As afirmações de Ellen G. White sobre o Decreto Dominical, em texto e contexto, nos ensinam que Deus fala aos profetas em suas próprias épocas, ensinando a igreja a viver em resposta aos desafios do presente


*Série Decreto Dominical (parte 4)

Este texto faz parte de uma série. Leia antes a primeira, a segunda e a terceira parte.

Dr. Jon Paulien | The Battle of Armageddon — Traduzido e adaptado por Erick Faria para a Revista Zelota

Jon Paulien é um teólogo adventista norte-americano. Pastor em Nova Iorque por muitos anos, Paulien lecionou Interpretação do Novo Testamento no Seminário Teológico da Universidade Adventista de Andrews. Ele também foi reitor da Universidade Adventista de Loma Linda de 2007 a 2019, e atualmente leciona na mesma Universidade. Estudioso do Apocalipse já em sua dissertação de doutorado, Paulien publicou vários livros a respeito do assunto para a IASD norte-americana.

O mundo em que Ellen G. White viveu nos anos 1880 estava prestes a mudar dramaticamente. O protestantismo permanecia uma força expressiva, senão a dominante, na política americana durante muitas décadas. Mas depois do fracasso da legislação dominical de âmbito nacional no período de 1888-1890, o catolicismo deixou de ser uma força expressiva no cenário político americano até o Vaticano II e a ascensão de John F. Kennedy no fim dos anos 1950. E enquanto o espiritualismo permanecia às margens da consciência americana, seu papel no âmbito público rapidamente diminui depois de 1890. 

Com a morte de Ellen G. White, uma nova ameaça ao estilo de vida americano se tornava crescentemente poderoso: a ascensão do secularismo/liberalismo. Essa nova força oferecia uma ameaça direta ao governo protestante dos Estados Unidos, que era algo tomado como certo quando o Grande Conflito foi escrito pela primeira vez. O protestantismo revidou durante a Controvérsia Fundamentalista, mas o julgamento “Estado do Tennessee contra John Thomas Scopes”, em julho de 1925, e o colapso da Lei Seca no começo dos anos 1930, sinalizaram a sentença de morte da dominância protestante na política Americana. As três principais ameaças para o estilo de vida americano nos anos 1880 foram, então, suplantadas por uma ameaça muito maior: os valores cristãos sobre os quais o EUA foi fundado seriam totalmente deixados de lado em favor de uma ordem pluralista, secular.

O colonialismo era outra característica marcante do tempo de Ellen G. White. Virtualmente, o mundo inteiro era ou governado por poderes nominalmente cristãos, como Inglaterra, França, Espanha e Alemanha, ou profundamente influenciado pelo poder político e econômico que essas nações europeias possuíam. O conceito de uma lei dominical internacional era muito plausível na era colonial. Mas essa era começou a se desfazer no despertar da II Guerra Mundial, e a dominância europeia da África e Ásia já haviam quase que completamente evaporado no começo dos anos 1960. O mundo de hoje é um mundo muito diferente daquele em que Ellen G. White viveu no fim do século 19. Esse é um sério problema para qualquer um que deseja projetar os detalhes do mundo dela no século 21. É razoável esperar que uma voz profética que se levantasse hoje diria, pelo menos, algumas coisas que nos surpreenderiam.

O cenário que Ellen G. White projeta no Grande Conflito está profundamente embutido em questões dos anos 1880, e um pouco depois. Endereça as questões que a nação estava discutindo e inclui todos os principais atores políticos daquele tempo. Não é a estória de algum futuro distante para os EUA, mas a extensão natural do tempo e lugar de Ellen G. White. 

Gostaria de lembrá-lo das declarações dela a esse respeito. O que ela escreveu no Grande Conflito se referia aos “movimentos agora em progresso” (GC, 573). “Nos acontecimentos que ora estão a ocorrer, percebe-se rápido progresso no sentido do cumprimento da profecia” (GC, 579). O que ela estava descrevendo era um “conflito prestes a se desencadear” (GC, 592). De fato, “O decreto […] já foi lançado” (7 SDABC, 976). E seria imposto por “um governo Protestante” (RH, December 18, 1888).

O mundo mudou massivamente nos últimos 125 anos. Como outros escritores do Novo Testamento, Ellen G. White não percebeu o longo período de tempo que viria depois dela. De fato, há muito pouco em seus escritos que descreve diretamente o mundo no qual agora vivemos.

Como os profetas bíblicos, quando Ellen G. White descreve o futuro, ela o faz na linguagem, tempo, local e circunstâncias da época na qual escrevia. Isso é ilustrado pelo fato de que a linguagem sobre um lei dominical nacional no Congresso só aparece no contexto imediato de uma declaração do Senado para estabelecer uma lei dominical nacional. Antes disso, ela fala em termos muito genéricos sobre uma legislação dominical, uma linguagem apropriada para um tempo no qual havia muitas leis dominicais locais, mas nenhuma iniciativa para uma legislação nacional. Como notado antes, houve sete edições do Grande Conflito, e ela atualizou cada edição para refletir as mudanças no mundo vigente daquele tempo. É exatamente esse o padrão encontrado quando olhamos para as profecias cumpridas da Bíblia.

Será um esforço em vão procurar por qualquer descrição clara do mundo no qual nós vivemos nos escritos de Ellen G. White. Houve mais mudanças nos últimos 100 anos do que nos 6 mil anteriores, mas isso não é detectável em detalhes nos seus escritos. Não há descrições explícitas de guerras nucleares ou mesmo do poder nuclear. Não há menção de computadores, internet ou celulares. Não há menção de viagens espaciais por meios humanos. Nenhuma descrição do Comunismo, das duas guerras mundiais ou do terrorismo Islâmico. Não há descrição específica de uma América que está se tornando cada vez mais secular ou pós-moderna. E isso é exatamente o que seria esperado com base nas profecias cumpridas na Bíblia. Profecias não foram concedidas para satisfazer nossa curiosidade sobre o futuro, mas sim para nos ensinar sobre como viver o presente. Quando usamos as profecias para outros propósitos, as coisas inevitavelmente darão errado.

Ellen G. White, uma Profetisa Clássica

Uma coisa que eu percebi, nas discussões recentes, é que muitas pessoas que lêem Ellen G. White tratam seus escritos como se eles fossem profecia apocalíptica, e, portanto, não exigem os princípios bíblicos para interpretação da profecia clássica. Há visões descritas por ela que me lembram de Apocalipse 4-5 (jornadas celestiais), mas nada parecido com Daniel 2 ou as visões judaicas em Esdras 4 e 1 Enoque. O trabalho de Ellen G. White se encaixa no padrão de profetas clássicos como Isaías, Jeremias e Oséias. Ela endereça seu contexto imediato com paixão e um desejo de mudança da parte de seus leitores. Quando ela projeta o futuro, nunca é uma descrição detalhada de coisas específicas além do seu próprio tempo, mas uma extensão natural do mundo em que ela vive.

A implicação importante disso é que suas previsões do futuro, ainda que se refiram a eventos humanos, são condicionais em relação a esses mesmos eventos. Esse princípio é declarado inequivocamente em Jeremias 18:7-10: 

“No momento em que falar contra uma nação, e contra um reino para arrancar, e para derrubar, e para destruir, se a tal nação, porém, contra a qual falar se converter da sua maldade, também eu me arrependerei do mal que pensava fazer-lhe. No momento em que falar de uma nação e de um reino, para edificar e para plantar, se fizer o mal diante dos meus olhos, não dando ouvidos à minha voz, então me arrependerei do bem que tinha falado que lhe faria.” 

Esse é Deus falando diretamente e explicando como Ele opera (Jr 18:6). Quando fala sobre as interações entre nações e entidades poderosas, as previsões de Deus são condicionais em relação à resposta dessas nações e entidades. Considerar tais profecias como uma descrição do futuro, com certeza absoluta, é ir longe demais. Elas podem, de fato, ser cumpridas em detalhes exatos, mas também pode ser que esse não seja o caso. Deus nem sempre é previsível. Como a própria Ellen G. White frequentemente declarou, “as circunstâncias alteram os casos”.

Na minha pesquisa para essa série, eu me deparei com uma declaração de Ellen G. White que me chocou, por ser completamente contrária à forte ênfase do Grande Conflito sobre o assunto. Mas quando notamos a data da declaração à luz dos princípios proféticos descritos anteriormente, a declaração faz completo sentido:

“Então eu vi a mãe das prostitutas […] Ela havia tido seus dias, que são passado, e suas filhas, as seitas Protestantes, estavam prestes a subir ao palco e agir com a mesma mentalidade que sua mãe quando perseguira os santos” (MS 15, 1850).

Quando ela fala da “mãe das prostitutas”, está claramente aludindo a Apocalipse 17:4-5, aplicando consistentemente ao papado. Em sua perspectiva, em meados dos anos 1850, o papado “havia tido seus dias, que são passado”. No tempo do fim, a América Protestante assumiria o papel que o papado tivera na Idade Média.

Essa declaração faz perfeito sentido em 1850. A população de católicos nos Estados Unidos era cerca de 5% em 1840. Eles representavam uma força pequena, insignificante no palco da política Americana. Mas a imigração de lugares como Irlanda, Itália e Polônia mudaram essa dinâmica nas décadas que se seguiram. Por volta dos anos 1890, a proporção de Católicos na população estadunidense havia alcançado 17%. Eles não podiam mais ser ignorados. Mas em 1850, o papado parecia uma força desgastada, tendo recentemente passado pelo cativeiro humilhante de 1798. Considerando que a queda da “mãe das prostitutas” é declarada em Apocalipse 17:16, naquele tempo Ellen G. White pode ter colocado Apocalipse 17 no passado, assim como Uriah Smith havia feito. Se o fim houvesse ocorrido nos anos 1850, o papado não teria assumido o papel no tempo do fim que o Grande Conflito retrata nos anos 1880. A sua previsão de 1850 é uma extensão natural daquele tempo e lugar.

Outra declaração surpreendente vem de 1886, um pouco antes de um pico na agitação em relação ao domingo no Congresso:

“O mundo Cristão sancionou seus esforços (de Satanás) ao adotar essa criança do papado – a instituição do domingo. Eles o nutriram e continuam a nutrir, até que o Protestantismo estenda a mão da sociedade ao poder Romano. Então haverá uma lei contra o Sábado da criação de Deus” (RH, 9 de Março, 1886).

Nessa declaração, o elemento chave não é tanto uma lei exigindo a observância do domingo, mas uma lei proibindo a observância do Sábado. Aqui ela segue a opção anti-sábado para Apocalipse 13, que nós mencionamos anteriormente. Essa ênfase aumentaria nos anos 1890 e no começo dos anos 1900, conforme as forças para legislar a observância nacional do domingo perdiam vapor. Quando leis dominicais locais receberam sua atenção, em vez de dizer às pessoas para resistir, ela disse que o dia deveria ser usado para trabalho missionário. Não levante a ira dos vizinhos e das autoridades desempenhando trabalho manuais nesse dia. Essa não é uma ameaça direta para a guarda do Sábado.

Conforme olhamos para todas declarações de Ellen G. White a respeito das leis dominicais, as declarações-chave a respeito da legislação dominical no Congresso são agregadas no ano de 1888, quando essa era questão vívida no cenário da nação. Conforme observamos, a tendência das suas declarações ao longo de setenta anos se encaixam no padrão de profecia clássica: falando diretamente e profeticamente a respeito das questões vivas do seu próprio tempo. Assim como é com a Bíblia, isso de forma alguma diminui o valor dessas profecias para hoje, mas simplesmente impacta a forma como as lemos e aplicamos hoje.

Sabotando o propósito de Deus para as profecias

A evidência vista nas profecias cumpridas na Bíblia nos mostra que elas são dadas como uma extensão natural do tempo e lugar do profeta. Deus encontra as pessoas onde elas estão e a profecia trata do mundo que o profeta vivencia. O mundo está em constante mudança, mais agora do que nunca; e, por isso, podemos esperar que alguns elementos de uma profecia não se cumpram, porque as condições de cumprimento não foram satisfeitas. No caso da expectativa de leis dominicais nacionais sendo aprovadas no Congresso Americano, as condições para isso eram muito fortes no final dos anos 1880, mas nenhuma dessas condições continuou a fazer sentido na época da Primeira Guerra Mundial. Se tais leis dominicais ocorrerem no futuro, elas ocorrerão num mundo vastamente diferente do que aquele em que Ellen G. White estava familiarizada.

Revisando a evidência bíblica sobre a marca da besta (Ap 13:13-17), concluímos que há quatro possibilidades exegéticas de cumprimento, considerando o fato de que a marca é contrastada com o selo de Deus e o Sábado. Uma possibilidade seriam leis relacionadas à adoração de outro dia (o domingo, por exemplo); outras duas possibilidades seriam tornar todos os dias um sábado, ou nenhum dia seria sábado. A quarta opção seriam leis proibindo a guarda do sábado. Todas as quatro possibilidades são exegeticamente defensáveis como formas de se cumprir o texto de Apocalipse 13. Como vimos, a maioria das declarações sobre esse tópico, feitas por Ellen G. White, retratam as leis dominicais como formas de cumprir o texto de Apocalipse 13, mas algumas declarações retratam as leis dominicais como uma ameaça menor comparada a leis que de fato proíbem a adoração no sábado. As declarações referentes às leis dominicais no Congresso são poucas e estão concentradas no período por volta de 1888, quando eram uma extensão lógica do cenário corrente naquele momento da história.

Existem duas formas de sabotar o propósito de Deus para a profecia. Uma delas é ignorar as profecias da Bíblia e de Ellen G. White. Isso é visto amplamente como um problema pelos estudantes da Bíblia. Mas a outra forma de se sabotar a Bíblia é popular entre os entusiastas das Escrituras e, portanto, mais difícil de ser vista como uma ameaça: a tentativa de se detalhar em excesso o cumprimento de uma profecia, ao ponto de um cenário em particular se tornar tão fixo na mente do povo que o cumprimento de fato é recebido como uma surpresa e até mesmo uma decepção para aqueles que o antecipavam.

Isso aconteceu nos dias de Jesus. Os Fariseus nos dias de Jesus eram estudantes ávidos das profecias. Sabemos disso a partir dos livros que existem até hoje, como o 4 Esdras, 2  Baruque e 1 Enoque. Esses livros refletem uma mentalidade de profunda consideração pelas profecias, levando a um detalhamento dos eventos que culminaria na vinda do Messias. O fracasso em entender como o cumprimento das profecias acontecem na Bíblia levou os Fariseus a construir uma expectativa com base no estudo da Bíblia que os fez rejeitar Jesus quando Ele veio, porque não satisfazia as suas expectativas bíblicas. Esse foi um erro trágico, e poderia ter sido evitado se eles tivessem prestado mais atenção à condicionalidade da profecia clássica e à forma que as profecias são uma extensão natural do lugar e tempo de cada profeta. As profecias messiânicas foram cumpridas por Jesus, mas de uma forma diferente daquela que os Fariseus esperavam.

Minha preocupação é que os Adventistas estejam cometendo um erro semelhante hoje ao investir tanta energia nas ideias de que uma lei dominical no Congresso Americano será o gatilho específico do evento do tempo do fim. Essa perspectiva é compreensível, dado que ela nos concede uma medida específica que é facilmente observável. Mas as condições para uma lei como essas passaram, e caso ela nunca aconteça exatamente daquela mesma forma, alguns sérios e sinceros estudantes adventistas da profecia podem deixar passar o cumprimento real quando ele acontecer, simplesmente porque suas expectativas específicas não foram satisfeitas.

O mundo mudou mais nos últimos 100 anos do que nos 6000 anos anteriores. A expectativa de que essas mudanças não terão nenhum impacto na forma como as profecias se cumpriram é, na melhor das hipóteses, incerta. Uma legislação dominical mundial ainda poderia acontecer, mas concentrar-se em um único detalhe (a legislação no Congresso Americano) como a chave para isso pode ser uma grande distração quando de fato chegar o tempo.

A última parte dessa série oferecerá um cenário possível para a legislação dominical no tempo do fim e algumas conclusões sobre o assunto.

Resumo e conclusão

Nós começamos essa série com a observação de que muitos adventistas possuem um sinal único do tempo do fim que os faz sentirem-se particularmente preparados para a volta de Jesus. Esse sinal é a aprovação de uma lei dominical nacional no Congresso dos Estados Unidos. Diferente de muitas profecias na Bíblia e no Espírito de Profecia, esta é específica e mensurável. Se isso acontecer ou não acontecer, todos nós saberemos. Membros de todos os cantos do mundo estão examinando tanto as notícias quanto “fontes” alternativas para pesar a probabilidade de uma lei como essa ser aprovada nos Estados Unidos, a cada ano que passa. Isso tem acontecido por muitas décadas, provavelmente até mais do que um século. Mas seria tal evento, no contexto do Grande Conflito, essa certeza absoluta que muitos consideram ser?

Nós examinamos os princípios de interpretação profética que podem ser observados através do estudo das profecias cumpridas na Bíblia (para maior detalhes, veja o capítulo 2 do livro The Deep Things of God). Esses princípios demonstram que as profecias referentes a eventos históricos específicos são condicionais. Deus encontra as pessoas onde elas estão. As profecias são, portanto, revestidas na linguagem do tempo e do lugar do próprio profeta. Os detalhes são uma extensão natural do tempo e do lugar de onde o profeta fala. Deus nem sempre cumpre cada detalhe das previsões proféticas. Aqueles que aguardam uma lei dominical no Congresso Americano estão assumindo que as previsões históricas de Ellen G. White são diferentes da Bíblia, e estão assumindo que são incondicionais. Como se elas precisassem ser cumpridas em todos detalhes, exatamente como previsto. Mas essa premissa contradiz o conselho da própria Ellen G. White: “as promessas e ameaças de Deus são igualmente condicionais” (LDE 38).

A condicionalidade nos adverte a não considerar os detalhes históricos da profecia como certezas absolutas antes do tempo. A profecia é melhor compreendida conforme ela acontece, ou mesmo depois do seu acontecimento (Jo 13:19; 14:29).

Nós também examinamos Apocalipse 13, a passagem na Bíblia que é citada como evidência de tal legislação dominical. Nós notamos que as leis dominicais do tempo do fim são uma leitura plausível de Apocalipse 13, mas não são a única leitura possível da passagem a respeito da marca da besta. Enxergar leis dominicais em Apocalipse 13 é exegeticamente defensável, mas não é exegeticamente convincente. O conceito da marca da besta é aberto o suficiente para permitir a liberdade divina de cumprir a profecia de mais de uma forma possível. Assim, cuidado é recomendado ao interpretarmos esses textos antes do seu cumprimento. Não deveríamos fechar nossa compreensão de uma previsão antes do cumprimento acontecer.

Nós também examinamos as declarações de Ellen G. White a respeito das leis dominicais à luz da história da sua própria época. A ideia de uma lei dominical nacional no Congresso era muito relevante nos anos 1880 e suas declarações com esse efeito acontecem todas por volta dos anos 1888, quando havia de fato uma proposta de lei no Senado para se impor uma lei dominical nacional. Ela não faz essas declarações nos anos anteriores, mas vê as leis locais como evidência de algo maior que estaria por vir (esse algo maior porvir não é especificado). Notamos que as condições nos Estados Unidos que tornaram essa proposta de lei no Senado plausível desapareceram nas décadas seguintes e não retornaram desde então. Os Estados Unidos não é mais um governo Protestante, e o retorno de tal governo não seria uma extensão natural do cenário atual. Assim, a expectativa de que o cenário exato do Grande Conflito ocorreria novamente no mundo de hoje é improvável. A expectativa constante de uma lei dominical nacional no Congresso Americano leva à especulação e teorias conspiratórias em vez de um estudo histórico e bíblico saudável.

A possibilidade de leis dominicais no nosso futuro permanecem, entretanto, uma leitura viável de Apocalipse 13 e do Grande Conflito. Mas elas podem muito bem surgir de forma surpreendente. Como um exemplo das possibilidades, citei Clifford Goldstein, que oferece um caminho para a legislação dominical internacional que faria sentido no mundo de hoje. Todas as religiões do mundo antecipam alguma figura futura que impactaria dramaticamente o curso da história. Para os Cristãos, o nome é Jesus. Para os Judeus, é o Messias. Para os Muçulmanos, é o Mahdi (embora muitos muçulmanos também antecipem um papel grandioso para Jesus). Para os Hindus, é Kalki. Para os Budistas, o Matreiya. Segunda Tessalonicenses (2:8-10) e Apocalipse (13:13-14 16:13-14) antecipa uma grande ilusão no tempo do fim, na qual Satanás personifica Cristo perante o mundo (o Grande Conflito afirma essa ideia). Seu estonteante aparecimento no tempo do fim poderia evocar as esperanças e sonhos das pessoas de todas as fés. Aproveitando as expectativas, Satanás poderia unir o mundo em adoração a Deus no domingo, como um sinal de lealdade a Jesus/Messias/Mahdi/Kalki/Matreiya e as mais altas esperanças de suas fés. Tal evento cumpriria tanto o Grande Conflito quanto Apocalipse 13, mas de uma forma inesperada, algo que as outras profecias cumpridas na Bíblia nos levaria a esperar.

Minha preocupação é que ao focar na previsão que parece tão específica e mensurável como uma lei dominical nacional no Congresso Americano, poderíamos nos distrair do evento real, quando de fato se cumprir. Nós precisamos de corações que estejam abertos à revelação e abertos ao Espírito Santo conforme navegamos nas águas desafiadoras pela frente. O desejo pela certeza faz com que nós nos foquemos em detalhes específicos em vez de nos concentrar na compreensão do contexto mais geral da profecia. Essa compreensão é um trabalho difícil mas nos manterá a salvo nos tempos desconcertantes à frente de nós. As profecias não nos foram dadas para satisfazer nossa curiosidade sobre o futuro, ela nos foi dada para preparar nossos corações para encontrar aquele que nós adoramos e louvamos. Eu sugiro que priorizemos essa tarefa.