A liderança adventista brasileira admitiu ter destituído Edson Nunes da comunidade Nova Semente por questões teológicas e mentiu à Associação Geral, afirmando ter seguido protocolos oficiais da igreja para manejar a situação


20 jul., 2022 | Redação Zelota

Fachada da Associação Paulistana (Foto: Google Maps; Montagem: Jayder Roger)

O culto sabático na comunidade adventista Nova Semente, neste sábado (16), foi ocasião para a leitura de uma segunda declaração oficial, votada unanimemente. Dando continuidade às reivindicações feitas pelo conselho no dia 2 de julho, a declaração apelou às instâncias superiores da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) para que reconsiderem as medidas tomadas contra o Pr. Edson Magalhães Nunes Jr., e concluiu afirmando que não há possibilidade de conversar sobre a entrada de um novo pastor sênior enquanto esta questão não for resolvida.

A declaração também trouxe à luz o teor de uma reunião realizada no dia 14 de julho entre o conselho da comunidade e a administração da Associação Paulistana (AP), representada pelo presidente, Romualdo Larroca, o secretário, Ronaldo Alberto de Oliveira, e o ministerial, Vicente Pessoa. Nesta reunião, Larroca teria afirmado que Edson foi retirado da comunidade por “preocupações teológicas” não especificadas, sendo esta a primeira vez em que a liderança da comunidade recebeu uma explicação oficial da instituição para as medidas tomadas no início do mês.

Esta não é, entretanto, a primeira comunicação oficial de líderes da IASD a respeito do assunto. Um dia antes, em e-mail enviado por Thomas L. Lemon, vice-presidente da Associação Geral (AG), para responder questões de uma membra, há menção a uma carta em espanhol enviada pela Divisão Sul-Americana (DSA) à AG para esclarecer a situação. De acordo com a carta, o pastor Edson Nunes só foi removido após uma “investigação criteriosa” que seguiu os protocolos administrativos da IASD; ela ainda afirma que os líderes da comunidade “confirmaram esses detalhes” e concordaram com a remoção do pastor. Conforme já demonstrado anteriormente pela Zelota, nenhuma dessas alegações é verdadeira.

Ambos os episódios demonstram a continuidade de um modus operandi desonesto e pouco transparente na relação entre a administração da IASD e a membresia. Tais atitudes evidenciam desonestidade nos processos administrativos, configuram procedimentos antiéticos e acariciam práticas mais preocupantes do que supostos “problemas teológicos”. Elas fortalecem as tensões de um relacionamento já desgastado pelo autoritarismo institucional.

Dois anos pra voltar “limpinho”

A Zelota entrou em contato com o conselho administrativo da Nova Semente com o fim de entender o que foi discutido na reunião de 4 horas de duração com a liderança da AP e obter detalhes a respeito das declarações feitas por seus oficiais. “Ele [Larroca] começou a reunião de um jeito bastante pitoresco que incomodou todo mundo”, explica Débora Maia, anciã da comunidade e diretora do Instituto Sementes. “Ele começou a contar uma história, dizendo que, quando ambos estudavam Teologia, o Pr. Edson era conhecido no seminário como ‘sem-terra’, embora dirigisse uma Cherokee.” O comentário inicial de Larroca ecoa falácias reacionárias comuns contra movimentos de esquerda, associando-os a um voto de pobreza, e sugerindo que pessoas dessa vertente não deveriam usufruir de bens de consumo; essa fala, portanto, já evidencia a existência de um viés político no presidente da AP.

Questionado a respeito das razões para a remoção de Edson Nunes da Nova Semente, Larroca teria confirmado que a remoção ocorreu devido a “preocupações teológicas”. Sobre o caráter de tais preocupações, “ele disse que não tinha conhecimento, e dependeria de instâncias diferentes para poder confrontar as ideias”, conta Erisson Jubanski, ancião da comunidade. “De sua parte ele disse que não tinha nenhuma repreensão doutrinária, pois Edson era irrepreensível no que diz respeito às 28 doutrinas, mas havia algumas diferenças teológicas que quem tinha condições de avaliar eram os pares dele.”

De fato, Larroca confirmou que as demandas por providências contra o pastor Edson eram externas: “o Pr. Larroca especificou que os ‘pares’ a que ele se referia eram pastores doutores adventistas”, explica Rafael Salomão, ancião jovem da Nova Semente. Dirceu Bellato, também ancião da comunidade, complementa: “ele falou que recortes das redes sociais eram ‘comunicados’ pra ele”. Curtidas e manifestações de solidariedade a pastores de outras denominações também teriam sido objeto de comunicados ao presidente da AP por parte de outras instâncias, cujos nomes não foram mencionados. Débora acrescenta, no entanto, que o presidente admitiu não ter averiguado esses comunicados: “ele disse que ouviu, e que quando chega pra ele, ele tem que resolver.”

A despeito da falta de averiguação da parte da AP, Larroca até o momento ‘resolvia’ essas questões conversando diretamente com o Pr. Edson Nunes: “ele afirmou sempre ir conversar com o Edson após receber esses comunicados, e que eles se entendiam”, conta Cibele Maia, diretora do programa Conexão. “Ficava claro que as coisas haviam sido tiradas de contexto, e que não seriam um problema.” Erisson ainda cita alguns casos que, de acordo com Larroca, teriam ocasionado essas conversas com o Pr. Edson, como o caso do Coral Livre, a série “A hora da estrela”, e a música “Juízo Final”, tocada certa vez no fim de uma das programações da comunidade; todos estes pontos, no entanto, teriam sido resolvidos em conversa com Edson. “Ele disse que não acreditava no que dizem as mídias sociais, e que ia ouvir diretamente do pastor suas respostas e justificativas, sendo atendido por Edson em suas demandas institucionais”, acrescenta Erisson. Em um dos casos, Larroca teria pedido a Edson Nunes que se afastasse de suas próprias redes sociais, demanda esta que foi prontamente atendida pelo pastor.

“A questão toda surgia a partir de algum tumulto nas redes sociais com algo relacionado ao Pr. Edson, e alguém ia falar com o Larroca, porque ele mesmo não tinha visto,” acrescenta Cibele. Elizabeth Demétrio, anciã da comunidade, diz que Larroca reiterava que “ama” o Edson, que só estava fazendo aquilo para protegê-lo, e que ia cuidar dele. “Ele elogiou o Pr. Edson Nunes, dizendo que ele foi o que mais pregou Bíblia na Nova Semente, que resolveu a questão financeira e garantiu independência à comunidade, entre outras coisas,” complementa Débora. “Por isso, a remoção de Edson teria sido para protegê-lo, já que ele estava sendo muito atacado.” Elizabeth ainda cita um episódio que, de acordo com Larroca, teria motivado sua remoção: “Edson teria dito a ele que estava para entrar em um burnout, e que ia pedir uma licença. Por isso eles o teriam retirado da Nova Semente para enviá-lo à Andrews.”

A Zelota entrou em contato com o Pr. Edson Nunes para averiguar essa informação. Edson confirmou ter relatado a possibilidade de um burnout ao presidente da AP, mas em outro contexto, uma ocasião anterior às difamações nas redes sociais e às acusações de “problemas teológicos”: “Em 2020, antes dessas crises, eu disse ao Larroca que, segundo a minha terapeuta, eu estava em processo de burnout e deveria entrar de férias, mas eu não podia naquele momento”, explicou o pastor.

Embora em determinados momentos Larroca tenha argumentado ao conselho que retirou Edson da Nova Semente para protegê-lo, as “preocupações teológicas” com o pastor surgiram mais de uma vez como grande motivação para a iniciativa. “Ao falar de enviá-lo para a Andrews, Larroca também comentou que Edson não fizera sua pós-graduação em faculdades institucionais [da IASD], e que seria bom ele ir para a Andrews e voltar mais ‘limpinho’,” conta Débora. Após usar este termo mais de uma vez e ser repreendido por uma membra do conselho, o presidente da AP teria voltado atrás e pedido desculpas, dizendo que era um “modo de falar”.

Tal preocupação já foi comunicada a Edson antes de seu chamado para a Nova Semente, conforme relatado anteriormente por membros da Terceira Margem do Rio à Zelota. Embora tivesse aceitado passar parte de seu pós-doutorado na Andrews, os planos foram cancelados pela própria instituição, que em 2019 cortou o financiamento aos estudos de Edson Nunes e o fez retornar ao Brasil.

O conselho então questionou Larroca a respeito das difamações feitas contra Edson nas redes sociais. “A gente falou que essas difamações de colegas de trabalho, com vídeos recorrentes, nunca seriam aceitas em qualquer empresa do mundo, mas eram aceitas na instituição adventista”, lembra Débora. Sem citar nomes, Larroca respondeu que outros líderes já teriam conversado com um desses influenciadores, que se recusou a retirar os vídeos do canal ou se retratar. “Ele só disse que não voltaria a fazer”, acrescenta Cibele.

O conselho ainda teria levado a carta aberta pela permanência de Edson Nunes, assinada por cerca de 3 mil pessoas, para a reunião. “Ele [Larroca] disse que já tinha ciência, que a recebia com muito carinho, mas que a IASD não trabalhava dessa forma,” conta Rafael. “Ele ainda respondeu que não presidia 3 mil, mas sim 40 mil pessoas,” complementa Débora. Em sua fala, Larroca parece contrapor a membresia da AP, sobre a qual preside, com os membros da IASD que assinaram a carta.

Propostas negadas

Por fim, a Zelota perguntou ao conselho da Nova Semente se este levou à Associação Paulistana alguma proposta de cooperação para solucionar este problema. A primeira proposta teria sido a de Felipe Valente, também membro do conselho: colocar os “pares” de Edson Nunes para assistir todos os sermões e as séries do pastor na Nova Semente, e só então discutir possíveis problemas teológicos. Larroca teria respondido que esta era uma ótima ideia, mas que ela demoraria muito.

“Pedimos então uma nota pública da Associação a respeito dos motivos para a remoção do Edson, de modo a limpar sua honra,” explica Rafael. Larroca teria aceitado a proposta, com a única ressalva de que escrever esta nota levaria tempo, e o conselho se dispôs a ler sua nota pública no púlpito, de modo a apaziguar a situação. Tal cooperação foi por água abaixo, no entanto, com a intervenção de Ronaldo Alberto de Oliveira, secretário da AP que também estava presente na reunião. “Ronaldo disse que não concordava, e que coisas escritas eram muito complicadas”, lembra Cibele. “Ele alegou que essas coisas não deveriam ser resolvidas nas redes sociais.”

A despeito de sua oposição, Ronaldo de Oliveira parece ser um entusiasta das redes sociais, e é uma presença constante no Twitter. Além de acusações contra o que chama de “galera do amor” e ênfases constantes na necessidade de levar a “lei” junto com o “evangelho”, Ronaldo parece especialmente interessado em combater qualquer aproximação com homossexuais que não os rotule imediatamente como pecadores. Em um tweet feito por Rebeca Maluf, estudante da Bíblia de outra denominação, Ronaldo responde a afirmação de que muitos LGBT não escolheram nascer assim com uma frase de efeito: “muitas pessoas tentam justificar seu pecado dizendo que nasceram assim. É por isso que Jesus diz que precisamos nascer de novo.” Em outra ocasião, quando o pastor adventista Tiago Arrais publicou, durante o mês da visibilidade LGBT, uma bandeira do movimento, Ronaldo chama o colega de ministério de “vergonhoso”, acusando-o de “esconder as bandeiras do adventismo e levantar a bandeira LGBT”.

Em resumo, não houve avanços rumo à cooperação e ao apaziguamento na reunião entre o conselho da Nova Semente e a liderança da Associação Paulistana. Todas as propostas para a solução e mediação de um conflito iniciado unilateralmente pela administração da IASD foram rejeitadas, o que resultou na declaração feita pelo conselho da comunidade neste sábado (16). Entre as justificativas pastorais para o impasse, no entanto, vale destacar a usada por Ronaldo de Oliveira — não só porque o secretário apresenta dois pesos e duas medidas no que diz respeito ao uso das redes sociais, mas porque outra coisa escrita, muito mais “complicada”, já estava circulando em instâncias superiores da IASD.

Uma carta em espanhol

Ylana, brasileira de 38 anos que vive no Chile, estava há muitos anos afastada da IASD. Embora tenha crescido na igreja e seu pai seja adventista, discordâncias quanto a doutrinas e práticas da instituição levaram-na a se afastar. Tudo isso mudou, no entanto, quando começou a pandemia: entediada em sua casa em um sábado de manhã, acabou assistindo um culto da Nova Semente, mais especificamente o primeiro sermão de Edson Nunes na série “No Princípio”, sobre o livro de Gênesis. “Quando eu assisti aquilo minha cabeça explodiu”, brinca.

A partir dali, Ylana passou a assistir os cultos da comunidade todos os sábados de forma assídua; eventualmente sua namorada, embora agnóstica, também se interessou, e ambas acompanhavam juntas as programações. Quando a programação se tornou novamente presencial, ambas passaram a frequentar a comunidade esporadicamente, participando dos cultos sempre que vinham de sua casa no Chile para o Brasil. Em conversa com a Zelota, Ylana comenta que ficou impressionada com a receptividade do Pr. Edson: “eu achei que ele seria super inacessível, já que tem tanto alcance e é tão conhecido. Mas ele nos recebeu super bem, e no final de um culto ficou um bom tempo conversando com a gente.”

A reaproximação de Ylana com a IASD, no entanto, foi interrompida bruscamente pela remoção inesperada de Edson Nunes da comunidade. Surpresa e perplexa após a declaração do conselho administrativo da Nova Semente do dia 2 de julho, ela resolveu enviar e-mails para oficiais da IASD em todas as instâncias, com o fim de obter esclarecimentos. “Meu primeiro e-mail foi até meio agressivo. Eu terminei perguntando ‘O que aconteceu? Foi um caso de pedofilia? Ele pegou a secretária? Eu só quero entender o que está acontecendo’”, explica Ylana à Zelota. Seus e-mails foram enviados a pastores da Associação, União, Divisão e da Associação Geral. Entre eles estava Thomas L. Lemon, vice-presidente geral da AG, contactado através de um e-mail pessoal retirado de seu perfil no LinkedIn. Ele foi o único que a respondeu.

Em seu e-mail, Thomas Lemon, que desejava “compartilhar o que descobriu” com Ylana, explica que recebeu uma carta em espanhol do presidente da DSA, Pr. Stanley Arco, através de um contato na AG, que traduziu a carta para o inglês. Segundo esta carta, a Associação só teria removido o pastor após uma “investigação cuidadosa e minuciosa”, e essa investigação teria seguido seus “protocolos e procedimentos de contratação”, determinando a existência de “problemas” com algumas das “posições teológicas” do pastor. A carta ainda afirma que a liderança da igreja local “confirmou esses detalhes” e “concordou” com a decisão da Associação de transferir o pastor. Já o pastor teria escolhido a transferência dentre algumas outras opções.

A Zelota entrou em contato com o Pr. Edson Nunes com o fim de obter esclarecimentos. Edson explicou à revista que só houve uma vez em que foi abordado formalmente para averiguar possíveis preocupações teológicas: após participar com sua ex-orientadora de mestrado e doutorado, a Profa. Suzana Chwarts, de uma aula sobre fundamentalismo no canal ibab Educação, em abril de 2021, Edson foi entrevistado pelo ministerial da AP, Pr. Vicente Pessoa, e o ministerial da União Central Brasileira (UCB), Pr. Edilson Valiante. A motivação para esta reunião foi uma fala de Edson a respeito da noção fundamentalista de infalibilidade bíblica e outra fala a respeito de Raabe, em que Edson sugeriu que o discurso de Raabe, em Josué 2, repleto de ecos e repetições de Êxodo 20, foi construído pelo narrador para melhor expressar a fé da personagem, dado que Raabe ainda não tivera acesso ao que fora escrito por Deus e Moisés no monte Sinai. “Eu respondi as perguntas dos pastores, e o Pr. Valiante compreendeu minhas posições,” relata Edson. “Ao final, me pediram que parasse de indicar livros sobre estudos bíblicos em minhas redes sociais, pois isso poderia ‘causar problemas aos irmãos’, e que eu mantivesse distância de Ed René Kivitz e suas publicações.”

Edson também explica que, em outros casos, só foi abordado informalmente: “O Pr. Larroca me questionou sobre minha fala no podcast de Ed René a respeito do papel da terra em Gênesis 1. Quando o respondi esclarecendo a situação, ele afirmou que este era um assunto delicado que eu não deveria discutir em público, mas reiterei que isso não foi dito em um púlpito, e sim em um podcast.” Ele também foi abordado informalmente pelo presidente da AP após prestar solidariedade pública à Pra. Odja Barros, que sofrera ameaças de morte por ministrar um casamento homoafetivo. “O pastor me pediu informalmente que eu saísse das redes sociais. Saí totalmente por um tempo, e então voltei somente compartilhando conteúdo da Nova Semente,” conta Edson. Ele ainda menciona outro episódio em que foi abordado informalmente, desta vez por Adolfo Suárez, reitor do Seminário Latino-Americano de Teologia (SALT): “Após o primeiro episódio da série ‘A hora da estrela’, recebi uma ligação do Pr. Adolfo me questionando. Eu expliquei o que queria dizer e ele disse que entendeu, mas que eu não fui prudente.”

Em resumo, nenhuma das informações transmitidas pela carta da DSA a Thomas Lemon é verdadeira. Não houve a formação de uma comissão para averiguar imparcialmente possíveis problemas com a teologia de Edson Nunes, dando-lhe espaço ao contraditório e direito de defesa, conforme determina o artigo E 12 10 S dos Regulamentos Eclesiástico-Administrativos (REA). Ainda mais inverídica é a afirmação de que a liderança da comunidade confirmou esses detalhes e concordou com a decisão administrativa. Além de discordar veementemente da decisão da AP, conforme consta na primeira declaração feita pelo conselho da comunidade, e de não enxergar quaisquer problemas teológicos com o Pr. Edson Nunes, a comunidade sequer foi informada da decisão administrativa antes de sua implementação, e consequentemente não teve a chance de concordar ou discordar do veredito enquanto este ainda era discutido.

A atitude de Thomas Lemon neste e-mail demonstra transparência e ética dignas de um pastor: questionado por uma desconhecida a respeito de um assunto em outro continente, o vice-presidente geral buscou se informar com a liderança da referida região para poder explicar e tranquilizar sua interlocutora. Muito menos pode ser dito a respeito da liderança sul-americana, que, questionada por seus superiores, mentiu a respeito dos eventos ocorridos sob sua jurisdição e demonstrou, no mínimo, cumplicidade com as irregularidades cometidas por sua Associação.

E-mail enviado por Thomas Lemon em resposta aos questionamentos de Ylana. Fonte: Print enviado por Ylana à Zelota.

Tradução:

“Prezada Ylana,

Eu quis reservar um momento para te informar o que foi compartilhado comigo a respeito de nossas conversas anteriores via e-mail.
O presidente da Divisão Sul-Americana me enviou uma carta através do meu contato na Associação Geral, que me fez o favor de traduzi-la do espanhol para o inglês. A associação naquela parte de São Paulo só removeu o pastor após uma investigação cuidadosa e minuciosa de acordo com seus procedimentos e protocolos de contratação. Aparentemente havia alguns problemas com as posições teológicas sustentadas pelo pastor. Os líderes da igreja local confirmaram esses detalhes e concordaram com a liderança da Associação em sua ação de transferir o pastor. O pastor tinha algumas opções, mas escolheu a transferência.
Isso sem dúvida não é o que você queria ouvir. Nenhum de nós gosta quando alguém que apreciamos é transferido ou realocado para outro lugar. Mas isso de fato acontece. Embora isso não responda todas as perguntas, me assegura de que isso não foi feito de forma casual ou descuidada.
Eu te desejo tudo de bom em sua jornada de fé, Ylana. Cada dia que passa nos deixa mais próximos do retorno de nosso Senhor, Jesus Cristo.

Atenciosamente,

Thomas Lemon,
Vice-presidente geral
Associação Geral dos Adventistas do Sétimo Dia”

Falando com a voz de Deus

A Zelota compareceu pessoalmente no último dia do Concílio Ministerial da União Central Brasileira (UCB), no dia 20 de julho, com o fim de obter esclarecimentos do Pr. Stanley Arco, presidente da DSA, a respeito da carta. No sermão de encerramento do Concílio, o pastor discorreu a respeito da transferência de pastores entre distritos, usando como exemplo o fim da vida de Moisés, que não foi à Terra Prometida. Tratando a voz da comissão diretiva da Associação, responsável por atribuir o distrito de cada pastor, como a voz de Deus na Terra, Stanley usa exemplos hipotéticos de transferências pastorais, sugerindo que às vezes estava tudo dando certo no distrito, mas “a diretiva é a voz de Deus”, e o pastor deveriam adaptar-se a ela. Ele continua dizendo que algumas pessoas quando são transferidas ficam, em suas palavras, “reativas”.

Questionado pela Zelota, o Pr. Stanley Arco confirmou que “uma carta enviada ao Pr. Tom Lemon chegou a ele como informação”, mas disse que “quem dá a resposta da ação direta do distrito é a Associação Paulistana.” Questionado novamente a respeito da autoria da carta atribuída à DSA, Stanley explicou que Lemon lhe “mandou uma carta, dizendo que uma pessoa entrou em contato com ele” — possivelmente em referência ao e-mail de Ylana — e que a resposta a Lemon foi que esta era uma ação específica da Associação Paulistana. De acordo com o e-mail de Thomas Lemon a Ylana, a carta da DSA de fato afirma que a decisão foi tomada pela Associação; quanto às informações inverídicas que também foram enviadas na carta, no entanto, Stanley pediu que a Zelota conversasse com o Pr. Edson Nunes e com o Pr. Romualdo Larroca.

“Vocês pertencem ao pai de vocês”

A atitude das instâncias superiores da IASD brasileira institucionaliza uma prática antiga: o uso do falso testemunho para a manutenção de uma autoridade. Em João 8, Jesus discorre em alguns versos sobre sua ligação com o Pai, a fim de testificar a veracidade de sua pregação. As classes dominantes em Jerusalém, como de costume, apelavam à tradição e à filiação abraâmica a fim de descredibilizar a mensagem do Cristo e, quando possível, difamar a sua linhagem e a daqueles que o seguiam: “Nós não somos nascidos de fornicação; temos um Pai, que é Deus” (Jo 8.41, ACF). Com essa fala, os opositores pretendiam validar suas pretensões assassinas apelando à filiação divina para, então, justificar seus atos pecaminosos.

O discurso de Cristo contra a arrogância das classes dominantes em Jerusalém — que pretendiam assassinar o Messias em nome de uma autoridade ou ‘ortodoxia abraâmica’ —, foi contundente: “Vós tendes por pai o diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44, ACF). Nesse contexto, fica claro ao leitor a importância da afirmação de uma paternidade, já que esta define o caráter de seus filiados, que propagam as obras daquele que os originou.

Quando a DSA evita a transparência, toma decisões injustificadas, ignora a manifestação de seus membros, desobedece aos próprios regulamentos eclesiásticos e, por fim, mente às instâncias internacionais da IASD sobre o seu procedimento, não apenas age de forma desonesta, mas evidencia muito mais do que “problemas teológicos”. Ela desobedece ao nono mandamento: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo” (Êx 20.16, ACF); e, assim, se associa aos filhos/precursores do homicídio e da mentira. Em momentos como este, a DSA se mostra incapaz de se “firmar na verdade”, satisfaz os desejos de outro pai, e a ele pertence.