A declaração teológica oficial dos adventistas afirma que algumas pessoas nascem homossexuais e carregam essa orientação por toda a vida, mas se contradiz ao impor o celibato, algo considerado antibíblico pela instituição


Por Matthew J. Korpman |Texto original traduzido e adaptado por Thiengue Canuto da Silva para a revista Zelota.

Casal homossexual (Foto: banco de imagens).

Este artigo tenta confrontar um problema dentro de minha própria denominação protestante, a Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), que também afeta inúmeras outras denominações. Embora eu fale, principalmente, de e para minha própria perspectiva denominacional, espero que alguns dos insights que dou aqui possam ser usados ​​por outras pessoas em seus próprios contextos.

O que está claro para mim é que nós, como Igreja que se orgulha de seguir a Bíblia e ser fiel à verdade, não podemos continuar no mesmo caminho que estamos percorrendo sem causar danos a ambas. O celibato imposto inevitavelmente leva a uma heresia muito pior do que a maioria das igrejas conservadoras temem representar a homossexualidade: leva à crença de que é pelas obras, e não pela Graça de Cristo, que somos salvo; e pior, a graça de Deus se transforma em maldição.

Louvor à igreja

Deixe-me começar, como o salmista faz quando fala de Deus, louvando a igreja de onde venho antes de reclamar sobre os aspectos que gostaria que mudassem.

Em 2015, o Seminário da IASD produziu uma declaração sobre a homossexualidade que finalmente, pela primeira vez, aceitou e reconheceu que muitos dos que são homossexuais possivelmente nasceram como tal. Além disso, o Seminário afirmou que a homossexualidade, como orientação sexual, não é pecado. E isso significa, consequentemente, que é possível ser homossexual e cristão.

Esta declaração e afirmação não encontrou oposição desde então (apesar de muitas oportunidades para fazê-lo) por quaisquer entidades da igreja e, como tal, depreende-se que, até que haja novos desenvolvimentos, é atualmente um reflexo do ensino adventista oficial.

Embora isso possa soar como um pequeno passo, especialmente em comparação com o resto do mundo e a comunidade científica, para uma igreja de tendência conservadora, isso é um movimento bastante radical.

Por quê? Porque significa que a igreja deve agora explicar como a comunidade homossexual se encaixa na estrutura do mundo e da igreja, em vez de simplesmente descartar a questão [ao afirmar]: “acreditamos que eles escolheram isso.” Portanto, sou grato por minha igreja ter escolhido lutar contra o problema em vez de descartá-lo.

Infelizmente, o seminário propôs uma solução para o problema ao mesmo tempo que deu um passo para trás: argumentou que os cristãos homossexuais devem permanecer celibatários para agradar a Deus. De acordo com a declaração teológica da IASD sobre homossexualidade:

“Embora a homossexualidade seja uma distorção do ideal edênico, ‘não há condenação’ para pessoas de orientação homossexual, desde que ‘estejam em Cristo Jesus’ (Rm 8.1) e não abracem ou ajam de acordo com sua orientação e propensões […] [Alguns] podem ter de lutar contra essas tendências por toda a vida.”

A ideia por trás disso parece ser uma tentativa de permitir o fato científico de que algumas pessoas nascem homossexuais, enquanto mantém esse fato em equilíbrio com as injunções bíblicas que parecem proibir todos os relacionamentos homossexuais.

O proposto, então, é que um indivíduo que nasceu homossexual e não consegue achar o sexo oposto atraente deve renunciar a qualquer aptidão de ter amor romântico se quiser ser salvo. Resumindo: celibato. O único problema é que o celibato causa mais problemas do que os resolve!

O celibato é contrário a Bíblia?

Um dos problemas com o argumento a favor do celibato é o simples fato de que, logicamente, ele contradiz a Bíblia. Primeiro, na história inaugural de Adão e Eva, as Escrituras deixam claro que o casamento (companheirismo/união para toda a vida) foi dado aos humanos porque “não é bom que o ser humano [Adão]1 esteja só” (Gn 2.18).

Esta é, antes de mais nada, a razão pela qual o casamento é concedido e se torna a norma para a vida humana de acordo com a Bíblia. É somente depois que essa necessidade e requisito são cumpridos que Deus menciona qualquer coisa (após a queda) sobre a procriação (Gn 1.28).

Da forma como Gênesis está organizado, só se pode concluir que o comando para procriar veio depois da criação de Eva, uma vez que Gênesis 1 afirma que tanto Adão quanto Eva haviam sido criados quando Deus deu sua ordem.

Observe também que, embora a gravidez seja mencionada como uma expectativa anterior e não uma ideia nova quando Deus sentencia Eva após a queda (Gn 3.15-16), a história nos diz que Eva só engravidou depois que deixaram o Éden (Gn 4.1).

Então, por quanto tempo eles ficaram no Éden? Não há nenhum registro, mas a Bíblia parece sugerir um tempo bastante longo. Na época de Jesus, os judeus acreditavam popularmente que eles viveram no Jardim por muitos anos.

Portanto, considere o seguinte: se o casamento era principalmente para gerar filhos, por que Adão e Eva estavam gastando tanto tempo não procriando antes da queda? Visto que o sexo é um presente para o casamento, e Adão e Eva são (com ou sem cerimônia) “casados”, não se pode presumir (sem má teologia) que eles não estavam fazendo sexo como casal no Jardim.

Isso significa que a sexualidade, para o primeiro casal humano, segundo o Gênesis, tinha prioridade em relação à gravidez. Companheirismo, conforme dito por Deus em Gênesis 2.18, foi a motivação para o casamento e tem maior importância que a ordem em Gênesis 1.28. Um tem precedência sobre o outro, algo que o próprio Paulo observa e esclarece em 1 Coríntios 7.3-5 quando adverte que a sexualidade não deve ser negada, mas a gravidez deveria ser evitada devido aos tempos em que ele acreditava que viviam.

No entanto, não precisamos debater se esta é uma avaliação precisa do casamento. Felizmente para nós, Jesus confirmou nos Evangelhos que era esse o caso. Em Mateus 19.10-12, especificamente, Jesus diz algo que deveria, teoricamente, fazer qualquer cristão hesitar.

Os discípulos de Jesus disseram:

— Se essa é a situação do homem em relação à sua mulher, não convém casar.

Jesus, porém, lhes respondeu:

— Nem todos são aptos para aceitar este ensinamento, mas apenas aqueles a quem isso é dado. Porque há eunucos de nascença; há outros a quem os homens fizeram tais; e há outros que se fizeram eunucos, por causa do Reino dos Céus. Quem é apto para aceitar isto, que aceite. (NAA)

Uma nota para aqueles que podem ou não saber, um eunuco é uma pessoa que não tem desejo sexual.2 Antigamente, esse poderia ser um termo que se referia a um escravo que tinha seus órgãos genitais cortados, permitindo-lhe servir a moças sem que os donos de escravos se preocupassem que ele tentasse algo com elas.

O termo eunuco também pode se referir a alguém que é celibatário (que age como o eunuco de antigamente), mas também pode significar em alguns casos: um indivíduo cuja sexualidade não é ativa da maneira que se pode entender como normal (o que deixa ainda mais espaço para interpretação).

Assim, podemos notar duas coisas sobre a declaração de Jesus em Mateus 19: 

  1. Nem todos podem compreender ou mesmo aceitar esta verdade como absoluta (o que significa que qualquer compreensão deste texto que não seja controversa não é precisa).
  2. Os eunucos, ou indivíduos sem um impulso sexual normal, às vezes nascem, enquanto outros se tornam assim.

Portanto, sejamos claros: a parte chocante da declaração em três partes de Jesus é a primeira e a terceira (a segunda era bem conhecida, pois se referia a escravos).

Aqueles que se tornam eunucos

Vamos começar pelo final, com a última parte primeiro. Quanto ao terceiro ponto de Jesus, de que alguns podem se fazer eunucos (ou celibatários), Jesus afirma que o celibato tem um papel na Igreja, mas é uma escolha individual. Observe também que o único eunuco que faz isso “por causa do Reino dos Céus” é aquele que o faz porque assim o escolheu.

Aqueles que são forçados a se tornar e aqueles que nascem como tais não têm seu status de eunuco vinculado à Igreja ou ao Céu (é simplesmente uma questão de biologia ou circunstância). Isso significa que Jesus afirma que o celibato deve ser uma escolha decidida pelo próprio indivíduo.

Novamente, muitos anos depois, em 1 Coríntios 7.7, Paulo confirma que esse entendimento de Jesus foi compreendido pelos primeiros cristãos: “Gostaria que todos os homens fossem como eu [celibatário, como um eunuco]. No entanto, cada um tem de Deus o seu próprio dom; um, na verdade, de um modo; outro, de outro” (NAA).

Aqui está um ponto importante que Paulo observa: o celibato é um dom. O que ele quer dizer é que isso o beneficia de uma forma tangível.

Além disso, Paulo deixou claro que nem todos podem ter esse dom. E isso logo cria um problema. Paulo descreve especificamente que o celibato não pode ser um presente se um indivíduo ainda “arde em desejos” (1Co 7.9). Nesse caso, Paulo avisa que o celibato não é um dom e deve ser evitado.

Por quê? Porque Paulo menciona que nem todo mundo tem autocontrole (1Co 7.5,9). Em outras palavras, nem todo mundo tem escolha quanto aos seus sentimentos sexuais (ou sexualidade).

Resumindo: se alguém “arde de paixão” e não se casa, obrigando-se a se tornar celibatário (apesar de não ter o dom para isso), Paulo não consideraria isso uma bênção, mas sim uma maldição.

Aqueles que nascem eunucos

Agora vamos examinar a primeira parte da declaração de Jesus em Mateus 19.12, examinando aqueles que nascem eunucos. A passagem em Mateus 19 é clara sobre três coisas:

  1. Aqueles que nasceram assim não foram escolhidos por Deus para sê-lo por causa do Reino dos Céus.
  2. Quem nasceu assim não tem escolha, porque nasceu assim.
  3. Seu nascimento dessa maneira não é elogiado nem condenado como anormal, mas simplesmente considerado um fato difícil de aceitar.

Como disse a declaração do Seminário de Teologia da Universidade Andrews, refletindo sobre isso: “Embora esta passagem não se refira explicitamente à homossexualidade, ela revela que a Bíblia reconhece que alguns desvios sexuais da norma podem ser herdados.”

Dados esses fatos, é importante reconhecer as seguintes consequências dos versículos acima (e outros versículos explorados):

  1. Jesus e Paulo negam explicitamente que o casamento é sempre a intenção de Deus para os seres humanos.
  2. Jesus e Paulo negam que todos possam escolher como entender sua sexualidade.
  3. Jesus esclarece que, a menos que alguém possa escolher se tornar celibatário, não é especificamente planejado por Deus que ele sirva a igreja desse modo.
  4. Paulo esclarece ainda que, a menos que alguém tenha um dom para o celibato (falta de impulso sexual), o celibato deve ser evitado e não escolhido.

A posição da IASD sobre celibato está errada

Então, nós nos deparamos com um grande problema como resultado. Recapitulando, a posição atual da IASD, conforme delineada por seu seminário é argumentar que:

  1. As pessoas podem nascer gays.
  2. As pessoas que nascem gays e são cristãs devem, sem desejar ou escolher (porque não têm escolha se querem a salvação), tornar-se celibatárias para agradar a Deus.

Embora isso possa parecer bom em teoria (aceitar a homossexualidade como não pecaminosa, mas biológica, enquanto mantém a autoridade bíblica para negar a aceitabilidade de seus relacionamentos que são vistos como pecaminosos), a verdade é que tal procedimento, como visto acima, direta e indiscutivelmente parece contradizer a Bíblia. Algo que, ironicamente, é o que esse tipo de posição mais deveria evitar!

Salvação pelas obras?

Outro problema com a ideia do celibato, e um particularmente terrível, é o fato de que ela leva inevitavelmente a uma heresia muito pior do que a maioria das igrejas conservadoras temem sobre a homossexualidade: leva à crença de que é pelas obras, e não pela graça de Cristo, que somos salvos.

Se você nasceu de uma determinada maneira, não tendo escolha, e lhe foi dito que a única maneira de ser salvo (e mais ainda de ser membro de uma igreja) é negar seus impulsos sexuais e viver em penitência por algo que você nunca escolheu, então adivinhe: você criou um novo problema digno de despertar a ira do próprio Lutero.

O presente de Cristo é apenas um verdadeiro presente para alguns? Os outros precisam primeiro fazer algo para recebê-lo? 

A homossexualidade não é como um mau hábito, caso em que se pode dizer que quando alguém entrega seu coração a Deus, se transforma à sua imagem e obedece naturalmente. Não é disso que se trata. Em vez disso, temos aqui um cenário em que alguém nunca pode mudar, mas apenas viver constantemente com vergonha e dor para receber o presente.

Na verdade, dentro desta perspectiva, a Graça de Deus se transforma em uma maldição que eles devem carregar como um fardo sexual por toda a sua vida. As palavras de conforto de Jesus de que seu “jugo” e “fardo” são leves e suaves se aplicavam apenas a alguns?

Algo disso soa como o Evangelho cristão, independentemente das apreensões que muitos leitores cristãos possam ter sobre todas essas questões?

Ellen G. White era contra o celibato

Conforme apontado, a Bíblia não oferece espaço para nos permitir impor o celibato a ninguém, e a própria ideia de um celibato forçado é errada porque teologicamente leva à heresia.

É interessante notar que Ellen G. White (uma das três fundadoras da IASD) também concordou com isso.

Jesus não impôs o celibato a nenhuma classe de homens. Ele não veio para destruir o relacionamento sagrado do casamento, mas para exaltá-lo e restaurá-lo à sua santidade original. Ele olha com prazer para o relacionamento familiar onde o amor sagrado e altruísta predomina” (Letters and Manuscripts, V18 – 1903).

Em seus primeiros anos, em novembro de 1850, White descreveu qualquer mensagem de celibato forçado, obrigatório ou não escolhido como “poderes das trevas”, contra os quais ela disse: “Deus quer que seu povo se levante e obtenha a vitória” (Carta 26-1850).

A IASD concorda que está errada

Em uma reviravolta surpreendente, a IASD, a nível mundial, votou recentemente uma declaração sobre os cristãos transgêneros em abril de 2017, a qual, surpreendentemente, chamou o celibato de uma das muitas “escolhas de estilo de vida biblicamente impróprias”. Parece que a maioria esqueceu essa referência.

Aqui estão duas partes de consequência da declaração:

O desejo de mudar ou de viver como uma pessoa de outro gênero resulta em escolhas de estilo de vida biblicamente impróprias. A disforia de gênero pode, por exemplo, resultar no uso de roupas do sexo oposto, cirurgia de redefinição de sexo e o desejo de ter um relacionamento conjugal com uma pessoa do mesmo sexo biológico. Por outro lado, o transgênero pode sofrer calado, vivendo no celibato ou se casando com um cônjuge do sexo oposto.”

“Embora a disforia de gênero possa não ser considerada intrinsecamente um ato pecaminoso, pode resultar em escolhas pecaminosas.” 

Ignorando as primeiras observações depreciativas, a segunda tríade na primeira declaração se mostra fascinante.3 Entre as várias “escolhas de estilo de vida biblicamente impróprias” está listado o celibato (mais especificamente, o celibato devido ao sofrimento secreto). Isso não é apenas considerado impróprio, mas até mesmo insinuado como possivelmente pecaminoso.

Isso é importante porque, quer todo o corpo constituinte pretendesse reverter a posição anterior (e recente) sobre o celibato, quer tenha esquecido a declaração do Seminário da Andrews, assim o fez. E ainda assim… Não o fez.

Um dilema perigoso

A igreja, na verdade, se contradiz até mesmo em sua própria declaração de 2017. Mais tarde, essa mesma declaração diz o seguinte:

“a Igreja veementemente adverte os homens e mulheres transgêneros contra a cirurgia de mudança de sexo e contra o casamento, se tiverem passado por esse procedimento.”

Duas coisas a serem observadas: o celibato é promovido, mas não imposto. Portanto, embora ela aparentemente se contradiga, promovendo algo que considerou “biblicamente impróprio”, também parece apontar ao fato de que a igreja mudou de posição. Em vez de exigir o celibato, ele apenas “veemente adverte” nesse sentido (o que, claramente, não tem o mesmo peso).

Da mesma forma, é fascinante notar também que, na declaração anterior, “ser casado com um cônjuge do sexo oposto” também era considerado impróprio, junto com o celibato.

Reserve um momento para considerar o fato anterior: se um indivíduo trans se casa com alguém do sexo oposto (como a igreja promove), ele é avisado de que está potencialmente/provavelmente pecando (fazendo a coisa certa).

Resumindo, a IASD criou para si mesma um dilema perigoso. Ela está simultaneamente dizendo aos membros que:

  1. Ser celibatário (por causa do sofrimento privado) é viver um estilo de vida biblicamente inapropriado.
  2. Se for transgênero, casar-se com qualquer pessoa (mesmo do sexo “correto”) pode ser errado.

Em outras palavras, você está condenado se fizer isso e você está condenado se não o fizer. Ou será que não? Novamente, observe que a declaração disse que “veementemente adverte” contra o casamento transgênero e a cirurgia de redesignação sexual, não disse que o proíbe.

E isso nos traz ao problema: a IASD caiu em uma vala de sua própria criação. A declaração sobre as relações transgênero é indecisa e contraditória porque está claro que a IASD não tem certeza do que fazer. Ela não pode exigir celibato forçado porque ele não é bíblico neste contexto (uma maldição, ao invés de um presente). Também vai contra a tradição de nossas bases denominacionais, como evidenciado pelas fortes advertências de Ellen G. White contra tal ensino.

Mas ela também não pode apoiar o casamento “bíblico” com o sexo oposto, porque sabe que se alguém não achar o sexo oposto atraente ou se eles forem transgêneros e se identificarem com o mesmo sexo da pessoa com quem estão se casando, eles entram no que é entendido como um “casamento antibíblico”. O que deixa a igreja em sua posição atual: desesperadamente em conflito consigo mesma.

Isso soa familiar: o caso de Atos 15

Esse tipo de situação me lembra o primeiro concílio da igreja, registrado em Atos 15. A igreja, com sede em Jerusalém, declarou que a circuncisão não era obrigatória para ser um seguidor de Jesus. Foi uma mudança monumental na interpretação dos mandamentos das escrituras do Antigo Testamento. No entanto, nem tudo foi ótimo.

Ao remover a exigência da circuncisão, eles reforçaram a ordem de que os cristãos estavam proibidos de comer qualquer carne que tivesse sido abençoada em festas pagãs (época em que a carne era mais barata). Paulo acabou rejeitando esta visão como essencialmente “supersticiosa” e disse que os líderes da igreja eram “irmãos mais fracos”, porque impuseram tal regra (Rm 14).

Da mesma maneira, Atos 15 representa um grande passo à frente e um passo atrás ao mesmo tempo, mostrando que a Igreja geralmente erra toda vez que faz algo certo. Da mesma forma, vejo a afirmação da IASD da realidade biológica da homossexualidade como um passo certo à frente, mas suas idéias sobre o celibato como um passo antibíblico para trás.

Considerações finais

Embora eu reconheça o dilema que a IASD enfrenta atualmente, ou seja, como aceitar a realidade da homossexualidade que ocorre naturalmente, e as aparentes prescrições bíblicas a respeito de atos homossexuais, posso dizer (e espero que outros possam concordar na revisão desta análise) que a solução do celibato não resolve nada; pelo contrário, parece causar exatamente o que espera evitar: contradizer as diretrizes das Escrituras.

O que isso exige de nós é o reconhecimento de que a razão pela qual encontramos a solução errada é porque ainda não estamos preparados para chegar à solução certa. Talvez seja melhor (por enquanto), à luz da clara confusão que cerca o assunto, que em vez de impor aos cristãos restrições que apenas pareceram “bem ao Espírito Santo e a nós” (At 15.3), mas que são meramente a opinião desinformada de “quem é fraco na fé” (Rm 14.1), devemos, em vez disso, ter o cuidado de manter em mente o conselho do presidente Wilson enquanto discute a declaração sobre Relações Transgênero:

“A última coisa que queremos é afugentar as pessoas de Cristo e da Igreja. Desejamos que elas venham aos pés da cruz e para Sua graça transformadora.”

Em vez de impor restrições para evitar que as pessoas se associem à igreja (uma noção muito estranha para começo de conversa), talvez devêssemos recebê-los (não apenas para entrar no prédio uma vez por semana, mas para seguir a Deus onde quer que ele os leve), e permitir que Cristo e o Espírito Santo trabalhem em todos os nossos corações da maneira que Deus, em última análise e sabiamente, escolher fazer.

Alguns podem achar este artigo difícil de engolir, porque eu não propus uma solução. Não tenho alternativa para dar. Alguns podem me ver apenas derrubando um muro temporário e deixando a igreja sem rumo. Receio que, por mais que desejasse ter a resposta, a única que me vem à mente é simples: imite a Cristo. Ele é sempre nosso objetivo e não posso fazer melhor que isso.

Melhor assumirmos a posição de que atualmente não sabemos algo, do que assumirmos a posição errada e destruirmos a vida das pessoas (uma heresia muito pior do que qualquer outra, pois significa que estamos distorcendo o Evangelho e o próprio caráter de Deus).

Só posso compartilhar o que é óbvio para mim; e o que está claro para mim é que nós, como Igreja que nos orgulhamos ser, igreja bíblica e fiel à verdade, não podemos continuar o mesmo caminho que estamos percorrendo sem causar danos a ambos os lados.

Notas:

1. Nota do tradutor: No hebraico, o termo “adam”, em vários contextos, é designado para fazer referência à humanidade, como um todo, e não especificamente ao “homem”, macho.

2. Nota do tradutor: A definição de “eunuco”, neste texto, é de especial consideração do autor. No entanto, ela pode ser expandida e aprofundada em uma série de textos publicados pela revista Zelota sobre a questão do eunuco na Bíblia.

3. Está claro, a partir do contexto, que a segunda frase continua a lista anterior (ao invés de contrastar alternativas positivas). Como sabemos com certeza? Bom senso. O documento não tem a intenção de sugerir que indivíduos transgêneros devam “sofrer silenciosamente”. Interpretar desta forma seria uma distorção das intenções da declaração votada. Como tal, está claro que a segunda frase continua a listar as “escolhas de estilo de vida biblicamente inadequadas” iniciadas anteriormente.