16 nov., 2021 | Da redação Zelota

Na penúltima sexta-feira (5), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) participou de anúncios de governo em Castro (PR), acompanhando a entrega de Títulos Fundiários Definitivos e Provisórios, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Durante seu discurso, no qual criticou a ex-presidenta Dilma Rousseff e desejou que a Covid “não mate” Adélio, o presidente vestiu no pescoço um lenço do Clube de Desbravadores da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), com o prendedor de ponta cabeça. O lenço também aparece em seu pescoço numa foto em que o presidente segura uma camiseta com o lema “Deus, Pátria, Família”, popularizado pela Ação Integralista Brasileira.

Em resposta à Zelota, o Pr. Aryel Marques, departamental de Desbravadores e Aventureiros pela União Sul-Brasileira (USB), esclareceu que “quem tomou a iniciativa” de entregar um lenço ao presidente Bolsonaro “não teve maldade e nem tem idade para conhecer o regulamento”, que define claramente quando o uniforme de gala (inclusive o lenço) não poderá ser usado, segundo o Regulamento de Uniformes (2020) do Ministério de Desbravadores e Aventureiros da Divisão Sul-Americana (MDA):

  • Antes de estar inscrito no Clube;
  • Antes da Cerimônia de Admissão em Lenço para Aventureiros e Desbravadores;
  • Quando empenhado em vendas ou campanhas não comunitárias para obter lucro pessoal de natureza comercial ou outros propósitos alheios aos interesses do Clube;
  • Em qualquer tempo ou lugar em que seu uso produza um reflexo negativo e rebaixe a sua dignidade;
  • Quando estiver incompleto;
  • Em passeio particular fora do interesse ou recomendação do Clube; 
  • Em animais de qualquer tipo ou espécie;
  • Em bebês ou crianças fora da idade correspondente a cada Clube.

Segundo o Pr. Aryel, esta ação foi “uma iniciativa individual e não institucional”, num evento político onde “nenhum líder ou membro da diretoria do clube estava presente”. 

Esta não é a primeira vez em que um político recebe um lenço por uma iniciativa individual de um membro do clube de desbravadores. Na primeira abertura do V Campori Sul-Americano, realizado em Barretos (SP) em janeiro de 2019, o governador recém-eleito do estado de São Paulo, João Dória, esteve presente com um lenço de líderes no pescoço, e incentivou os desbravadores a repetirem: “Viva à família! Viva à esperança!” No ano anterior, o então candidato às eleições teve um vídeo vazado em uma orgia com várias garotas de programa, cuja autenticidade permanece em disputa

No dia seguinte à entrega do lenço, após a abertura do Campori, o Pr. Udolcy Zukowski, diretor de Desbravadores e Aventureiros para a Divisão Sul-Americana (DSA), subiu ao palco e se desculpou publicamente pelo lenço colocado em João Doria, afirmando que o engano foi iniciativa individual de um líder de desbravadores. O vídeo disponível no Youtube com o pedido de desculpas foi deletado.

Segundo as declarações oficiais para ambos os casos, a entrega do lenço aos políticos representa uma ação individual, e não possui iniciativa ou incentivo da instituição. Ações dessa natureza podem refletir o posicionamento político majoritário de seus membros. A cidade de Castro, por exemplo, registra uma grande quantidade de votos em Bolsonaro em 2018: 55,53% dos votos no 1º turno, e 67,36% no 2º turno.

No caso de Jair Bolsonaro, entretanto, ainda não houve declaração oficial da IASD.