Fotorreportagem que ilustra e narra a visita da primeira pastora adventista brasileira, Therezinha Barbalho, à comunidade Nova Semente, no mês de julho de 2022, para uma pregação na série "Deserto"


Fotos: Gustavo Oliveira

O dia despontava de forma diferente, mesmo sendo uma manhã típica de inverno na cidade de São Paulo, com suas  baixas temperaturas. Ele já entrava no noticiário como um dos dias mais quentes da cidade, nos últimos dois meses, mínima de 12ºC, máxima de 28,1ºC. “Julho atípico”, traziam os títulos das matérias e mais uma vez os especialistas acertaram, mesmo não fazendo ideia que se aplicaria perfeitamente àquele 16 de Julho, na Av. Cubatão, 77.

Era por volta das 09h da manhã, quando rompe, em meio a algumas pessoas conversando, o som de pegadas e uma voz muito aconchegante, dizendo: “Tru, essa é a Nova Semente.” De certo, aquela comunidade estava diante de um dia histórico, aquelas poucas e carinhosas palavras estavam sendo dirigidas a ninguém menos do que à pastora Therezinha Barbalho.

Minutos depois, o coral se organizava no tablado. Dada a largada, o serviço iria começar, já eram 09h30. Membras, membros e visitantes se acomodavam em seus lugares. Muitos estavam ali pela curiosidade de saber como seriam os próximos dias da igreja após o afastamento do líder do time pastoral. Era perceptível que ali as pessoas estavam em luto por uma perda, contudo esperançosos.

Os hinos conduzidos pelo ministério de louvor daquela manhã preparavam a membresia presente para seu momento de adoração de forma sublime, muitas pessoas com seus olhos fechados cantando como prece. Enquanto isso, duas mulheres descem pelas escadas, se direcionam à plataforma central, e uma delas inicia com uma oração de conforto.

No Brasil, a Igreja Adventista do Sétimo Dia estava diante de um fato inédito: duas pastoras brasileiras em um mesmo púlpito.

“Em algum dia no ano de 2008, na Igreja de New Jersey, vi além de uma mulher pregando, vi uma mulher batizando. E [essa mulher] era a pastora Therezinha Barbalho”, contou a pastora local Aqueldan Feldberg. Sua declaração trazia a emoção de quem teve sua vida impactada pelo ministério de Barbalho antes de fazer sua escolha também pelo seminário teológico, e agora como teóloga, servindo no time pastoral, continua se inspirando na ministra.

Nos minutos seguintes, ainda que muitos não tivessem se dado conta, se iniciava um novo capítulo no pastorado feminino com as tenras palavras: “Deixa eu olhar pra vocês? Eu gosto de olhar nos olhos de todo mundo e dizer: feliz sábado, queridos!”, acolheu a pastora que um dia, injustamente, teve o convite de pregar no UNASP, em Engenheiro Coelho, desfeito a pedido do então presidente da Divisão Sul-Americana e atual secretário executivo da Associação Geral, Erton Köhler.

“Sou pastora da IASD, há 19 anos. Estou nos Estados Unidos há 19 anos como pastora adventistia do Sétimo Dia.” Atualmente, Therezinha serve na Silver Spring SDA Church, Maryland (EUA), como “solo pastor”, uma única liderança pastoral para a igreja. Segundo uma fonte ligada à Associação Ministerial da Divisão Norte-Americana (NAD), em 2022, seu território têm 244 pastoras em campo: 5 leigas (sem formação teológica);  9 líderes do time pastorais; 13 distritais; 18 na liderança organizacionais; 21 solo pastors; 75 capelãs; e 103 pastoras associadas. Em 2019, Barbalho foi ordenada ao ministério tornando-se a primeira pastora brasileira com esse tipo de credencial.

As mensagens apresentadas por Therezinha são caracterizadas por sua simplicidade e riqueza teológica. Para a pastora, uma mensagem simples é a marca das parábolas de Jesus, assim, as pessoas compreendem o âmago do ensinamento e saem dali capacitadas para abençoar outras pessoas.

A mestra em Divindade pela Andrews University nos convidou a refletir nos desertos simbólicos que assolam nossas vidas, nos caminhos que são cheios de paisagens desérticas e de dificuldades. Os sapatos amarelos, sem salto e aparentemente confortáveis que calçava, metaforicamente demonstravam uma pessoa que a seriedade do black and white não priva de andar pelos caminhos áridos da existência.

Foi durante aquela manhã que Therezinha falou pela primeira vez, naquele dia, sobre seu deserto. Sua mensagem foi baseada no texto de Lucas 11:9-13. Ali estavam diante dela pessoas que tristes, em luta, diante do sofrimento da perda. As palavras da pastora foram um abraço de conforto, como do “Espírito em nossos desertos”.

Quando pensamos na pessoa do Espírito Santo, lembramos da crença fundamental adventista homônima, número 5:  “Ele concede os dons espirituais à igreja, a habilita a dar testemunhos de Cristo e, em harmonia com as Escrituras, guia-a em toda a verdade”. Podemos também lembrar que é o Espírito quem convence e transforma os corações.

Novos capítulos precisam ser escritos no ministério realizado pelas mulheres. Ali, naquele deserto, foi possível vislumbrar um horizonte, um mar, diante de muitos olhos. Essas lágrimas eram o Espírito confortando através da fala da pastora Therezinha. Não era uma miragem do deserto, era a esperança para um novo tempo ao ministério pastoral brasileiro. Sua participação compõe o segundo estudo da série “Deserto”, na Nova Semente, figurando como o vídeo mais assistido da sequência, com 14 mil visualizações no YouTube. A soma dos recortes publicados em perfis do instagram ultrapassaram 190 mil visualizações e mais de 13 mil curtidas.

A pastora Therezinha Barbalho abriu caminho sendo a primeira pastora brasileira, mas não a única. Encorajemos o dom das meninas e mulheres próximas que sentem o chamado para o ministério pastoral. Quando estivermos diante da cegueira missiológica, não sejamos quem cala, mas quem clama por justiça. Diante da equidade proporcionada pelo Espírito em distribuir seus dons sem restrição de gênero, que possamos levar como um lema as palavras de Therezinha e lutar para que tenhamos mais pastoras no campo da DSA: “Persistência. Insistência. Não desistir. Não parar. Pedir de novo. E pedir de novo. Não recebeu? Pede de novo. Não veio? Pede de novo. Acredite e peça de novo. Não para! Incomode. Peça sem cessar.”