A partir de dissonâncias e possibilidades da corporalidade, a Teologia Queer surge como um método para problematizar a heteronormatividade comum ao cristianismo e à teologia, ampliando o conhecimento sobre Deus e viabilizando sujeitos invisibilizados


Por Genilma Boehler | Teóloga brasileira de tradição metodista. Autora de livros como Quando elas se beijam tudo se transforma e Vitral com teologias feministas e queer. É formada em teologia pela Universidade Metodista de São Paulo, mestra em ciências da religião pela mesma instituição e em teologia pela Pontifícia Universidade Nossa Senhora Assunção, além de doutora em ciências da religião pela Escola Superior de Teologia. Trabalhou na formação de professoras e professores indígenas para educação básica na região do Chaco Paraguaio, foi professora na Universidade Metodista Izabela Hendrix, em Belo Horizonte, no Centro Universitário Metodista em Porto Alegre, e na Universidade Bíblica Latino-americana, em San José (Costa Rica). Atualmente, é docente da Universidade Metodista Unida de Moçambique e missionária da Junta Geral de Ministérios Globais da Igreja Metodista Unida, designada como professora e pesquisadora em teologia na Comunidade Teológica do México. O texto foi traduzido e adaptado do original em espanhol1 por Bruno Reikdal para a revista Zelota.

Jesus Queer (Montagem: Jayder Roger c/ midjourney)

O século 21 segue marcado por movimentos de uma nova geração que já não suporta silenciosamente os ditames impostos pelas sociedades, que, em geral, implantam padrões sociopolíticos e culturais hegemônicos, os quais são, por sua vez, excludentes e contraditórios. O movimento dos Indignados na Espanha,2 que tem seus reflexos em outros países do mundo, é um fenômeno atual que reflete essa consciência coletiva, não passiva, diante do que antes estava naturalizado. Na América Latina, desde o fim dos anos oitenta, com a decadência das ditaduras militares e o avanço de sociedades democráticas, os novos sujeitos de direitos, com toda a sua amplitude de reivindicações sociopolíticas, estão no centro das discussões e agendas políticas. Não é mais possível suportar sociedades que defendem comportamentos hierárquicos e discriminatórios relacionados com as temáticas de gênero, étnico-raciais, religiosas ou de orientação sexual. E é justamente nesse marco evolutivo das sociedades que surgem na academia novas teorias para iluminar novas invenções de ideias e discursos.

Uma das teorias que aparece em meados dos anos noventa é a queer, a qual possibilita um foco inovador para problematizar os processos de normatização e marginalização nas sociedades contemporâneas. É utilizada especialmente no que tange o recorte da corporeidade ao se questionar sobre as implicações teóricas, analíticas e metodológicas envolvidas no estudo das identidades e da corporeidade.

Qual é a origem da teoria queer? Uma das características das sociedades ocidentais que definitivamente não é possível mais aceitar é a cultura homofóbica, que impregna mentalidades e atitudes de desprezo e violência contra a população homossexual. Em todas as sociedades existem termos ofensivos empregados por grupos homofóbicos. Queer é um termo que surge na língua inglesa com esse sentido. Como conceitualizou Guacira Lopes Louro:3 queer pode ser traduzido como algo estranho, até absurdo, excêntrico, raro, extraordinário. Mas o termo também possui um sentido pejorativo com o qual são chamados gays e lésbicas. Um insulto que, para usar o argumento de Judith Butler, tem o poder de uma invocação que é repetida sempre, um insulto que se torna eco e reafirma os gritos de muitos grupos homofóbicos ao longo do tempo, e que, portanto, adquire força, outorgando um lugar de discriminação e miséria a quem o termo é direcionado. De todo modo, como explica Louro,4 esse termo, com todo o peso de sua estranheza, é assumido por uma vertente dos movimentos homossexuais exatamente para caracterizar sua perspectiva de oposição e contestação. Para esse grupo, queer significa se posicionar contra a normatização, de onde quer que ela venha.5

O queer pode se referir a uma rede aberta de possibilidades, lacunas, sobreposições, dissonâncias e ressonâncias, lapsos e excessos de significado quando os elementos constitutivos do gênero de qualquer pessoa, da sexualidade de alguém, não constituem (ou não podem se constituir em) um único significado. Ele desafia e transforma a heteronormatividade, e dirige seus esforços teóricos e analíticos para qualquer tipo de norma. Se vale de conceitos, estratégias e figuras teóricas para apresentar e discutir os caminhos e mudanças paradigmáticas a partir da corporeidade.

A Teologia Queer

A teologia é todo discurso a respeito de Deus e, por conseguinte, é caracterizado pela transitoriedade da própria história das culturas e sociedades. Cabe à teologia, então, exercitar permanentemente a atualização de seu discurso. Portanto, o que é nomeado como Teologia Queer é a atualização do discurso teológico que se utiliza do método desenvolvido nas teorias queer. É uma teologia contemporânea, contextual e que indica um caminho inovador para que a humanidade avance em seu conhecimento sobre Deus.

Isso significa que a Teologia Queer rompe com a ideologia heterossexual, que é estabelecida como padrão universal para a sexualidade predominante na história do cristianismo e da teologia.6 A exigência metodológica consiste em se questionar sobre a experiência heterossexual que modelou a compreensão da teologia e, por sua vez, questionar o papel do teólogo, da teóloga e de sua hermenêutica.7 De acordo com a autora Marcella Althaus-Reid, tal método precisa de coragem e honestidade que vão além do compromisso analítico e crítico com a teoria queer, o que requererá um pensamento não heterossexual e um valor [critério ético] para criticar a teologia heterossexual.8

Althaus-Reid designa a Teologia Queer com outros adjetivos, como “Teologia Indecente” ou “Teologia Torcida”, para a qual esclarece que esse método teológico:

não é somente um exercício negativo, que desconstrói e revela (como revelação e rebeldia) a fragilidade de nosso nomear a Deus. Um nomear imperfeito no meio de uma teologia que é uma caminhada que precisa seguir caminhando. A Teologia Torcida é também uma prática criativa que pode pensar Deus, Cristo e a igreja a partir de outras perspectivas criativas.9

De acordo com a autora:

A Teologia Indecente opera […] como um processo de libertação que consiste simplesmente em pôr em dúvida as tradições dos pressupostos sexuais, processo que ao ser público pode ter implicações em políticas de transformação.10

E mais adiante, acrescenta: “Em teologia, os atos indecentes exigem de nós criatividade para ver o não visto, mas também coragem para denunciar o que não funciona.”11

O renomear a Deus

Em seu livro A Teologia Indecente,12 no capítulo três, o título enfatiza o conteúdo queer com o qual a autora impregna seu discurso teológico: “Cantar obscenidades para a teologia. A teologia como ato sexual”. A continuação de seu discurso aborda os aspectos sexuais da teologia que são confirmados como ideologia, ortodoxia, ortopráxis e ação sexual.13

Com isso, a autora afirma a Teologia Queer, questiona e critica “as forças interpelantes e normativas da teologia patriarcal”14 e, dessa maneira, resgata o direito de assumir uma identidade divina humana15 sem restrições, assim como assumir o direito de renomear a Deus, como teólogos e teólogas queer: “Deus bicha, Deus grande rainha, Deus lésbica, Deus mulher heterossexual que não aceita as construções da heterossexualidade ideal, Deus ambivalente de difícil classificação sexual.”16 O que é assumido é o poder das palavras, da ressignificação a partir dos critérios da sexualidade, ao que Althaus-Reid agrega:

Dizer ‘Deus bicha’ é proclamar não apenas uma sexualidade que foi marginalizada e ridicularizada, mas uma epistemologia diferente e também o desafio de se apropriar positivamente de uma voz que foi usada para desprezar e humilhar a outros.17

Um exemplo da aplicação desse princípio encontramos na poesia que segue, de Hugo Oquendo:18

Jesus, no instante em que no horizonte era descascada a última brasa do sol, depois da missa das seis, baixou do madeiro e entrou no confessionário.
Tomou de debaixo do reclinatório sua maleta de maquiagem para transformar seu rosto empalidecido.
Com uma fita plástica disfarçou seus culhões, e ajustou em seu corpo depilado a calça dourada com lantejoulas que sua mãe lhe havia confeccionado.
Inchou seus seios com duas formas de espuma; dali escondendo a ferida de cachorro de rua em suas costelas, prendeu ao corpete um espartilho preto.
Pendurou sua coroa de espinhos no cabideiro, então penteou sua cabeleira dourada e passou um batom cor escarlate.
Depois de calçar suas botas altas de couro, guardou como amuleto de sorte entre seu peito uma navalha e três camisinhas.
Jesus levantou seu olhar, lançando um grito ao céu com garganta ferida, encomendou seu corpo ao Pai e viveu.
Agora ele, ela, mariposa púrpura que dança nos bastidores, sob os olhos azuis da noite nua, até as seis da manhã, quando acaba sua jornada de pele úmida, será chamada Samanta.
Com sua cabeleira solta, selvagem, carrinho de estrelas livres, seduz os olhares ansiosos do cálice de seu sexo, seu pão e seu vinho.
Hoje, queremos comungar com seu corpo excitado.
Na esquina da avenida, próxima ao semáforo, Samanta foi abordada por uma caminhonete branca, ali novamente foi violada pelo peso da razão sacramentada.
Uma e outra vez foi penetrada com o falo absolutista da verdade heterossexuada.
Seu rosto foi torturado, massacrado foi seu ventre e rasgadas suas costas.
Sua roupa foi repartida.
Foi sorteada sua túnica.
A morte voltou a ter outro orgasmo.
Trinta moedas de prata caíram sobre o tenso pavimento que era mordido pela chuva.
Chuva de água-sangue escorre entre os esgotos da cidade, alimentando o silêncio dos olhos tênues.
Sua maquiagem, serpentina da aurora, se desmanchava em seu rosto fazendo uma aquarela com sua boca machucada. Nem uma só lágrima de seus olhos de gata meia-lua foi derramada, porque pode mais a coragem que a derrota da loucura.
Samanta, ao terceiro dia, depois da missa das seis, ressuscitará, e o carnaval de seu batom não será borrado de sua boca vermelha.

Esse poema ilustra e nos obriga a pensar com outras categorias as representações unívocas e hegemônicas que têm sido dadas a Cristo. Aponta para um novo pressuposto epistemológico, qual seja a corporeidade de uma travesti, um transgênero, um profissional queer, sem se preocupar com coerência.19 Como explica Althaus-Reid, “a coerência e a busca por homogeneidade são preocupações dos impérios que exercitam um poder colonial que reduz o Outro, estranho ou diferente.”20 De acordo com esta autora, a vida é construída de fragmentos e incoerência, e é a partir desse lugar que são buscadas novas referências para o pensar ético e estético da teologia.21

A poesia de Hugo Oquendo brinda vários elementos para pensar a teologia a partir da cruz para os/as marginalizadas. Para Althaus-Reid, “a cruz é um grande conflito de identidade divina onde são desintegradas uma ideologia sacerdotal e um projeto institucional religioso excludente”;22 portanto, se abre para outras possibilidades teológicas. A teologia que emerge a partir da cruz pode, do mesmo modo, se servir dos recursos do círculo hermenêutico da suspeita sexual, para o resgate dos elementos sexuais e eróticos negados pelas teologias tradicionais. De acordo com Althaus-Reid, essa possibilidade teológica inclui não apenas os desejos, mas também os desejos de ordem sexual, os desejos da carne, da luxúria, das secreções, dos beijos, cheiros e obscenidades, da perversão sexual, dos fluidos corporais, dos gays, lésbicas, travestis e transgêneros.23

Com essa linguagem, a Teologia Queer expande o espaço crítico ou culturalmente contraditório do corpo humano.

Finalmente, o que a Teologia Queer faz é resgatar a possibilidade do particular, do fragmento, da fluidez, que dá sentido à comunidade de fé. Segundo Althaus-Reid: “O Cristo heterossexual, o gay, o do lesbianismo, o transgênero e outros não necessitam ser exclusivos, mas devem ser colocados no espaço-tempo da experiência de uma comunidade.”24

Para teologias acostumadas com universalidades e absolutismos, a proposta da Teologia Queer apresenta sérios questionamentos ao status quo das teologias tradicionais.25 Por essa razão, é importante a ruptura com esses códigos teológicos para que o novo ocupe seu lugar. A Teologia Queer questiona, critica e oferece outra modalidade epistemológica para o pensamento teológico e cristológico.26 Para Althaus-Reid, “é uma tarefa hermenêutica e de interpretação a qual nos pede os símbolos mediante o desdobramento de vários níveis de significado sobrepostos […], sempre nos dirige para outra noção escondida jamais vista antes.”27

Apontando para além, a Teologia Queer é profética toda vez que denuncia as raízes da homofobia e possibilita uma nova compreensão da realidade, inaugurando novos sentidos teológicos para a fé cristã. Como, por exemplo, no significado da ressurreição, que como afirma Althaus-Reid: “Não se trata […] da mesma ressurreição dos mortos de suas tumbas e cinzas, mas de abaixo, da gente oprimida que conhece diferentes mortes diariamente: a morte da esperança e dos sonhos, dos direitos, do amor e do desejo.”28

Bibliografia

Althaus-Reid, Marcella. La Teología Indecente: perversiones teológicas en sexo, género y política. Barcelona, Bellatierra, 2005.

Althaus-Reid, Marcella. The queer God. Canadá, Routledge, 2003. Althaus-Reid, Marcella. From Feminist Theology to Indecent Theology: readings on poverty, sexual identity and God. Londres, SCM, 2004. 

Althaus-Reid, Marcella; Isherwood, Lisa. The sexual theologian: essays on sex, God and politics. London, T& T Clark International, 2004. 

Althaus-Reid, Marcella. Liberation Theology and Sexuality. Burlington (EE. UU.), Ashgate, 2006. 

Althaus-Reid, Marcella. “O direito a não ser direita (el derecho a no ser derecha): sobre teologia, Igreja e pornografía”, en: Concilium: Revista Internacional de Teologia (Petrópolis, Vozes), No. 298, pp. 95(671)-104(680) (Mai, 2002). 

Althaus-Reid, Marcella. “De la teología de la liberación feminista a la Teología Torcida”, en: Cardoso, Nancy; Eggert, Edla; Musskopf, André S. (orgs.) A graça do mundo transforma Deus: diálogos latino-americanos com a IX Assembléia do CMI. Porto Alegre, Editora Universitária Metodista, 2006a. 

Althaus-Reid, Marcella. “Maria. Living la vida loca: reflexões sobre os amores ilegais de Deus e a defesa da vida”, en: Ribla (Petrópolis) No. 57 (2007), pp. 80-85. 

Althaus-Reid, Marcella. “Yo soy la desintegración”, en: Eggert, Edla (Org.) [Re] leituras de Frida Kahlo: Por uma ética estética da diversidade machucada. Santa Cruz do Sul, EDUNISC, 2008, pp. 94-100.

Boehler, Genilma. O erótico em Adélia Prado e Marcella Althaus-Reid: uma proposta de diálogo entre poesia e teologia / orientador Rudolf von Sinner. São Leopoldo, EST/PPG, 2010, disponível em: < http://www.dominiopublico.gov.br/ pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=194594> Acceso: junio, 2012.  Butler, Judith. Problemas de Gênero. Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2003. 

Carvalhaes, Claudio. O pobre não tem sexo: a ausência dos discursos de sexualidade na construção da noção de subjetividade na Teologia da Libertação. Disponível em:<http://www.claudiocarvalhaes.com/pt-br/articles-pt-br/o-pobre-nao-temsexo/?lang=pt-br>. Acceso: 10.04.2010. Louro, Lopes. Um corpo estranho: ensaios sobre sexualidade e teoria queer. Belo Horizonte, Autêntica, 2004. 

Oquendo, Hugo. “El verbo se hizo látex”, poema escrito el 01.03.2012, todavía no Publicado. 

Musskopf, André. Via(da)gens teológicas. Intinerários para uma teologia queer no Brasil. São Paulo, Fonte, 2012.

Notas:

1. Texto originalmente publicado pela Revista Pasos, n 155, em 2012, junto ao Departamento Ecuménico de Investigações (San José, Costa Rica), sob o título La visibilización de los sujetos invisibles: el método queer para la Teología. O conteúdo pode ser acessado em: https://www.deicr.org/revista-pasos-p%C3%A1gina-11 .

2. Nota do Tradutor: O movimento dos Indignados eclodiu em 15 de maio de 2011 como uma organização popular mobilizada por meio de redes sociais em vários países europeus, mas liderados especialmente por espanhóis em uma conjuntura de crise econômica e social no país ibérico. A principal bandeira dos Indignados na Espanha era a crítica às políticas de ajustes fiscais e de austeridade em curso. Contudo, também foi acompanhada pela exigência de democracia real e direta, que animou a organização de novos grupos e partidos políticos que rapidamente canalizaram as motivações dos protestos e foram determinantes nas eleições nacionais seguintes.

3. Louro, 2004, p. 38.

4. Idem, p 39.

5. Idem, ibidem.

6. Ver a afirmação de Althus-Reid, 2004, p. 2: “The Queer God [Deus Queer] é um livro sobre essa redescoberta de Deus fora da ideologia heterossexual que prevaleceu na história do cristianismo e da teologia”.

7. Ibidem: “Por queering [estranhamento, esquisitice, viadagem, bichice] teológica, queremos dizer o questionamento deliberado da experiência e pensamento heterossexual que moldou nossa compreensão da teologia, o papel do teólogo e da hermenêutica.”

8. Idem: “Esse processo requer de nós não apenas honestidade e coragem, mas também um engajamento crítico com a teoria Queer, não heterossexual, e [uma] teologia heterossexual crítica”.

9. Althus-Reid, 2006a, p. 68.

10. Althus-Reid, 2005, p. 104.

11. Idem, p. 116.

12. Idem, ibidem.

13. Idem, p. 127.

14. Idem, p. 138.

15. Ver o que afirma Althaus-Reid, 2005, p. 138: “Deve-se ter o direito de dizer não apenas que uma lésbica pode se identificar com Cristo libertador, mas também se deve desconstruir sexualmente a Cristo”.

16. Idem.

17. Idem.

18. Ver de Hugo Oquendo, El verbo se hizo látex [O verbo se fez látex] (poema escrito em 1/3/2021, ainda não publicado).

19. Ver a argumentação de Althaus-Reid, 2008, p. 95: “Tudo [a]o contrário da teologia […] onde a fragmentação de nossos corpos e nossas vidas se transforma dogmaticamente em representações homogêneas. Em teologia, o desintegrado aparece homogeneizado, ainda que a realidade crítica de nossas vidas mostre precisamente o contrário: ali onde mais coerência assumimos, mais fragmentação escondemos. Mas, não era esse o tema da poesia de Bonhoeffer escrita no cárcere depois de sua detenção policial? (Quem sou? […] uma pessoa hoje e outra diferente amanhã? / as duas ao mesmo tempo?…). Não era esse o tema de Tillich, submergido em seus desejos sadomasoquistas enquanto escrevia covardemente ‘A Coragem de Existir’, sem poder refletir honestamente sobre suas próprias desintegrações e fragmentos? Ou Barth vivendo com suas duas mulheres na casa, ao passo que sua Dogmática pontificava o valor sacramental do matrimônio monogâmico heterossexual?”

20. Idem, p. 97.

21. Idem, p. 99.

22. Idem.

23. Carvalhaes, 2010, p. 27.

24. Althaus-Reid, 2005, p. 167.

25. Ver o que afirma Althaus-Reid, 2008, p. 98: “desafia as representações unívocas. Desintegrar modelos hegemônicos de representação”.

26. Althaus-Reid, 2005, p. 167.

27. Idem, p. 170.

28. Idem, p. 175.