A declaração é publicada no contexto em que a IASD condena a atuação de um pastor bissexual, na Alemanha, enquanto se omite sobre o projeto de lei anti-LGBTQIA+ em Uganda, supostamente ligado a líderes adventistas


Por Alex Aamodt | é o editor digital administrativo e repórter investigativo da Spectrum. Traduzido e adaptado do original em inglês por Félix Rodrigues de Lima para a revista Zelota.

Entrada da sede da Associação Geral da Igreja Adventista do Sétimo Dia (Foto: Brandon Roberts)

No dia 11 de junho, a Associação Geral (AG) da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) publicou sua mais recente declaração abordando a sexualidade humana, dizendo aos membros que os defensores LGBTQIA+ dentro da igreja buscam “minar as claras instruções da Palavra de Deus”.

Na declaração sobre “as atividades patrocinadas localmente que promovem ou apoiam estilos de vida sexuais não-bíblicos”, a AG disse que estava respondendo a “algumas organizações eclesiásticas ou indivíduos a nível local” que nas últimas semanas “têm tentado oferecer apoio àqueles que adotam um estilo de vida alternativo em relação à sexualidade humana, o qual é incompatível com nossa interpretação bíblica sobre o assunto e com as declarações previamente votadas e publicadas pela Igreja Adventista do Sétimo Dia”. A AG não identificou nenhum dos exemplos específicos sendo referenciados.

“A Associação Geral reafirma as declarações votadas sobre a sexualidade humana, a homossexualidade e a transexualidade, publicadas pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, e não apoia, respalda ou aprova atividades que busquem promover comportamentos sexuais que não estejam de acordo com a Palavra de Deus”, afirma a declaração. A AG também faz um chamado à ação para os membros da igreja, sugerindo a eles “buscar a intervenção direta de Deus em situações em que haja desvio de suas instruções divinas”.

Defensores adventistas da comunidade LGBTQIA+ imediatamente denunciaram a declaração. “A declaração mais recente da igreja, que afirma ser baseada em ‘um estudo cuidadoso da Palavra de Deus encontrada nas Sagradas Escrituras’, é, na verdade, uma interpretação errônea da Bíblia, destinada a perpetuar décadas de fanatismo e intolerância religiosa”, escreveu a SDA Kinship International em um comunicado compartilhado nas redes sociais.

A SDA Kinship também criticou a AG por publicar sua declaração às vésperas do aniversário do tiroteio na boate Pulse, um ataque que matou 49 pessoas na boate gay na Flórida em 12 de junho de 2017. O ocorrido continua sendo um dos ataques terroristas e crimes de ódio mais mortíferos da história moderna dos Estados Unidos.

Todd Leonard, pastor sênior da Igreja de Glendale City, na Califórnia, disse à Spectrum que está “triste, mas não surpreso” com esta última declaração. Por e-mail, Leonard disse que espera ver mais retórica semelhante nos próximos anos da atual liderança da AG. “Infelizmente, eles não estão dispostos a abrir espaço para a ciência e a teologia dialogarem sobre esse assunto, a fim de abordar proativamente como melhor servir nossos entes queridos LGBTQIA+”, disse ele.

Embora a AG não tenha nomeado as organizações específicas que acusa de promover pontos de vista sobre a sexualidade que estão fora da política votada, vários pastores e congregações adventistas organizaram eventos relacionados ao Mês do Orgulho LGBTQIAPN+ neste ano. No dia 10 de junho, a Glendale City Church realizou um “sábado do orgulho”, que apresentou um sermão de Leonard sobre aliados e uma discussão sobre o livro UnClobber.

Este ano, conforme coberto pela Spectrum, os defensores da comunidade adventista LGBTQIA+ também criticaram a AG por emitir uma declaração condenando um pastor bissexual na Alemanha, mas não emitir uma declaração — e recusar os pedidos de comentário da Spectrum — sobre a recente aprovação de um severo projeto de lei anti-LGBTQIA+ em Uganda, supostamente conectado com líderes adventistas locais.

“Estou irritado porque a AG escolheu usar seu púlpito intimidador para atacar o pequeno punhado de congregações que tentam mostrar amor, em vez de usar sua plataforma para condenar e corrigir o envolvimento da Igreja Adventista com a legislação extremista anti-LGBTQIA+ em Uganda”, afirmou Leonard.

Além de divulgar declarações, em 2023 a AG também deu outras indicações de que está dedicando mais atenção ao combate do que considera visões incorretas sobre gênero e sexualidade. Durante o Concílio de Primavera da comissão executiva da AG, o presidente Ted Wilson anunciou que uma “Força-Tarefa de Sexualidade Humana” havia sido criada para combater a “teologia aberrante”.

Declarações recentes também mostram que a AG usa repetidamente o termo “estilo de vida” para descrever identidade de gênero e orientação sexual, algo que a Gay & Lesbian Alliance Against Defamation (GLAAD) descreve como um “termo impreciso usado por ativistas anti-LGBTQIA+ para difamar pessoas LGBTQIA+ e implicar, de maneira inverídica, que ser LGBTQIA+ é algo voluntário ou uma ‘escolha’.”

Enquanto a AG continua sugerindo que haverá repercussões para os líderes da igreja que promovem a aceitação LGBTQIA+, Todd Leonard permanece destemido. “O que a igreja global não está disposta a fazer, nós, em nível local, estamos dispostos a fazer por nossa paixão de amar todo o povo de Deus”, disse ele.

Segue abaixo a declaração completa da Associação Geral:

Declaração da Associação Geral sobre as atividades patrocinadas localmente que promovem ou apoiam estilos de vida sexuais não-bíblico

A Igreja Adventista do Sétimo Dia publicou declarações claras em relação à sexualidade humana, a homossexualidade e a transgenerismo. Todas as declarações foram publicadas após um estudo cuidadoso das sagradas escrituras, pois esta fornece a base para compreendermos adequadamente a vontade de Deus em relação a todas as questões enfrentadas pela humanidade, incluindo a sexualidade humana. A partir do nosso estudo da Palavra de Deus, juntamente com a leitura do Espírito de Profecia, constatamos que a sexualidade humana é descrita como uma instituição ordenada pelo céu: o casamento entre um homem e uma mulher. Ao expressar nossa compreensão da vontade de Deus em relação à sexualidade humana, o fizemos com o amor e a compaixão de Cristo, sabendo que todos nós pecamos e estamos destituídos da glória de Deus (Romanos 3:23). Como família eclesiástica, devemos ser uma extensão do amor de Deus por toda a humanidade e apoiar intencionalmente aqueles que lutam contra o pecado em todas as suas formas, ao mesmo tempo em que incentivamos um estilo de vida que esteja em harmonia com a Palavra de Deus. Acreditamos que toda a humanidade pecadora pode ser uma nova criatura em Cristo, conforme indicado em 2 Coríntios 5:17: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo”.
Nas últimas semanas, algumas organizações eclesiásticas ou indivíduos a nível local, em seus respectivos ambientes locais, têm tentado oferecer apoio àqueles que adotam um estilo de vida alternativo em relação à sexualidade humana, o qual é incompatível com nossa interpretação bíblica sobre o assunto e com as declarações previamente votadas e publicadas pela Igreja Adventista do Sétimo Dia. Em alguns casos, tem havido esforços deliberados para promover a causa de estilos de vida de sexualidade alternativos sem levar em consideração a autoridade da Palavra de Deus e os conselhos fornecidos pelo Espírito de Profecia. Embora essas atividades tenham sido realizadas localmente, elas têm recebido ampla divulgação nas redes sociais, criando confusão e preocupação entre os membros da igreja, que têm pedido uma posição clara, porém gentil, por parte dos líderes da igreja em vários níveis.
A Associação Geral reafirma as declarações votadas sobre a sexualidade humana, a homossexualidade e a transexualidade, publicadas pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, e não apoia, respalda ou aprova atividades que busquem promover comportamentos sexuais que não estejam de acordo com a Palavra de Deus. Sob a direção do Espírito Santo, a Associação Geral e suas Divisões continuarão trabalhando com os vários níveis da estrutura de nossa igreja para resolver os problemas que surgirem dessas atividades promovidas localmente, mantendo ao mesmo tempo o amor e a compaixão semelhantes aos de Cristo por todas as pessoas. A Associação Geral e outras entidades da igreja trabalharão diligentemente, de acordo com os preceitos e as instruções da Santa Palavra de Deus, para trazer clareza e resolver os desafios que surgirem. Cada membro da igreja ao redor do mundo deve permanecer próximo da Palavra de Deus em sua vida diária e, por meio de oração fervorosa, buscar a intervenção direta de Deus em situações em que haja desvio de suas instruções divinas expressas na Bíblia e no Espírito de Profecia. Sem dúvida, haverá mais tentativas por parte de vários grupos de minar as claras instruções da Palavra de Deus e as declarações votadas da igreja mundial sobre esses assuntos. Quando as pessoas desejarem compartilhar suas preocupações, devem trabalhar em estreita colaboração com os líderes da igreja local, da Associação, da União ou das instituições, com amor e compaixão semelhantes às de Cristo, para abordar as atividades promovidas localmente que não estejam em harmonia com a Palavra de Deus.

Apeguemo-nos à preciosa Santa Palavra de Deus, a Bíblia, aceitando a justiça justificadora e santificadora de Cristo enquanto esperamos ansiosamente por Sua segunda vinda.