Advogado geral da Divisão Sul Americana insiste em relações entre os adventistas e a ANAJURE em prol da abertura das igrejas


A Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) tem sido um oásis no meio religioso brasileiro; suas tentativas de conscientização dos membros quanto à necessidade da vacinação e do isolamento social na pandemia têm sido em muitos aspectos louváveis, e frequentemente a colocam na contramão de um mundo negacionista, pouco preocupado com a vida.

Nessa maré do mundo encontra-se a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (ANAJURE). Seu papel na promoção de agendas reacionárias de algumas lideranças evangélicas brasileiras já era conhecido, e tomou proporções escandalosas na última semana, quando o ministro do Supremo, Kassio Nunes Marques, liberou a realização de cultos em todo o Brasil, em um dos piores momentos da pandemia, acatando ação protocolada pela ANAJURE. A liberação logo foi derrubada em uma plenária com todos os ministros do STF, mas não antes que os propositores da medida, entre eles Uziel Santana, presidente da ANAJURE, defendessem-na com malabarismos jurídicos e teológicos, tratando reuniões presenciais como único exercício legítimo da religiosidade cristã.

 O Advogado Geral da Divisão Sul-Americana (DSA) da IASD, Dr. Luigi Braga, é também Diretor de Compliance da ANAJURE, conforme já relatado pela revista anteriormente. Embora o novo movimento feito pela associação tenha criado contradições irreconciliáveis com as políticas de enfrentamento à pandemia da IASD, o Dr. Luigi, no mesmo dia em que seria feita a plenária do STF, gravou um vídeo justificando não só sua associação à ANAJURE, como também o processo por ela ajuizado. Enquanto seus pares no STF escalavam o discurso e evocavam uma suposta perseguição religiosa perpetrada pelo STF contra os evangélicos, nosso advogado geral tentou contemporizar e amenizar as posições de sua associação, recorrendo a digressões que pouco responderam e nada justificaram.

A Zelota entrou em contato com Luigi Braga para dialogar com o advogado e compreender sua manifestação naquela ocasião, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. O Pr. Rafael Rossi, Diretor de Comunicação da DSA, também contactado, compartilhou o vídeo de Braga em seu perfil no Twitter, e afirmou que não tinha tempo para responder às perguntas da revista e aprofundar a discussão. O Pr. Helio Carnassale, encarregado dos assuntos públicos e da liberdade religiosa na DSA, nos encaminhou de volta ao Departamento de Comunicação. Por isso, faremos publicamente as mesmas perguntas que fizemos aos três no privado:

  • Se o processo foi ajuizado pela ANAJURE no ano passado e visava derrubar decretos que já caíram, conforme afirma Luigi Braga em seu vídeo, por que a insistência da ANAJURE em defendê-lo na plenária da semana passada? A nossa liderança compactua com essa insistência?
  • No vídeo, Luigi Braga dá a entender que os decretos do ano passado eram perigosos, não por restringir a liberdade de culto, mas por fechar as igrejas para outras atividades, como a gravação de cultos e serviços de assistência social. Quais são os interesses da DSA que estão ameaçados atualmente, os quais Luigi está tentando garantir com o processo discutido em plenária semana passada?
  • Na plenária do STF de semana passada, as sustentações orais em defesa do processo ajuizado pela ANAJURE focaram exclusivamente na liberdade litúrgica ou de culto. É interesse prioritário da DSA garantir a liberdade de culto presencial dos seus membros no meio da pandemia?
  • Como bem pontuado pelo vídeo de Luigi Braga, a IASD tem prezado pela segurança de seus membros e priorizado a substituição de cultos presenciais por cultos virtuais. Segundo seus colegas na plenária da semana passada, no entanto, a realização de cultos virtuais não é equivalente a cerimônias presenciais, sem as quais não há liberdade religiosa. Nossa liderança concorda com este posicionamento, endossado inclusive pelo presidente da ANAJURE? A Igreja Adventista tem errado ao recomendar a realização de cultos virtuais para seus membros?

 O silêncio de nossas lideranças frente a esses questionamentos é profundamente perturbador. O Pr. Rafael Rossi, como Diretor de Comunicação, tem encabeçado muitas das iniciativas que encorajam a realização de cultos virtuais na IASD, mas endossou o posicionamento de seu colega advogado; ambos parecem mais preocupados com uma política de boa vizinhança do que com os efeitos nocivos de tais contradições sobre a membresia. Será que a igreja repetirá os mesmos erros do passado e preferirá os favores do mundo a se posicionar contra seus erros? Servimos a Deus, ou à ANAJURE? Seguimos aguardando um posicionamento mais enfático das lideranças que nos representam.