenadas como diaconisas e anciãs;

2. Deve ser iniciado um programa para que as mulheres sirvam no ministério pastoral e evangelístico em áreas selecionadas e que recebam licenças ministeriais;

3. Se as respostas das congregações locais forem positivas após dois anos, uma ação deve ser tomada na Assembleia Geral de 1975 para aprovar a ordenação de mulheres como pastoras em locais apropriados;

4. Nenhuma evidência bíblica impedia que mulheres fossem ordenadas como ministras.

O Concílio Anual de 1973 “recebeu” o relatório e pediu mais estudos. O próximo Concílio Anual, em 1974, disse que “o tempo não estava maduro”, e incentivou ainda mais estudos. Então, na reunião da primavera (março) de 1975, foi decidido que:

“As mulheres poderiam ser ordenadas como anciãs e diaconisas da igreja local com as seguintes estipulações: cada igreja deveria se aconselhar com sua Associação local, e quando pudesse ser demonstrado que as necessidades espirituais da igreja local eram mais bem atendidas com anciãs, que anciãs não criariam desarmonia na igreja, e quando uma clara maioria favorecesse a ordenação de anciãs, elas poderiam prosseguir.”

Em outros termos, a “igreja não estava pronta para avançar” no que diz respeito à ordenação de pastoras. Mas as coisas não pararam por aí. Nessa mesma reunião, a política foi alterada para que as ministras não pudessem mais receber licenças ministeriais. Elas só poderiam receber credenciais missionárias, o que significava que não estavam mais no caminho da ordenação.

Pode-se perguntar: Por que houve tal desconexão entre as recomendações da Comissão Mohaven e a Reunião da Primavera de 1975? Voltaremos a essa questão. No entanto, a Pastora Josephine Benton, uma ministra da Associação Potomac que teve sua licença ministerial revogada devido a esta decisão de 1975, fez uma pergunta diferente: Há quanto tempo as ministras da Igreja Adventista (IASD) possuem licenças ministeriais?

Mulheres Ministras no Adventismo do Século 19

Nesse contexto, Benton começou a pesquisar sobre o assunto nos Arquivos da Associação Geral com a ajuda de um jovem assistente de pesquisa, Bert Haloviak. Em sua pesquisa, descobriu que as ministras adventistas vinham recebendo licenças ministeriais por mais de 100 anos, pelo menos desde o ano de 1870 (e dentro de sete anos após a fundação da denominação).

Uma vez que, em 1881, as ministras detinham licenças ministeriais por mais de uma década com ministérios bem-sucedidos, mas não haviam sido ordenadas (e, portanto, eram incapazes de realizar batismos e outras ordenanças), as seguintes resoluções da Assembleia Geral não são surpreendentes (Review and Herald, 20 de dezembro de 1881, página 392):

1. “RESOLVIDO que todos os candidatos à licença e ordenação devem ser examinados com referência à sua aptidão intelectual e espiritual para o cumprimento bem-sucedido dos deveres que recairão sobre eles como licenciados e ministros ordenados.

2. RESOLVIDO que as mulheres possuindo as qualificações necessárias para preencher essa posição podem, com perfeita propriedade, ser separadas por ordenação para a obra do ministério cristão”.

Enquanto a primeira resolução foi adotada, a segunda não foi mencionada novamente. Historiadores e administradores da IASD discutem o que significa o silêncio. Mas, dada esta história de 100 anos e as recomendações de Mohaven, por que ocorreram tais ações regressivas de 1975? Em vez de avançar com cuidado, mas com propósito, a igreja realmente retrocedeu e tirou as licenças ministeriais de pastoras após 100 anos de concessão. Por quê? O que estava acontecendo?

Pelo menos parte da resposta à pergunta está em nossa ignorância sobre a história adventista – uma triste ignorância sobre as muitas mulheres que durante o século anterior serviram a igreja como ministras licenciadas. Mas há outro aspecto importante na resposta ao que estava acontecendo na igreja em 1975. Essa parte da resposta envolve dinheiro. Havia uma colisão se desenrolando nos bastidores da Divisão Norte-Americana.

Até 1975, a IASD tinha um entendimento comum do papel e da função do ministro. Ela/ele recebia treinamento ministerial (o mesmo para mulheres e homens) e durante um “tempo de teste” recebia uma licença ministerial. Se o ministro demonstrasse frutos realizando batismos e não houvesse problemas particulares, então, depois de vários anos, um ministro seria ordenado e receberia credenciais de ordenação [a credencial ministerial], que lhe dariam autoridade para batizar, realizar a santa ceia, casamentos e serviços funerários. Embora não haja evidências de que o “tempo de teste” das ministras algum dia tenha terminado, temos evidências de que Ellen G. White recebeu credenciais de ordenação.

Não estou sugerindo que Ellen G. White participou de uma cerimônia em que ministros homens impuseram as mãos sobre ela. Mas estou sugerindo que as pessoas levantaram a mão para votar em suas credenciais de ordenação ano após ano. No que diz respeito à política da igreja e como evidenciado em muitos documentos da igreja, as pastoras já em 1870 eram treinadas da mesma forma que os pastores. Elas eram pagas pelos fundos do dízimo e possuíam licenças ministeriais, e pelo menos uma mulher teve credencial de ordenação durante vários anos.

O problema do dinheiro

Durante a década de 1960, a liderança da igreja enfrentou um crescente problema financeiro em relação ao seu ministério. O Internal Revenue Service (IRS)2 notificou a denominação na América do Norte que os ministros licenciados deveriam ser permitidos e capacitados a fazer tudo o que um ministro ordenado poderia fazer se esses ministros recebessem subsídio eclesial3 e outros benefícios fiscais. Se os titulares de licenças, ainda não ordenados, não eram bem a mesma coisa que ministros ordenados, eles não poderiam receber os benefícios fiscais. Na verdade, a denominação teria que pagar os impostos de todos os anos anteriores em que reivindicou o subsídio eclesial para ministros licenciados. Isso teria acontecido por muitos anos no passado e ameaçava ser uma grande despesa, na casa dos milhões de dólares. Algumas Associações já haviam recebido demandas da Receita Federal ameaçando a apreensão de seus bens.

Em 1966, quando Robert Pierson se tornou presidente da Associação Geral e Neal Wilson tornou-se presidente da Divisão Norte-Americana, eles herdaram o problema do IRS. A questão era: como a igreja poderia definir aqueles com licenças ministeriais, mas ainda não ordenados de uma maneira que atendesse aos padrões do IRS? Esse problema levou mais de uma década para ser resolvido. Mas a necessidade de resolver o problema veio em um momento crucial – ao mesmo tempo que as recomendações de Mohaven.

Assim como a declaração de Ellen G. White de 1895 estava sendo redescoberta e Mohaven estava recomendando que nada nas Escrituras ou Ellen G. White proibia as mulheres de serem ordenadas (de fato, a declaração de 1895 encorajava a ordenação de mulheres como pelo menos diaconisas e anciãs), e justo enquanto a Comissão Mohaven sugeria que a IASD avançasse cuidadosamente com pastoras com o plano de eventualmente ordená-las como ministras do evangelho, os pastores Pierson e Wilson estavam sentindo grande pressão para resolver o problema do IRS.

Se os deveres do pastor licenciado e do pastor ordenado fossem unificados, o IRS ficaria satisfeito; mas então as pastoras licenciadas poderiam cumprir os mesmos deveres que as pastoras ordenadas. Isso provou ser um problema. Lembre que na Reunião da Primavera de 1975, a revogação das licenças ministeriais das pastoras foi considerada necessária porque os deveres dos ministros licenciados foram ampliados. Foi resolvido naquela reunião que, onde as mulheres “com qualificações e experiência adequadas são capazes de desempenhar funções ministeriais, elas são designadas como pastoras assistentes, sendo suas credenciais as de licença missionária ou credencial missionária”.

Da mesma forma, depois de mais de 100 anos de licença ministerial, as ministras não podiam mais ter licenças ministeriais. Eles não estavam mais no caminho da ordenação. Ao mesmo tempo, homens com licenças ministeriais a caminho da ordenação podiam realizar santas ceias, batismos e funerais – desde que fossem anciãos da igreja local.

O presidente da Divisão Norte-Americana, Neal Wilson, escreveu ao IRS em dezembro de 1975, afirmando que “o papel do ministro licenciado foi redefinido pela IASD”. O que ele poderia ter acrescentado é que ministras também foram redefinidas pela igreja. Quando esta mudança na definição de um ministro licenciado precisou ser ratificada pelo Concílio Anual em 1976, a proposta do Pastor Wilson dizia: “Um ministro licenciado é autorizado pela Comissão Executiva da Associação a desempenhar todas as funções do ministro ordenado na igreja ou igrejas para as quais foi designado”. Mas os presidentes de União e oficiais de Divisão do campo mundial além dos Estados Unidos não concordaram e encaminharam a proposta de volta “para estudo adicional”. Mais tarde, quando o relatório voltou, ele o fez com a cláusula de que as Comissões de Divisão poderiam atribuir tarefas a ministros licenciados quando “circunstâncias especiais” exigissem “consideração especial”. Isso foi votado em 20 de outubro de 1976, permitindo flexibilidade às divisões quando se tratava de definir os deveres dos ministros adventistas.

Em uma sessão noturna do Concílio Anual da Divisão Norte-Americana, naquele mesmo dia, os delegados – apenas a Divisão Norte-Americana, reunida como parte de sua reunião anual – votaram “sim” à proposta do Pr. Wilson. A definição de ministro na Divisão Norte-Americana seria diferente de qualquer outro lugar da IASD mundial. Esta ação não foi mencionada no relatório sobre o Concílio Anual da Associação Geral publicado na Review (11 de novembro de 1976). Em um artigo posterior na Review (30 de dezembro de 1976), no entanto, o Pastor Wilson explicou que, “com o objetivo de preservar a unidade e a força da igreja”, o Concílio Anual havia “votado para alterar a política que governa os ministros licenciados para fornecer latitude e flexibilidade apropriadas dentro de cada divisão da Associação Geral.” Aparentemente, a IASD mundial teria que conviver com uma diversidade de políticas quando se tratava de definir o ministro, pelo menos onde tanto dinheiro estivesse envolvido. A questão dos benefícios fiscais foi resolvida para os pastores às custas das pastoras. Nossa teologia do ministério e prática da ordenação foram determinadas pela economia, não pelas Escrituras.

É claro que a maioria da IASD não conhecia essa história; a maioria não conhece ainda hoje. Mas, à medida em que as igrejas locais aprenderam gradualmente sobre a mudança na política para permitir que as mulheres fossem ordenadas como diaconisas e anciãs, essa questão logo se tornou o foco, especialmente porque as congregações locais trabalharam para obter uma “maioria clara” de seus membros a favor das anciãs. Os que estão na linha de frente dessas discussões congregacionais têm muitas histórias que poderiam contar sobre a primeira anciã ordenada e como a congregação celebrou, ou levou tempo para aceitá-la. Talvez você se lembre de quando uma mulher ocupou pela primeira vez o cargo de anciã principal de sua congregação. No final da década de 1980, 960 mulheres na América do Norte seriam ordenadas anciãs e serviriam em suas igrejas locais.

Pastoras no tanque batismal

Em meados dos anos 1980, o foco mudou mais uma vez para mulheres pastoras. No dia 11 de fevereiro de 1984, a Comissão Executiva da Associação Potomac autorizou oito anciãos locais ordenados — incluindo três mulheres — a realizar batismos em suas igrejas locais. Não encontrei nada sugerindo que os cinco homens que realizaram batismos nesta época tenham criado alguma controvérsia. No entanto, na década de 1980, o batismo feito por pastoras causou bastante agitação. Há uma longa e complexa história por trás dos eventos do verão de 1984, e ela pode ser lida na Spectrum, que acompanhou essa questão ao longo das décadas.

Naquele outono, o Concílio Anual votou para convocar uma Comissão sobre a questão ampla do “Papel da Mulher na Igreja”. A primeira reunião desta nova Comissão ocorreu em março de 1985, concluindo novamente que era necessário mais estudo. O Pr. Wilson está registrado nesta Comissão afirmando que seus pontos de vista mudaram sobre esta questão. Enquanto ele via com bons olhos a ordenação de mulheres imediatamente após Mohaven, agora ele tinha mudado de opinião. Acho isso curioso, porque foi em meados dos anos 1980 que me pediram para dar uma semana de oração para os funcionários na Associação Geral. Eu estava frequentando o colégio local e ocupava o cargo de pastora da associação estudantil. (Eu tinha cerca de 17 anos.) Lembro-me de compartilhar histórias dos evangelhos naquela semana no culto matinal. Também me lembro do Pr. Wilson conversando comigo em uma daquelas manhãs depois de fazer o meditação de adoração. Ele me incentivou a não desistir. Mudanças estavam ocorrendo, disse ele, e não demoraria muito. Certamente na época em que eu terminasse a faculdade, ele me assegurou.

Em 1988 ocorreu a Segunda Comissão sobre o Papel da Mulher e, em seguida, em 1989, a Terceira Comissão sobre o Papel da Mulher. Enquanto a Associação Califórnia Sudeste estava começando o trabalho de sua Força-Tarefa de Inclusão de Gênero, a Terceira Comissão estava recomendando uma combinação interessante de sugestões para a próxima Assembleia Geral: “não” para ordenar pastoras, mas “sim” para permitir que pastoras não ordenadas realizassem batismos e casamentos. Esta última tornou-se política oficial na Assembleia Geral de 1990, em Nova Orleans.

Eu havia terminado a faculdade em 1989, e aceitei um convite para me juntar à equipe pastoral da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Kettering (Associação Ohio) em maio daquele ano. Isso significava que até o final do próximo verão, pela primeira vez, eu poderia batizar alguém que eu tinha preparado para o batismo.

Voto para a autonomia das Divisões

Na Assembleia Geral seguinte, em Utrecht (1995), a Divisão Norte-Americana pediu à IASD mundial que permitisse a cada Divisão decidir o assunto. O pedido foi negado (673 a 1.481; 31% a 69%). No sábado seguinte, na classe Roy Branson da Escola Sabatina na IASD de Sligo (Takoma Park, Maryland), ouvi um painel de delegados que haviam acabado de voltar de Utrecht. Eles relataram o que testemunharam na sessão. Durante a discussão na classe, os membros da igreja começaram a se convencer de que, para nossa congregação local, “era a hora”. Muitas conversas e sessões de oração se seguiram, incluindo uma assembleia administrativa que votou esmagadoramente a favor de prosseguir com uma cerimônia de ordenação local. Esta congregação havia abraçado mulheres pastoras desde 1973. Era a hora!

Em 23 de setembro de 1995, a IASD de Sligo ordenou três mulheres ao ministério do evangelho em um culto de adoração da igreja local no sábado à tarde. Norma Osborn, Penny Shell e eu fomos ordenadas. A ordenação não recebeu nenhuma afirmação oficial da Associação Potomac ou da União Columbia. Mais tarde naquele ano, nós três voamos para o sul da Califórnia para participar dos cultos de ordenação de Madelyn Haldeman e Hallie Wilson (Igreja da Universidade La Sierra) e Sheryl Prinz-McMillan (Igreja Loma Linda Victoria). Em 1996, Margo Pitrone foi ordenada na IASD de Garden Grove. Em dois anos, sete mulheres foram ordenadas como ministras no contexto de suas congregações locais.

Havia um preço a pagar por essa iniciativa. Alguns dos homens envolvidos nessas primeiras cerimônias de ordenação foram repreendidos e pressionados de várias maneiras. É claro que as mulheres também pagavam de várias maneiras. Mas a maioria das conversas foi comemorativa e esperançosa, não negativa.

Não muito tempo depois, a Associação Califórnia Sudeste, cuja Comissão de Justiça de Gênero vinha trabalhando há anos, começou a emitir as mesmas credenciais para todos os pastores, independentemente do gênero. Essas credenciais continham a expressão “ordenado-comissionado”. A ação autorizando isso foi votada em 2000. Em 2005, testemunhei minha primeira cerimônia de ordenação-comissionamento aqui mesmo neste santuário, quando  a pastora Chris Oberg e o pastor Devo Kritzinger participaram juntos de um culto que lhes deu credenciais idênticas.

Assembleias quinquenais de Uniões em 2012

Então, em 2012, duas Uniões votaram para ordenar ministros qualificados sem levar em conta o gênero. Na União Columbia, uma maioria de 80% votou a favor desta recomendação. Na União Pacífico, uma maioria de 79% votou a favor desta recomendação. Então, nessas duas Uniões, as cerimônias de ordenação começaram a ocorrer. E na União Pacífico, aqueles já comissionados ou aqueles que pediram licenças comissionadas em solidariedade a suas colegas mulheres receberam credenciais de ordenação.

Em 2013, a Associação Califórnia Sudeste elegeu Sandy Roberts como sua presidente (72% a favor). Nesse mesmo ano, a Comissão Internacional de Estudos de Teologia da Ordenação (TOSC) se reuniu pela primeira vez em Laurel, Maryland. Os 106 delegados foram informados que esta era a primeira comissão de estudo desse tipo – com uma delegação representativa internacional intencional. Ao final do estudo de dois anos, em uma aparente inversão de opinião possivelmente destinada a diminuir sua influência, fomos informados de que mesmo esse grupo era desproporcionalmente composto por delegados da Divisão Norte-Americana.

O que muitas vezes não é entendido sobre o TOSC é que cada Divisão tinha simultaneamente  Comissões de Pesquisa Bíblica (BRCs) reunidas regularmente para discutir a questão da ordenação de mulheres. O plano era que cada Divisão compartilhasse documentos com a comissão internacional, que apresentaria uma declaração de consenso ao Concílio Anual em 2014 e depois talvez à Assembleia Geral em 2015. Os relatórios das Divisões incluíam seis Divisões que disseram “sim” à ordenação de pastoras qualificadas em seus territórios. Seis Divisões disseram “não”, mas estavam abertas a outras divisões. E uma Divisão disse “não” para qualquer território. A discussão na Assembleia Geral em julho de 2015 em San Antonio não refletiu a ênfase geral dos relatórios de Divisão que chegaram ao TOSC.

O que ficou claro é que, desde San Antonio, alguns dos artigos da TOSC permitiram que uma teologia aberrante fosse adotada por segmentos da igreja, incluindo a teologia da liderança masculina, com seu foco hierárquico elevado e tendências antitrinitárias. Nos últimos seis meses, oficiais de duas Uniões diferentes expressaram sua preocupação de que tantos de seus pastores estejam lidando com membros adotando visões antitrinitárias.

Questões de Governança e Disciplina

Em 2016, a conversa mudou da questão da ordenação para uma questão de governança e disciplina, pois as Uniões viram o voto “não” em San Antonio como a manutenção do status quo – ou seja, a ordenação continua decidida no nível da União (que era o que realmente estava escrito na votação), mas a liderança da Associação Geral entendeu o voto “não” como declarando que as Uniões não são mais capazes de tomar essa decisão.

Um documento de “unidade” foi discutido no Concílio Anual de 2017, considerando a disciplina por “não conformidade” contra as Uniões. A questão fundamental subjacente é: quem pode designar ministros? A delegação do Concílio Anual devolveu o documento de unidade no ano passado. O que acontecerá com a versão revisada este ano?4

As comissões de supervisão poderão centralizar ainda mais o poder? A disciplina por não conformidade se tornará o foco da nossa Associação Geral? O adventismo se tornará mais autoritário que aventureiro em sua busca pela verdade presente?

Este fim de semana celebramos os últimos 50 anos do adventismo. Em 1968, uma declaração de Ellen G. White sobre a ordenação de mulheres foi redescoberta. Ela escreveu a declaração depois de testemunhar o trabalho de ministras. De certa forma, temos lutado com o significado da declaração nos últimos 50 anos. Enquanto isso, mulheres ministras estão ministrando… na Associação Califórnia Sudeste, na União Pacífico, na União Australiana, em toda a Divisão Sul Pacífico e em todo o mundo.

Notas:

1. Ellen G. White and the role of women in the Church, “The 1895 ‘Ordination’ Statement” (1895). Disponível em: https://m.egwwritings.org/en/book/714.9#12 Acesso em: 13 nov., 2022.

2. N.T.: Receita Federal dos EUA.

3. N.T.: No original, “parsonage allowance”. Isenção fiscal que igrejas podem obter a partir dos gastos com moradia para seus ministros.

4. N.E.: É preciso lembrar que o texto original foi escrito em 1 de novembro de 2018.

Bibliografia consultada:

Benton, Josephine. Called by God: Stories of Seventh-day Adventist Women Ministers (Smithsburg, MD: Blackberry Hill Publishers, 1990).

Dwyer, Bonnie, ed. Spectrum “Women’s Ordination: Historic Votes in the North American Division,” Fall 2012 (40:4), pages 21-49.

Haloviak, Bert. “Longing for the Pastorate: Ministry in 19th Century Adventism” (unpublished manuscript, Center for Adventist Research, James White Library, Andrews University, Berrien Springs, MI, 1988).

Haloviak, Bert. “Money and Theology: IRS and the Redefining of SDA Ministry” (1996). http://whyperish.upa7.org/wp-content/uploads/2010/08/money_theology-sdas.pdf

Haloviak Valentine, Kendra. “Ordination: Disentangling the Gordian Knot” (Pacific Union Conference Online Sources) http://session.adventistfaith.org/uploaded_assets/424939

Haloviak Valentine, Kendra. Online presentation version of this paper https://spectrummagazine.org/news/2018/live-stream-50th-anniversary-adventist-forum-conference

Maxwell, C. Mervyn. “How Money Got Us Into Trouble,” Adventist Affirm (1998). http://www.adventistsaffirm.org/article/140/women-s-ordination-faqs/3-how-money-got-us-into-trouble

Watts, Kit. “Appendix 5: An Outline of the History of Seventh-day Adventists and the Ordination of Women,” The Welcome Table, Patricia A. Habada and Rebecca Frost Brillhart (Eds.), (TEAM Press, 1995), pages 334-358.