Uma vez arcebispo, Makarios III se esforçou para mediar o diálogo entre potências estrangeiras e a luta armada pela independência do Chipre


Parte 2 da série “Makarios, o bispo revolucionário do Chipre”. Clique aqui para ler a parte 1.

Makarios, talvez o maior prócer da independência do Chipre, foi chamado de Fidel Castro do Mediterrâneo. Essa designação pode ser fascinante para nós e nos permite descobrir características que são próprias do movimento anticolonial no Chipre do século 20, mas que são capazes de oferecer lições políticas mais amplas. “A barba não faz o filósofo” e também não faz o Fidel Castro, mas aqui estamos falando de líderes carismáticos associados à luta armada e que faziam discursos capazes de abalar as relações internacionais.

O novo arcebispo, Makarios III

Após o falecimento de Makarios II em junho de 1950, o ascendente bispo de Kition, antes Michael Mouskos e agora Makarios, emergiu como uma figura central. Existiu uma pequena oposição liderada por Kiprianos, o bispo de Kyrenia, que buscava mobilizar sentimentos mais extremistas a favor da reunificação com a Grécia, mas em outubro de 1950 Makarios foi eleito o novo arcebispo: Makarios III aparece. O novo arcebispo tinha apenas 37 anos e uma matéria contemporânea do Observer tinha a descrição de um correspondente: um homem bonito, com abundantes cabelos negros, barba aparada e uma voz suave e musical que dispensava artíficios de oratória.1

Os registros mostram que o bispo de Kyrenia renunciou à corrida por falta de apoio político, por não ser adversário para um Makarios que “impactava os cipriotas que não eram próximos da Igreja por sua juventude, sua energia, seu conhecimento e eloquência, e sobretudo por seu magnetismo pessoal”2. Nos próximos anos, o círculo de Kyrenia seria um polo de atração para uma oposição nacionalista a Makarios. 

Notavelmente, durante o governo eclesiástico de Makarios II, a esquerda foi purgada do sistema eclesiástico — o golpe final foi uma decisão tomada pelo Locus Tenens após a morte de Makarios II, determinando que os nomes daqueles “defensores de doutrinas em conflito com a Igreja” fossem riscados das listas de eleitores — o que resultou na sua exclusão do processo eleitoral que elegeu Makarios III. Este último, entretanto, conseguiu angariar apoio político das organizações de direita, que não previam que em um futuro não tão distante Makarios se aproximaria da esquerda que foi isolada nos assuntos eclesiásticos. 

Como líder político, Makarios III percebeu que não podia manter a estratégia do seu antecessor caso sua prioridade fosse a luta anticolonial: a prioridade do método do antecessor era combater o comunismo, mas para combater a Grã-Bretanha era necessário criar uma frente de todos os cipriotas. 

Makarios III se preservou de um envolvimento mais ativo na campanha anticomunista de Makarios II enquanto era bispo, não tendo convicções anticomunistas tão fanáticas, sem hostilidade para com os eleitores do “Partido Progressivo do Povo Trabalhador” (AKEL) ou mesmo algum problema pessoal com a sua direção.3 É justo considerar também que Makarios III ascendeu ao trono de arcebispo em um momento em que a igreja se fortalecia e a esquerda se recompunha de uma sucessão de derrotas — diminuição dos seus resultados eleitorais, o constrangimento por suas negociações com os britânicos e a mudança de sua direção política. Ezekias Papaioannou acabava de assumir como novo secretário-geral do AKEL, com uma posição nacionalista, mas a Igreja preservava sua vantagem nessa questão. 

Uma vez arcebispo, o que Makarios fez? Reforçou sua liderança na igreja elegendo aliados para a posição de bispos em paróquias importantes. Recriou o Conselho Etnárquico e criou uma Assembleia Pan-Cipriota mais ampla. Makarios usou do referendo para reforçar o movimento contra os britânicos. Nesse contexto, também patrocinou a formação de uma organização de jovens — PEON — que protestavam “em nome da bandeira grega” e contra a exibição pública da bandeira britânica, fazendo marchas e espalhando grafites. 

Os britânicos tentaram reforçar o controle sobre a educação secundária na ilha, depois de terem assumido o controle da educação primária nos anos 30, e Makarios liderou uma campanha contrária em defesa do helenismo nas escolas: os britânicos fizeram um sistema no qual escolas com dificuldades financeiras poderiam receber ajuda caso entregassem a administração e o direito de nomear os professores para a autoridade colonial, e a Igreja respondeu colocando mais dinheiro em ginásios gregos para preservar sua autonomia.4

Em suma, Makarios III, desde que assumiu, começou a implementar uma política de unir os cipriotas sob sua liderança para enfrentar os britânicos — ele não se conduziu “discretamente” até surgirem diferenças irreconciliáveis com as autoridades coloniais, pelo contrário. Isso marcou a diferença de Makarios para com seus antecessores e colocou o novo Arcebispo em uma posição de líder político por excelência, tirando a iniciativa da esquerda reunida no AKEL.5

Entre 1950 e 1954 o AKEL estava em crise: o partido tinha adotado uma política de reunificação com a Grécia como prioridade, mas o governo grego tinha acabado de vencer uma guerra civil contra os comunistas. O partido mais uma vez foi abalado por divisões internas, mas sobretudo lidava com o fato de que o arcebispo Makarios III estava tendo mais sucesso em buscar a política que os próprios comunistas consideravam prioridade, que era combater os britânicos.

Durante a guerra civil, o Partido Comunista da Grécia (KKE) tinha vacilado entre assumir uma posição de alinhamento total com os guerrilheiros remanescentes da resistência antifascista, em nome da tomada do poder, e se apresentar apenas como “mediador” interessado em uma transição democrática. Os comunistas no continente também lidavam com as consequências de sua aliança com a frente eslava macedônia apoiada por Tito (líder comunista iugoslavo), o que serviu à propaganda nacionalista de que o partido era um instrumento do expansionismo eslavo.6

Na oscilação mais radical da sua política do período entre 1945 e 1950, os comunistas não participaram das eleições gregas de 1946, a despeito do conselho de Moscou para que o fizessem,7 e assumiram uma direção mais dura para sua frente democrática: a exposição de execuções de membros de outros movimentos envolvidos na resistência afastou uma parte da sociedade grega em 1946,8 e em 1949 houve uma radicalização da política de socialização nos territórios controlados por guerrilheiros, o que implicou em confiscos de propriedades da Igreja Ortodoxa.9 Os comunistas no Chipre puderam observar os acontecimentos dramáticos e refletir sobre sua posição perante a problemática questão nacional.

O próprio Makarios quis enfatizar em seus discursos a fraqueza dos comunistas naquele período: por um lado ele dizia que o movimento de Enosis não era uma conspiração dos comunistas e que uma mudança no status quo da ilha não terminaria com um triunfo comunista, mas por outro parecia também justificar que qualquer preocupação anticomunista na política interna da ilha e da igreja que ele liderava não devia ser prioridade por questão de princípio.10

O triunfo do governo grego contra os comunistas na guerra civil não só impôs uma contradição à defesa comunista da Enosis, como fez a mesma coisa com Makarios a partir do momento em que ele se dirigiu a esse governo grego em busca de apoio. O governo liberal de Venizelos e outros partidos políticos acreditavam que a questão deveria ser resolvida dentro do modelo de “amizade” entre gregos e britânicos, o que implicava em excluir a ONU e não antagonizar os britânicos diretamente.11 Makarios considerou essa posição um insulto e uma traição.12

Venizelos desejava preservar uma tradicional amizade com os britânicos e queria implementar outros interesses estratégicos como o de garantir a participação da Grécia na OTAN, o que fez bancando a entrada dos gregos na Guerra da Coreia. O governo grego já atuava seguindo princípios da Guerra Fria e procurava equilibrar sua relação com a Turquia em função do sistema da OTAN — e os turcos eram contra uma mudança do status quo no Chipre. 

Dessa contradição nasceu a aproximação de Makarios com o movimento nacionalista árabe.13 Parece certo que Makarios desenvolveu admiração pessoal pela luta de independência árabe contra os britânicos e em particular por Gamal Abdel Nasser, mas as próprias condições propiciaram o abraço entre esses movimentos que lutavam contra a dominação ou a tutela da Grã-Bretanha. Makarios fez uma viagem pelo Egito, Líbano e Síria (o Chipre está a 100 km da costa síria) — privilegiando um contato com a comunidade ortodoxa antioquina, claro — e ali reforçou uma estratégia estritamente diplomática: se a Grécia não daria voz para o Chipre na ONU, os Estados árabes cumpririam esse papel. 

Não que esse movimento tenha afastado Makarios da política grega: de fato, ele passou a ser uma figura capaz de prejudicar o governo em Atenas a partir de seus pronunciamentos radiofônicos, como Nasser sacudia a política de todo o mundo árabe com seus pronunciamentos na Sawt al-Arab

Ao colocar os interesses da libertação do Chipre antes dos interesses imediatos da política da Grécia e, em especial, fazer isso em nome da internacionalização da questão do Chipre, Makarios dava continuidade à política iniciada pelo AKEL antes mesmo de se aproximar da esquerda. 

O primeiro passo para a aproximação foi em junho de 1952, quando Makarios convidou a esquerda para participar de uma grande manifestação de massa contra os britânicos. Primeiro Makarios exigiu dos britânicos a realização de um plebiscito oficial para determinar o destino da ilha. Os britânicos recusaram e Makarios pediu em seguida autorização para realizar uma manifestação no estádio de Nicósia, o que também foi recusado. Então Makarios convocou os fiéis através de uma encíclica para comparecerem à igreja de Phaneromeni, em Nicósia. O púlpito serviu como plataforma anticolonial e os comunistas foram bem-vindos para reforçar a massa.14

Em 1948, a Grã Bretanha tentou introduzir um modelo que foi rejeitado pelos gregos e apoiado pelos turcos: governo majoritário para algumas questões administrativas, poder de veto para a minoria turca e para o governador geral britânico;15 defesa, finanças, relações exteriores e lei constitucional na mão dos britânicos. A justificativa do poder colonial era que se tratava de um país de alguma forma imaturo, que demandava uma transição gradual para a democracia.

Makarios III assumiu com um discurso nacionalista mais ousado, prometendo lutar pela liberdade do Chipre, agora munido do resultado do referendo que pediu a reunificação com a Grécia. Nos anos 50, porém, os britânicos dobraram a aposta.

Diplomacia e luta de massas

A condução diplomática da questão do Chipre já foi muito debatida, e talvez suscite interesse pelo papel central da intriga nesse jogo. O lugar já foi chamado de “cemitério de diplomatas”, afinal. Ou talvez, mais do que isso, a intriga seja só mais um elemento dentro de um quadro estético: uma antiga ilha grega, um império colonial que ainda não sabia de sua decadência, um arcebispo carismático, comunistas conspiradores, a ONU como novidade, militares e guerrilheiros. 

É certo que existem momentos históricos que parecem seguir critérios narrativos. Como vimos anteriormente, era a política da Grécia tratar a questão do Chipre diretamente com a Inglaterra, sem envolver a ONU. Afinal, quem envolveu a ONU em primeiro lugar foram os comunistas, e depois foi a Igreja, inimiga dos britânicos. As expectativas gregas encontraram uma surpresa, entretanto. 

Em novembro de 1952, os gregos elegeram um parlamento no qual saiu vitoriosa uma coalizão liderada por Alexandros Papagos, marechal de campo e herói de guerra. Se para muitos o seu mérito era ter combatido os fascistas, para outros seu grande triunfo foi contra as forças lideradas pelos comunistas. No campo das comparações, alguns chamam Papagos de “DeGaulle da Grécia”. Papagos se recusou a endossar um pedido do Chipre à ONU em 1953, crente que teria uma boa conversa com seus parceiros britânicos. Entretanto, quando Papagos encontrou o grande diplomata Anthony Eden — ministro das relações exteriores, arquiteto da política britânica no Oriente Médio e futuro primeiro-ministro — a conversa foi outra. Eden foi duro com seu “parceiro” grego e, provavelmente motivado pelos problemas no Oriente Médio, se mostrou irredutível; o britânico disse que não existia questão cipriota para discutir e foi sarcástico, dizendo que os gregos poderiam pedir Alexandria ou Nova Iorque, “onde têm tantos compatriotas”; isso ofendeu o sentido de honra de Papagos. 

O Chipre se tornaria um bastião ainda mais essencial da projeção britânica no Oriente Médio e Norte da África com o anúncio da evacuação britânica do Suez em 1954  — o próprio Makarios denunciava essa jogada geopolítica.16 Na Câmara dos Comuns em Londres, o ministro de assuntos coloniais Henry Hopkinson respondeu a uma pergunta sobre o Chipre dizendo que em determinadas circunstâncias alguns territórios “nunca” deveriam esperar por sua independência; no mesmo debate, outro oficial pontuou que era preciso considerar os interesses da Turquia.17 Muitos entendem18 que a exigência de mostrar força depois do acordo em Suez vinha da própria política parlamentar, de uma necessidade de aplacar os elementos mais direitistas do Partido Conservador britânico. 

Makarios viajava pelo mundo grego e sua retórica deixava um rastro de revolta popular. A população de Atenas se manifestou, e na ilha de Rodes uma turba atacou o consulado britânico. Isso serviu de base para que os gregos passassem a defender o Chipre na ONU e ideias nacionalistas ganhassem força na elite militar e política da Grécia — se não pela dinâmica ideológica, certamente os elementos de direita não queriam que uma questão como a do Chipre reacendesse os ânimos populares depois de uma vitória contra rebeldes comunistas.

No dia 28 de julho de 1954 os britânicos fizeram uma nova proposta de Constituição, mais restritiva que a de 1948. A estratégia agora era defender sua posição na ONU, então era necessário criar algum tipo de “solução para o Chipre” made in London. Qualquer proposta constitucional feita por mãos britânicas, no entanto, já havia sido reiteradamente recusada pelo Chipre na segunda Assembleia Pan-Cipriota que ocorreu no mesmo mês.. 

Os britânicos haviam endurecido a retórica e também endureceram a repressão, anunciando que a lei de sedição seria aplicada inclusive contra publicações19 — não era necessário se revoltar, mas bastava expressar uma “intenção sediciosa” para ser processado. A imprensa decretou um protesto na forma de suspensão de atividades por uma semana, e os prefeitos comunistas foram se encontrar com Makarios como gesto de unidade contra a repressão colonial,20 o que foi seguido por uma greve geral dos sindicatos de esquerda e de direita por um período de 24 horas.

Esse foi o início de agosto de 1954, e Makarios seguiu mobilizando, viajando pela ilha, falando em congregações pela Enosis e convocando uma nova manifestação massiva em Phaneromeni. Todos os líderes partidários, todos os bispos, líderes sindicais e a massa dos comunistas estavam presentes, além de um parlamentar britânico do Labour simpático à causa, Tom Driberg.21

Makarios fez um discurso denunciando a amizade heleno-britânica, “que sufoca o Chipre”, e convocou os presentes a fazerem um “juramento sagrado” de “desafiar a violência e a tirania” em nome da demanda nacional: “com coragem nós vamos elevar nossa estatura moral acima dos obstáculos pequenos e efêmeros, buscando só uma coisa, singrar para um só objetivo, Enosis e só Enosis”.22

Sem dúvida, Makarios conseguiu passar uma mensagem clara antes que a questão fosse debatida em um comitê da ONU: existia um movimento de massas antibritânico na ilha. Ele também conseguiu influenciar o governo grego para que este apoiasse a demanda do Chipre na ONU, o que em parte também pode ser creditado à inflexibilidade britânica. 

A ONU, porém, não resolveu nada, a organização ainda estava se formando e os países estavam moderando suas expectativas em relação a seu funcionamento. O melhor exemplo disso foi a moção de julho de 1950 que transformou a expedição norte-americana na Coreia em uma missão da ONU: ela passou porque os soviéticos acreditavam que a organização não poderia funcionar sem consenso no Conselho de Segurança e estavam aplicando um boicote (essa posição soviética sobre o mecanismo de consenso também foi expressa durante os anos finais do conflito mundial por Josef Stalin em sua correspondência com os líderes britânico e norte-americano).

O que o comitê da ONU votou no dia 23 de novembro de 1954 foi a inclusão da questão do Chipre na agenda como um problema real — com nove a favor (incluindo a URSS), três contra e três abstenções (incluindo os EUA, que se preocupavam com uma confusão envolvendo membros da OTAN); mas a resolução também considerava que era cedo para chegar a uma conclusão. Makarios apresentou a decisão como uma vitória moral, mas ainda assim as ruas gregas e cipriotas entraram em chamas: eles esperavam algum tipo de salvação do domínio colonial através da ONU, e a falta de resolução alimentou manifestações em que bandeiras norte-americanas foram queimadas junto das britânicas.23 No Chipre foi proclamada outra greve geral, e três jovens foram baleados por tropas britânicas em Limassol.24

Repassem a fórmula: um problema político nacional, reconhecimento internacional desse problema, falta de solução prática e repressão violenta. Pode não ser tão preciso quanto matemática, mas é provável que nessas condições apareça um movimento anticolonial armado, e foi isso que aconteceu no Chipre. 

Política por outros meios: a luta armada e as negociações

Se as condições para o surgimento de um confronto armado não são exatamente matemáticas, estudiosos do conflito e das relações humanas buscam variáveis que podem gerar um confronto. David French considera algumas condições próprias do Chipre nos anos 50: uma força policial colonial tende a não contar com apoio popular, e a força policial do Chipre era relativamente fraca.

Makarios participou da preparação de um movimento armado capaz de aumentar a pressão sobre os britânicos. A Organização Nacional dos Combatentes Cipriotas, conhecida como EOKA, teve sua fundação no final de 1954. Georgios Grivas, oficial do exército grego de origem cipriota que buscava se envolver no movimento de independência desde 1951, seria o seu comandante militar, cabendo a Makarios a liderança política do movimento de independência. 

O retrato de Grivas mostra um homem de bigode cheio e olhar penetrante. Grivas saiu da casa paterna para ser um soldado no exército grego em 1916, com 18 anos, depois de estudar no mesmo ginásio que Makarios. Tornou-se oficial em uma escola militar francesa e lutou na guerra contra a Turquia em 1919. Depois da guerra continuou no exército, estacionado na Grécia continental. Grivas era monarquista, mas não teve um papel importante na conturbada política dos anos 30.

Durante a Segunda Guerra, Grivas lutou na frente albanesa contra os italianos e depois se instalou em Atenas na ocupação, onde conspirou com outros oficiais. Grivas articulou com outros oficiais a chamada “Organização X”, que seria reconhecida pelo governo como parte da resistência em 1951, mas efetivamente não teve importância na resistência, usando-a como um pretexto25 para seu alvo principal que seria combater o comunismo. Até o comando britânico no Cairo, que conduzia operações aliadas na Grécia, não demonstrou interesse inicialmente na organização, que fez alguns atos de sabotagem e repassou informações. Sua organização tinha vínculos com hierarcas da Igreja Ortodoxa: o arcebispo Crysanthos de Atenas e o arcebispo Makarios II do Chipre. O caráter pequeno, quase insignificante e difícil de determinar da organização durante a ocupação mudou nos momentos que seguiram à desocupação, em que a organização espalhou slogans monarquistas por Atenas e começou a mostrar os dentes. Usaram suas armas para bloquear o acesso dos comunistas aos bairros ricos de Atenas e à região do Parthenon.

Quando um governo de unidade nacional envolvendo os comunistas encontrou a ruína ainda em 1944, a Organização X serviu como tropa de choque das forças anticomunistas. Então o governo anunciou a dissolução do ELAS (Ελληνικός Λαϊκός Απελευθερωτικός Στρατός, Exército de Libertação Popular, ligado a uma frente política liderada pelos comunistas), se iniciou uma guerra civil de menores proporções em Atenas, envolvendo combates dos comunistas contra as tropas britânicas e onde atuou a Organização X. O capitão Donald Stott, neozelandês do exército britânico, estabeleceu um protocolo de cooperação do comando britânico no Cairo com a organização,26 e assim foi até os britânicos — junto com grande parte da elite grega — entenderem que a Organização X cumpriu sua função no combate aos comunistas. Grivas tentou a sorte nas eleições parlamentares, mas ao recusar a participação como parceiro menor em uma coalizão com um partido monarquista tradicional, ficou isolado e não conseguiu nada.

Ironicamente, os elementos da Organização X no Chipre (que eram poucos) não se dedicaram à luta anticolonial, mas ofereceram músculos para a política direitista de Makarios II, dedicando-se a confrontos corporais com sindicalistas ligados ao comunismo.27 Nesse plano da guerra civil grega, Grivas cooperou com os britânicos até 1950. Depois disso, se converteria em um símbolo da luta contra os britânicos em sua terra natal.

O envolvimento de Grivas na criação da EOKA pode não ter sido esclarecido perfeitamente, mas é importante constatar que Grivas era o único na organização com experiência militar considerável,28 entre poucos candidatos de origem cipriota. Um grupo de gregos e cipriotas influentes já pressionavam Makarios III pela criação de uma estrutura militar pelo menos desde 1952; Grivas estava entre esses, participando do juramento solene da fundação do grupo (que começou com “Doze Apóstolos”) e, posteriormente, sendo escolhido como comandante militar. Além da experiência, Grivas efetivamente já se dedicava a preparar planos de luta armada e estudava a geografia da ilha com esse propósito desde o final de 1950. A formação da EOKA também contou com a participação de cipriotas exilados na Grécia que já tinham os seus próprios planos de luta armada, liderados pelo médico Ioannis Ioannidis.29

É possível que elementos poderosos em Atenas estivessem interessados em deixar o coronel fora do jogo político e de preferência longe da Grécia, ao mesmo tempo que garantiam que ninguém de esquerda dirigisse essa luta.30 A escolha por parte do próprio arcebispo também pode ser entendida como uma tentativa de aplacar o círculo de Kyrenia, uma forma de lidar com as desconfianças da direita local — Makarios precisava garantir sua liderança, defender sua hegemonia, “navegando o equilíbrio instável das relações de poder com a direita”.31

Generais mais graduados chegaram a recusar envolvimento na luta quando convidados por Grivas e alertaram Makarios sobre o caráter agitado e imprevisível do coronel.32 Por outro lado, para o serviço de segurança britânico MI5, Grivas era um modelo de comandante por ter lucidez ao avaliar situações de campo e dar ordens claras.33

Desde seu início, tornou-se evidente que divergências internas permeavam a estrutura da EOKA. Enquanto Grivas advogava por uma guerra de guerrilhas, planejando ataques a alvos militares e assassinatos seletivos, Makarios mantinha uma visão mais conservadora, preferindo uma campanha de sabotagem aliada às manifestações públicas.34 Uma das principais fontes de atrito entre os dois líderes era a hesitação de Makarios em iniciar ações militares sem coordenação com o governo grego, que, inicialmente, condenava qualquer movimento militar, causando impaciência em Grivas.

Makarios, apesar de ser o organizador inicial da EOKA, não assumiu o papel de comandante militar direto, o que gerou complicações. A relação entre os dois líderes pode ser comparada à metáfora do aprendiz de feiticeiro (como faz Mayes), em que o organizador Makarios desencadeia forças que se tornam difíceis de controlar. Essa dinâmica complexa dentro da EOKA ressaltou as divergências ideológicas e estratégicas que desafiaram a eficácia e unidade da organização durante seus primeiros anos de existência; essas divisões teriam consequências muito mais trágicas anos depois.

Grivas pensava em termos militares: uma campanha militar é violenta por definição e nesse caso buscaria aniquilar as forças britânicas na ilha na medida do possível (sabendo que uma vitória militar absoluta seria impossível, entretanto); Makarios enxergava o processo de organização de um braço armado como algo complementar que serviria para pressionar os britânicos nas negociações diplomáticas. Makarios de fato talvez fosse muito estrito: atingir coisas e não pessoas é uma expectativa ingênua para qualquer um que pretenda iniciar uma guerra — guerras escalam em retaliações, existem elementos que são ligados ao plano do inesperado e ao campo emocional. Grivas, por outro lado, era um exaltado cujas decisões atrapalharam a estratégia política. O arcebispo teve no braço militar uma figura de maior confiança em Andreas Azinas, um dos organizadores da PEON (Organização Nacional da Juventude Cipriota), mas o próprio Azinas se inclinou a uma perspectiva mais militarista do conflito.35

Os preparativos para a luta armada no início de 1955 foram acompanhados por uma maior moderação no tom público de Makarios,36 que de certa forma serviu como uma última tentativa de acerto com os britânicos e efetivamente evitava agitações enquanto Grivas articulava seus contatos na Grécia para receber carregamentos de armas e explosivos. A tentativa de negociação falhou e os britânicos foram surpreendidos pela primeira ação da EOKA no dia primeiro de abril de 1955, que foi uma série de ataques contra prédios da administração colonial. 

Grivas publicou uma declaração que usava o nome de Digenis, referência ao herói épico de um poema bizantino anônimo, Digenis Acritas. O herói lutava contra os invasores árabes do império bizantino e era filho de um emir sírio convertido ao cristianismo com uma mulher grega, daí seu nome “Digenis” (“de duas raças”, duas linhagens) e “Acritas” (guarda de fronteira, fronteiriço). A declaração de Grivas estabelecia uma linha de continuidade que se iniciava nos espartanos em Termópilas, passava pela resistência bizantina, os movimentos nacionais antiotomanos e terminava na luta de independência do Chipre. Os ataques — sobretudo bombas arremessadas contra veículos e prédios militares britânicos — pararam no dia 4 de abril a pedido do arcebispo. A rádio oficial da Grécia se posicionou contra os ataques, mas a declaração inicial do grupo armado causou sensação no Chipre e foi espalhada por estudantes. Na frente repressiva, Harding respondeu com uma medida para facilitar a realização de detenções e alguns professores escolares foram deportados, o que foi denunciado pela EOKA como “terror hitlerista”.37

Foi também em 1955 que Makarios reforçou sua posição de membro de um grande movimento anticolonial participando da Conferência de Bandung, que fundou o Movimento Não-Alinhado, passando antes pelo Líbano e pelo Egito, onde encontrou seu amigo Gamal Abdel Nasser. Depois da conferência ele teria novos encontros com Nasser, Nehru da Índia e Sukarmo da Indonésia. Essa retórica colocava uma nova dimensão na luta nacional cipriota, distinta dos discursos que enfatizavam temas mais nacionalistas a respeito da história e da particularidade dos gregos. Ao mesmo tempo, sua figura se consolidou na opinião pública grega como a de um herói. Enquanto Makarios tentava forjar suas próprias armas, o governo grego acreditava agora que seria possível atingir seus objetivos apelando para a OTAN, o que não agradava Makarios — o arcebispo entendia que isso só faria sentido caso o governo grego a pressionar com a ameaça de deixar a OTAN, ainda que temporariamente.38

Em 1955 a história de Cuba também se desenrolava: Fidel Castro preparava sua própria luta armada contra o regime de Fulgencio Batista em Cuba. Na história do movimento revolucionário cubano também houve problemas de direção política associados à luta armada, a conhecida divisão entre o llano (a planície, o aparato político urbano) e a sierra (a serra, o exército revolucionário). O problema não era só definir a direção política, conduzir negociações ou a capacidade de emitir comunicados oficiais, mas a tendência de alguns elementos urbanos de adotar táticas voltadas ao terrorismo individual ou abrir frentes independentes. Fidel Castro conseguiu concentrar a direção política e militar apesar de forças contrárias no aparato urbano do Movimento Revolucionário 26 de Julho e depois no Diretório Revolucionário 13 de Março; o arcebispo Makarios corria o risco de perder o comando centralizado do seu movimento, entretanto. De toda forma, no que diz respeito ao paralelo entre Castro e Makarios, é notável que anos mais tarde o líder cubano viria a ser o Presidente do Movimento Não-Alinhado fundado em Bandung.

Além da relação conturbada com seu comandante militar, Makarios também teve que observar os comunistas se posicionando publicamente contra a EOKA, e eventualmente o líder comunista grego Nikos Zachariades (exilado) denunciou a identidade do “comandante Digenis” em uma transmissão de rádio. Para os comunistas aquilo era uma obra de um direitista perigoso que fazia “o jogo dos britânicos”, e os ataques serviriam para justificar a repressão contra a esquerda; ocorreu uma denúncia política, que foi reforçada em 1955 mas com algumas ressalvas (“erros foram cometidos em nossa oposição à EOKA”).39 Não obstante o ataque contra a EOKA, o AKEL também se colocava contra as negociações de Makarios com as autoridades coloniais.

Pela lógica dos britânicos, o alto perfil de Makarios e o fato de estarem em negociações com ele tornava a repressão contra membros da igreja uma opção perigosa, mas Harding decretou estado de emergência em novembro, e no dia 13 de dezembro de 1955 optou por usar sua mão dura contra a esquerda. O AKEL, sua organização de juventude (AON,  Ανορθωτική Οργάνωση Νέων), sua união sindical agrária (EAK, Ένωση Αγροτών Κύπρου), os jornais Novo Democrata e Independente, foram proscritos. Os prefeitos de Limassol, Larnaca, o vice-prefeito de Famagusta e líderes sindicais foram presos.40 Makarios não se intimidou com o exemplo e nem titubeou por se tratar dos comunistas: o arcebispo condenou duramente a repressão britânica e o estado de emergência.

Enquanto isso, a EOKA preparou novas ações. No dia 15 de dezembro, um grupo de militantes fez uma emboscada contra uma patrulha britânica em uma estrada para Nicósia; dentre eles estava Charamlambos Mouskos, então com 23 anos, que foi o primeiro soldado da EOKA a morrer em ação. Ele fazia parte de um grupo que tinha sido preso nas ações de abril mas que conseguiu escapar da prisão para criar uma unidade guerrilheira nas montanhas, liderada por Markos Drakos, que nasceu no mesmo ano que Mouskos. Ambos militavam na PEON. Mouskos era primo do arcebispo e trabalhava como diretor da gráfica da arquidiocese.

A morte de Mouskos causou grande comoção e seu caixão foi saudado em vários vilarejos até chegar ao local do velório, onde se juntou uma multidão. Os britânicos decretaram que não aceitariam uma procissão para o cemitério que tivesse alguém além dos familiares, aviso que foi ignorado pelas massas e resultou em repressão violenta.41 Makarios protestou com Harding, que agora lidava com uma reação negativa à sua onda repressiva e a imagem de um grande protesto público celebrando um combatente da EOKA como mártir.

O arcebispo deve ter considerado que aquele momento era uma oportunidade para pressionar por um acordo. Em janeiro de 1956 se encontrou com Grivas em um monastério para discutir o assunto e o militar se mostrou insatisfeito; posteriormente, de acordo com as memórias do próprio Grivas, ele comunicou a Makarios que só aceitaria depor armas se os britânicos oferecessem anistia geral, retirassem todas as tropas que foram colocadas após a declaração do estado de emergência e que a segurança interna saísse do controle britânico.42 Quer dizer, por mais que Grivas dependesse de Makarios em aspectos políticos e de articulação, agora o coronel tentava transformar o arcebispo em refém do seu apoio.

Aqui o timing foi quebrado pela falta de articulação entre os dois líderes:43 a luta armada serviu para colocar os britânicos na mesa para negociar, mas Grivas, com sua inflexibilidade, impediu que a oportunidade fosse desfrutada por Makarios. Makarios queria um líder militar profissional para comandar o braço armado do movimento, mas ao escolher Grivas por esse critério subestimou problemas que o coronel poderia trazer por sua visão política e personalidade.

No Conselho Etnárquico, Makarios tentava convencer seus conselheiros de que existia uma via prática a seguir através do autogoverno, o que colocava o arcebispo em oposição ao grupo de Kyrenia, que insistia no slogan Enosis e somente Enosis”. No fim, Makarios conseguiu o consentimento do Conselho em prol de um acordo, apesar da oposição do bispo Kyprianos de Kyrenia. Quando consultou lideranças de esquerda nos sindicatos e nas prefeituras, elas se negaram a contribuir, expressando somente sua oposição — se preservaram do custo político do acordo. Ou seja, o arcebispo buscaria um acordo com os britânicos apesar da oposição de Grivas, Kyprianos e das lideranças de esquerda.

Makarios possivelmente temia que um prolongamento da luta e um fracasso em extrair concessões dos britânicos pudessem passar a direção do movimento político para as mãos do comandante militar, Grivas.44 As conversas de Makarios com o governador Harding em 1955 mostraram algum avanço, mas travaram: os britânicos se comprometeram com uma autodeterminação “eventual”, mas o texto do documento proposto fazia menção a “condições políticas” e “alianças” que Makarios entendia como impeditivos por implicarem em vetos da Turquia. O arcebispo queria uma previsão temporal, mesmo que distante, ao mesmo tempo que não desejava ceder fazendo declarações contra a violência. Makarios exigia uma anistia para prisioneiros e a suspensão de penas de morte para membros da EOKA, mas Harding também não cedia por medo dos impactos que isso teria na opinião pública e no moral de suas tropas. Nessas negociações também foi retomada a discussão sobre uma nova constituição.

A última fase das negociações foi em fevereiro de 1956. Grivas a princípio atendeu às ordens de Makarios por um cessar-fogo,45 mas no final de fevereiro bombas explodiram em Nicosia, coincidindo com as negociações. Até hoje não se sabe o autor: alguns acusam Grivas, enquanto defensores da EOKA dizem que pode ter sido a inteligência britânica ou mesmo os comunistas; Assos diz que é improvável que fosse obra dos comunistas e que talvez fosse Grivas com “boas intenções”.46 Com o fim das negociações, Harding decidiu que o caminho era tomar uma medida drástica: deportar Makarios.

Podemos dizer que, depois das ações da EOKA, Makarios teve sucesso em conseguir ouvidos mais atentos e disposição de negociar do governador-geral britânico, que queria resolver a questão da violência o mais rápido possível, porém um acordo não foi alcançado. O arcebispo registrou sua insatisfação para os britânicos, mas além dele contavam também os elementos de extrema-direita e da esquerda (o AKEL), que não estavam contentes com a própria ideia de negociações — essas posições políticas que ele mesmo incentivou com o “juramento pela Enosis”.47

Apesar desse claro reconhecimento de sua posição como uma contraparte oficial dos britânicos, Makarios foi alvo de uma punição como se fosse um criminoso. Os britânicos decidiram deportar o arcebispo para mostrar força depois do fracasso das negociações. Ele claramente sabia desse risco, pois havia se referido publicamente a ele em um discurso no monastério de Trooditisa: “não tememos a deportação ou a prisão”.48 Assos aponta49 que o secretário de assuntos coloniais britânico alertou Harding: se Makarios fosse deportado, ele voltaria como chefe de Estado. Ele tinha razão, mas para um setor mais linha dura da política externa britânica era preciso fazer alguma coisa contra alguma personalidade, pois eram personalidades que estavam constrangendo a política britânica no Oriente Médio: Nasser, o rei Hussein da Jordânia e Makarios.50 Só Makarios estava ao alcance das autoridades britânicas.

Makarios foi deportado para as ilhas Seychelles. O padre Papastavros, responsável pela igreja Phaneromeni, foi deportado junto de Makarios, e Kyprianos, bispo de Kyrenia, foi deportado com seu secretário em seguida.51 O período do exílio em Seychelles foi um período de intensificação dos conflitos internos do arcebispo em relação ao uso da violência.52 O oficial britânico responsável por recebê-los em uma “mansão de visitas” narrou a chegada dos exilados como a aparição de figuras orientais, antigas, com o corpo alto de Makarios contrastando com a formação baixa, porém forte de Kyprianos;53 Makarios era um homem gracioso e os outros eram taciturnos. O arcebispo também gostava de praticar exercícios físicos com o padre Papastavros.

O biógrafo de Makarios, Stanley Mayes, considera54 que a deportação foi um grande erro que aprofundou e expôs os britânicos à novas humilhações. No plano político, os britânicos tentaram oferecer uma nova resolução para o problema do Chipre sem Makarios no final de 1956, repetindo o teor do que foi tentado em 1948: garantias para os turcos, liberalismo para os gregos e poder de verdade na mão do Governador-Geral britânico, que além de controlar as funções executivas tinha poder de veto legislativo. O responsável pela proposta foi o lord Radcliffe, responsável pela partição da Índia em 1948 (que estabeleceu a fronteira entre os estados indiano e paquistanês). Radcliffe não achava razoável particionar o Chipre entre duas comunidades, sendo uma de 80% e a outra de 18% da população (o restante composto por minorias como os libaneses).

No Chipre, o governo geral apertou o estado de emergência. Se os britânicos pretendiam que a violência diminuísse com essa medida, o efeito foi o contrário: a resposta imediata de Grivas foi uma onda de ataques. A deportação de Makarios permitiu que o coronel atuasse com mais liberdade, e isso ampliou as divisões entre ambos.55 Na troca violenta do confronto, Grivas respondeu à execução de dois militantes na semana da Páscoa com o fuzilamento de dois soldados britânicos que a EOKA mantinha como prisioneiros.56

A EOKA assumiu a vanguarda da luta de independência; apesar de Grivas não ter se convertido publicamente em uma personalidade de proa, o vazio político permitiu que uma frente civil da EOKA ganhasse maior projeção. Do ponto de vista militar a organização sofreu sérios reveses, e boa parte dos documentos de Grivas foram capturados, inclusive seus diários que hoje estão publicados — o coronel era um “diarista compulsivo e mantinha um registro meticuloso dos assuntos do dia-a-dia”.57 Grivas recebia orientações do consulado grego, que em 1957 pedia o cessar das hostilidades, ao que Grivas respondeu publicando um manifesto dizendo que um cessar-fogo seria possível com a libertação do etnarca Makarios.

O coronel em pessoa quase foi capturado algumas vezes durante a ofensiva britânica nas florestas de Troodos, na região do monastério de Kykko. O mosteiro, que tinha sido utilizado como base suprimentos para os guerrilheiros, foi tomado por tropas britânicas, que usaram o lugar como base para uma ofensiva ampla na região, onde se escondia Grivas; a floresta chegou a ser incendiada durante a caçada.58 Foi essa ofensiva que forçou Grivas a se esconder no subúrbio de Nicósia, declarar uma trégua e repensar sua estratégia (que se voltou da guerra de guerrilhas para mais ações de assassinato seletivo), ainda mais depois de ter seus documentos capturados.

O arcebispo se recusou a negociar o Chipre enquanto estava privado de liberdade, e os britânicos não conseguiram fazer com que ele condenasse ações terroristas (condição para sua libertação). Makarios foi libertado de Seychelles em 1957, mas ainda não podia voltar para o Chipre, permanecendo efetivamente exilado. Sua articulação se concentrou então na Grécia, de onde denunciou a tortura de prisioneiros gregos nas mãos das autoridades britânicas. Antes de chegar em Atenas, Makarios escreveu para Grivas pedindo um “clima de paz” e questionando sobre a luta armada ainda ser pertinente; no mesmo momento um representante do governo grego também tentou convencer Grivas, que reagiu negativamente ao que eram tentativas de tirá-lo do Chipre e mandá-lo para a Grécia59 — o maior jornal do país, Phileleftheros, chegou a sugerir que se Grivas saísse, Makarios poderia voltar. O coronel desejava manter a luta armada e tentava assumir a direção política do processo controlando a dinâmica no campo, porém aceitou e na maior parte do tempo respeitou um cessar-fogo entre março e setembro.

A libertação de Makarios de fato refletiu pelo menos uma tendência para negociações por parte dos britânicos, que mostravam cada vez mais disposição em prol da autodeterminação. Membros da diplomacia grega e o próprio Makarios enxergavam uma oportunidade aí, e em cartas enviadas por volta de julho de 1957 diplomatas gregos diziam para Grivas que o arcebispo contemplava a independência como uma fase para a Enosis; no mesmo mês Makarios declarou publicamente no jornal Eleftheria que aceitava negociar uma independência “verdadeira”. O coronel tentava argumentar que os britânicos nunca cederiam, mas mais tarde em suas memórias disse que a declaração de Makarios foi um recuo ilegítimo por não ter sido autorizada pela assembleia nacional do Chipre.60

O problema de Makarios para controlar seu comandante crescia61 e em agosto de 1957, bem como no verão de 1958, ocorreram ataques contra membros do AKEL acusados de traição.62 A carta que ele mandou para Makarios recusando-se a abandonar a luta armada citava, dentre outros motivos, o medo de que “o AKEL assumisse a luta no interesse do comunismo internacional”.63

A organização de esquerda tinha mudado sua linha em relação à EOKA em 1957, adotando uma posição mais “compreensiva” e sem considerar o movimento armado uma provocação britânica, porém continuavam críticos. Em 1956, Grivas tinha publicado uma declaração conclamando os “esquerdistas honestos” a aderir à Enosis acima de tudo e se juntar à sua insurgência.64 Com uma tentativa de aproximação agressiva no plano político, o AKEL exigia como contraparte do seu apoio que tivesse um lugar ao lado de Makarios na mesa de negociações (esse lugar seria ocupado pelos prefeitos eleitos). Grivas orientou aos membros da EOKA que recusassem assistência dos comunistas; segundo relatórios da inteligência britânica, dirigentes do AKEL ameaçaram a organização de revelar tudo que sabiam para as autoridades caso os guerrilheiros não cooperassem nos seus termos, o que provocou uma retaliação violenta por parte da EOKA.65 O arcebispo ressentiu essa cizânia, especialmente por ela ter acontecido em um período em que os turcos intensificaram sua própria campanha organizativa.

De toda forma, essa divisão pode ser lida no contexto da estratégia britânica que pretendia afastar Makarios do cotidiano da ilha, isolando-o em relação à EOKA.66 Só que isso gerou o resultado inesperado de deixar Makarios mais agressivo em sua estratégia independente na ONU, e o arcebispo, a partir de 1957, assumiu um tom abertamente crítico também em relação aos Estados Unidos. Afastar Makarios da EOKA e do governo grego serviu para libertá-lo de certas limitações, como o fato de que o governo grego se convertia em um aliado fiel dos EUA na Guerra Fria e os EUA tinham o interesse ativo de controlar a questão do Chipre de acordo com os interesses da Turquia (outro membro da OTAN).

Em setembro de 1957, uma campanha conjunta do governo grego com Makarios que denunciava a violência britânica enquanto dava abertura para a autodeterminação da ilha colocou o Chipre de novo na agenda da ONU. Apesar da oposição discreta dos Estados Unidos, o arcebispo foi extremamente ativo durante o encontro da ONU em Nova Iorque, dando várias entrevistas televisivas e tratando com delegações do mundo todo.67 No mês seguinte, Grivas também deu as caras depois de seis meses sem atacar os britânicos, com uma série de ações que incluíram a explosão de cinco aviões militares na base da Royal Air Force.68

No jogo de expectativas e reações, a Turquia recebeu negativamente a notícia da libertação de Makarios, como um sinal de uma virada pró-helênica na política britânica (mesmo que não fosse o caso).69 Foi em 1957 que a Turquia começou a tomar uma posição mais ativa em relação ao Chipre, para além do mero endosso da política britânica que sustentaram até então.70 Os próprios britânicos contribuíram com isso ao colocar a Turquia nas negociações internacionais (depois que aceitaram a internacionalização da questão do Chipre) e ameaçar Makarios dizendo que poderiam abandonar a ilha e simplesmente propor sua partição, o que implicaria em uma invasão turca. 

O fator turco e a resposta britânica

A questão do Chipre não despertou só o interesse dos dirigentes da Turquia, mas da opinião pública turca — afinal, não podemos nos esquecer de que a comunidade turca chegava a quase 20% da população da ilha cipriota. Da mesma forma que Makarios viajou para a Grécia, o médico turco-cipriota Fazil Kuçuk se dirigiu para a Turquia, discursando diante de multidões exigindo a partição da ilha (entre turcos e gregos).

Em 1955 a Grã-Bretanha organizou a Conferência Tripartite com o propósito de envolver os turcos mais diretamente na questão do Chipre, para criar um impasse inevitável entre gregos e turcos, o que frustraria ou atrasaria os esforços de Makarios na ONU, assim como inclinaria os Estados Unidos para uma posição mais distante dos gregos. Naquele momento os turcos deixaram claro que sua posição era contrária não só à Enosis, mas aos esforços por autodeterminação, que consideravam uma violação dos termos Tratado de Lausanne71 — qualquer mudança no status deveria reverter a soberania da ilha para a Turquia.72

Durante a conferência, uma bomba explodiu no consulado turco em Salônica, ao lado da casa onde nasceu Ataturk (o fundador da Turquia moderna); no dia seguinte manifestações eclodiram na Turquia, em Izmir e Istambul, declarando que o “Chipre é turco”. Sobretudo em Istambul, as manifestações se converteram em pogroms contra a comunidade grega, que viu suas propriedades sendo destruídas e queimadas. Entre as igrejas ortodoxas, 29 foram completamente destruídas, um monge foi queimado vivo e uma tumba foi violada.73 Mais tarde ficou demonstrado que o atentado em Salonica foi obra de agentes provocadores da Turquia e, em 1960, o primeiro-ministro Adnan Menderes e o ministro das relações exteriores foram acusados de ser responsáveis pelo acontecimento em um tribunal realizado após o golpe militar de 27 de maio (ambos foram condenados e executados).

No Chipre, Fazil Kuçuk era o líder indiscutível da comunidade turca, tendo se formado em medicina na Turquia, defendido os direitos da sua minoria étnica e liderado uma campanha de sucesso para que os britânicos devolvessem o controle do fundo religioso (Waqf) para os muçulmanos da ilha. Nos anos 50 virou líder da oposição à Enosis. Em 3 de junho de 1957, os vereadores turcos em cidades cipriotas renunciaram em massa como parte de uma campanha pedindo a partição do país.74

A comunidade turca queria preservar sua identidade e autonomia política. Existia um fenômeno chamado de “Síndrome de Creta”, em referência à perseguição que a minoria muçulmana sofreu da maioria grega na ilha cretense até ser expulsa nas “trocas de populações” estabelecidas entre a Grécia e a Turquia depois do Tratado de Lausanne. 

A Turquia e seus aliados no Chipre começaram sua campanha em 1957 de forma reativa à organização dos gregos e outros acontecimentos na política global. Eles antecipavam a vitória do partido Labour nas eleições britânicas, que se dizia favorável à autodeterminação e crítico da partição do Chipre; também receberam mal a nomeação de Hugh Foot como governador-geral do Chipre devido à sua reputação de liberal.75

Foot tinha uma visão de pacificação do Chipre através de uma abordagem liberal que incluiria Makarios, abolindo medidas de emergência, libertando presos e adotando um período de sete anos de autogoverno (ainda subordinado à Grã-Bretanha), mas a Turquia e os políticos turcos no Chipre fizeram forte oposição ao plano;76 naquele momento o governo turco já reivindicava a criação de um enclave militar na ilha. Tal oposição era grave para a estratégia britânica na ilha, que considerava o apoio da comunidade turca imprescindível por ela constituir uma parte desproporcionalmente grande da força policial do Chipre.77

Em um encontro com representantes britânicos na conferência do Pacto de Bagdá, o primeiro-ministro da Turquia (Menderes) e o ministro das relações exteriores (Zorlu) manifestaram seu descontentamento, exigiram uma partição e garantiram que manifestações violentas abalassem a comunidade turca do Chipre ao mesmo tempo.78

A violência da EOKA contra forças policiais, muitas vezes formadas por turcos ou situadas em bairros turcos, adicionou um elemento de violência à efervescência separatista. Jovens turcos começaram a se armar,79 dando origem ao grupo armado TMT (Türk Mukavemet Teşkilat, Movimento de Resistência Turca),80 que renunciava ao domínio britânico e falava da impossibilidade de se conviver com os gregos, condenando a cooperação com o governo sob o lema “partição ou morte”, além de se proclamar contra a ideia de autodeterminação da ilha.81 A organização era controlada pelo “Estado profundo” dos militares turcos82 e praticou ações violentas de intimidação contra esquerdistas da comunidade turca.

O grupo tinha origem em outra associação clandestina conhecida como Volkan. Ainda antes do TMT vir a público, uma bomba explodiu no Times of Cyprus, que era simpático à luta pela Enosis. O anúncio do TMT foi feito enquanto Makarios denunciava formalmente a violência britânica na ONU.

Rauf Denktash, que teve sua formação secundária na The English School de Nicósia e foi educado como advogado em Londres (para depois atuar como procurador da Coroa no Chipre), é reconhecido geralmente como o principal líder da organização, e veio a ser mais tarde o primeiro presidente do Estado separatista turco do Chipre do Norte. O estado-maior das Forças Armadas da Turquia teria assumido o controle da organização em 1958, primeiro através de um general especialista em guerra móvel e irregular, Danis Karabelen; depois foram enviados 11 oficiais turcos para o Chipre, a maioria da reserva, mas dentre eles o coronel Riza Vuruskan.83

Uma bomba explodiu no birô de informação do governo turco em Nicósia em junho de 1958, o que fez estourar uma revolta dos turcos cipriotas que incendiaram propriedades de gregos, causando um conflito intercomunal que deixou dois gregos mortos; anos mais tarde Rauf Denktash confessou que a bomba foi plantada por agentes turcos como uma provocação.84 Os britânicos estabeleceram um toque de recolher em Nicósia e dividiram a cidade em duas através de uma “linha verde”.

A partição não era uma proposta simples, pois “os turcos cipriotas não eram a maioria em nenhuma parte geográfica substancial da ilha” e a “partição em linhas étnicas exigiria um deslocamento forçado de populações através de fronteiras superficiais”;85 o próprio lord Radcliffe declarou claramente que não existia padrão de separação territorial entre as duas comunidades.86 Por fim, os britânicos temiam que impor uma solução de partição geraria uma guerra civil na ilha.87 Makarios tentou uma abordagem conciliadora, buscando negociar com a Turquia no início de 1958, mas o fracasso da tentativa de aproximação fez com que ele revertesse para uma retórica que identificava um consórcio de interesses anglo-turcos.88

O posicionamento de Radcliffe respondia a demandas que eram colocadas na própria política britânica, visto que o “Plano Macmillan” que o primeiro-ministro conservador Harold Macmillan apresentou para a Câmara dos Comuns em junho de 1958 previa uma transição do poder britânico para um condomínio entre a Grécia e a Turquia.89

Turcos cipriotas começaram o que Assos chamou de “limpeza étnica embrionária”.90 Os turcos cipriotas tomaram à força os mercados municipais intercomunais de Limassol e Nicósia, expulsando negociantes gregos e eventualmente limitando que a comunidade grega frequentasse o local. Os turcos começaram a se segregar, delimitando as áreas públicas e seus bairros, expulsando gregos dos subúrbios de Omorphita em Nicósia e Ayios Antonios em Limassol.91 Efetivamente esses movimentos eram estimulados pelo TMT como parte de sua estratégia de separação do norte do país. 

Makarios era contra ações dirigidas aos turcos, mas queria ações imediatas de defesa contra ataques, o que Grivas não considerava realista do ponto de vista da execução: era difícil circular nas zonas urbanas, a polícia cipriota se concentrava na perseguição da comunidade grega e os ataques turcos eram imprevisíveis.92

Por mais que existisse uma coincidência de interesses geopolíticos entre a Turquia e a Grã-Bretanha, Makarios e a EOKA subestimaram um aspecto da dinâmica da violência que engajava a população turca, reduzindo o problema à manipulação externa. Mesmo que a EOKA não atacasse turcos por sua etnia, a morte de policiais turcos criou ressentimento e revolta. É possível que Grivas tenha entendido isso em alguma medida, intensificando os ataques contra policiais em 1957 sabendo que isso geraria retaliações contra gregos inocentes nas cidades e forçaria os britânicos a retirar tropas militares das montanhas para restaurar a ordem nas cidades.93 Isso era uma necessidade para as autoridades coloniais britânicas não só pela escala da violência retaliatória, mas pela constatação de que as forças policiais especiais usadas para reprimir essas desordens também eram formadas majoritariamente por turcos.94

A emergência do TMT foi um fator importante na mudança do cenário estratégico; a Grã-Bretanha conseguiu manobrar os gregos com apoio turco e Grivas quebrou a unidade da comunidade grega com seus ataques contra o AKEL.95 Por outro lado, os britânicos se viram em uma situação em que não conseguiam esmagar militarmente a EOKA, a violência se multiplicava na ilha e a atenção internacional sobre Makarios só crescia.

Durante o encontro da ONU, no final de 1957, uma solução mais moderada proposta pela Índia para aplacar os Estados Unidos foi rejeitada em prol de um relatório marcado pela proposta de Makarios. O relatório teve uma maioria simples no comitê político responsável pela questão, mas na Assembleia Geral — onde era preciso uma maioria de ⅔ — foram 31 votos a favor, 23 votos contra, fora as abstenções. Ou seja, a Assembleia Geral não aprovou a posição cipriota, apesar dela ter recebido mais votos. 

Em 1958, a EOKA iniciou uma campanha de boicote econômico contra os britânicos cada vez mais abrangente que começou a prejudicar os cipriotas, afetando bens de consumo básicos da população e causando efeitos econômicos duros na burguesia cipriota; a campanha foi muito impopular. As divisões com Makarios levaram Grivas a dizer por carta que estavam prestes a seguir caminhos diferentes; nas suas memórias o coronel também reclamou que o arcebispo não seguia seus alertas em relação ao poder dos esquerdistas.96

No mesmo ano aconteceram eleições na Grécia: o conservador Konstantinos Karamanlis formou o novo governo, mas a frente da Esquerda Democrática Unida, onde estavam os comunistas, recebeu 24% dos votos, o segundo lugar da lista geral. Essa demonstração de força eleitoral da esquerda tornava a questão cipriota mais sensível, um ponto de pressão para o governo aliado dos Estados Unidos que, além de tudo, ressentia o poder de Makarios para ditar a política externa grega em relação ao Chipre.

A impopularidade da campanha de boicotes da EOKA foi acompanhada por intransigência internacional: os turcos vetavam concessões e os britânicos ameaçavam com a partição da ilha, propondo a solução do Plano Macmillan (esse sim de agrado da Turquia). O primeiro-ministro grego, Karamanlis, informou a Makarios que apelaria para a OTAN; o arcebispo não gostou da ideia de “pedir” à OTAN, e acreditava que era necessário pressionar os países da OTAN.

A violência também aumentava na ilha. Além dos episódios de violência comunal, Grivas respondeu ao plano Macmillan com uma onda de ataques contra britânicos. Pelo menos 40 pessoas morreram, seis civis, e 300 ficaram feridas.97 Um soldado da RAF foi ferido enquanto caminhava com sua família; um major quase morreu por causa de uma mina; de forma mais chocante, uma esposa de um oficial foi morta e outra ferida enquanto faziam compras. A EOKA negou a autoria do último ataque, que também foi condenado por Makarios, mas existiam indícios de que teria sido obra do grupo guerrilheiro (panfletos foram espalhados na noite que seguiu sua realização). Os soldados britânicos se revoltaram, e na sua fúria cometeram vários abusos contra civis: destruição, espancamentos indiscriminados, gregos sendo surrados para gritar “FUCK EOKA” e alguns assassinatos. Oficiais mais graduados lamentaram o que consideraram uma quebra de disciplina e ceder a uma provocação, mas assumiram uma postura defensiva quando um relatório do juíz chefe da ilha, Paget Bourke, elencou abusos cometidos tanto por soldados de folga como os que estavam de serviço.98

Nesse momento, Makarios mostrou habilidade política e senso de oportunidade. Antes de tudo, o arcebispo se reuniu com os prefeitos do Chipre para emitir uma declaração de repúdio ao Plano Macmillan. A ameaça do plano e de uma presença do Estado turco na ilha fez com que Makarios aceitasse por fim a ideia de independência incondicional (ou, colocando de outra forma, independência em primeiro lugar), sobre a qual ele já tratava com representantes do Labour britânico.99 Em setembro enviou a sua proposta para Macmillan; ele fez isso independente do governo grego e usando a vice-presidente do Labour, Barbara Castle, como fio condutor.

Makarios escreveu para Grivas justificando seu movimento como uma oportunidade única em uma conjuntura hostil: oposição dos EUA, chances limitadas na ONU, oposição da opinião pública britânica, e afirmando que essa era a única chance da oposição britânica (o Labour) frustrar o plano proposto pelo governo. Grivas respondeu irritado, dizendo que os cipriotas precisavam de “um homem com um plano” capaz de seguir esse único plano até os inimigos cederem; que ele era contra a linha adotada, mas não o declararia publicamente “para não ser acusado de explorar a situação para fins políticos”.100 O arcebispo também não se voltou contra Grivas ou emitiu uma declaração pedindo o cessar da violência, sabendo que a EOKA podia cumprir um papel de pressão durante as negociações.

De toda forma, o plano de Makarios funcionou, e uma publicação da entrevista dele com Barbara Castle teve grande impacto nas negociações do governo grego com a OTAN. Os gregos tinham se retirado do comando da OTAN em Izmir e a direção da aliança passou a contemplar uma alternativa ao Plano Macmillan, que, ao invés de criar um condomínio, estabelecesse um Estado independente com garantia internacional (nos termos de Makarios) e um sistema de governo envolvendo as duas comunidades.101 Tal situação constrangeu os britânicos e, de alguma forma, colocou os turcos para negociar. É possível que os turcos tenham entendido que, quando os britânicos saíssem da ilha, poderiam fazer uma intervenção militar, ou que de fato estivessem assustados com a manobra de Makarios. Seus aliados em Bagdá, também amigos dos ocidentais, foram derrubados por revolucionários apoiados por comunistas em 1958; além disso, os ocidentais estavam querendo uma solução rápida para o Chipre por estarem lidando com outra crise com os soviéticos em Berlim. Os turcos também conquistaram concessões econômicas importantes naquele momento, na forma de garantias para mais ajuda proveniente do FMI, dos Estados europeus e dos Estados Unidos.102

Por mais que a Turquia tenha insistido no plano Macmillan e depois recuado, o certo é que em 1958 foram assentados os termos que levariam para um compromisso e permitiriam o retorno de Makarios para a ilha do Chipre. 

1959: retorno e compromisso 

Iniciamos a revisão da história do Arcebispo Makarios III a partir da comparação com Fidel Castro; não podemos deixar de notar o marco temporal existente no ano de 1959. Foi em janeiro de 1959 que as tropas revolucionárias cubanas lideradas por Fidel Castro entraram em Havana, e aquele foi o início do poder revolucionário na ilha caribenha. A marcha do arcebispo não foi tão triunfal quanto a do comandante-em-chefe, talvez por ter sido concretizada pela via diplomática, mas certamente chegou em uma conclusão de proporções históricas.

Curiosamente, uma edição do jornal Kathimerini de janeiro de 1959 colocava uma declaração de Grivas por cima de uma notícia que dizia “Fidel Castro no poder”: “Depois da dramática e inesperada derrubada do ditador cubano Batista, que fugiu do país com sua família e associados, a situação na ilha virou favoravelmente para os revolucionários liderados por Fidel Castro.” Meses mais tarde, o jornalista Fanos Konstantinidis publicou no jornal Ethnos que o coronel Grivas recebeu uma carta de congratulação do líder cubano pela libertação do país — Fidel também teria mandado uma carta de condolências para a viúva de Grivas quando este faleceu em 1974.

A Turquia fez de tudo para garantir o máximo de ganhos para a comunidade turca da ilha e sua presença naquele país, propondo um sistema onde inicialmente a comunidade turca tivesse 50% das forças de segurança da ilha. A Grécia aceitou uma proporção que já era aplicada no serviço público, de 70-30 em favor da comunidade majoritária, que acabou sendo o padrão aceito na maioria dos casos. 

O acordo entre as partes teve poder constituinte, criando um sistema constitucional em que a ilha se tornava um Estado independente mas com um sistema dividido em duas comunidades, cada uma com sua estrutura de governo; em qualquer órgão envolvendo proporções, a proporção beneficiava a maioria grega (geralmente 70% gregos, 30% turcos). O presidente seria da comunidade grega e o vice da comunidade turca; o vice-presidente tinha poder de veto e o direito de nomear três ministros turcos para um conselho de ministros. O poder legislativo também era dividido entre as duas comunidades: uma assembleia geral na proporção 70-30 e câmaras comunais separadas.

O Estado grego tentou propor um sistema em que a eleição do presidente, vice-presidente e da casa de representantes fosse por sufrágio universal sem distinção de comunidade (os cargos seriam reservados, mas o voto seria de todos; essa proposta de fato estimularia a formação de partidos que atuassem nas duas comunidades), mas isso foi recusado pelos turcos. O sistema de consociativismo bicomunal tinha semelhança com aquele estabelecido inicialmente pelos franceses no Líbano (aperfeiçoado em acordos após anos de guerra civil). O exército cipriota deveria seguir a proporção 60-40, e as Forças Armadas da Grécia e da Turquia teriam representantes permanentes na ilha, mais 900 tropas de cada país (lembrando que a Turquia é muito mais próxima do Chipre e isso foi lembrado para seus representantes durante as negociações, de que afinal não existia motivo para quererem uma presença permanente mais forte).

A Grécia, a Turquia e a Grã-Bretanha foram reconhecidos como “poderes garantidores”. Os três poderes tinham o direito de agir para “restabelecer a ordem” criada pela Constituição bicomunal. As partes também se comprometeram com a integridade territorial do Chipre. A Grã-Bretanha preservaria suas bases militares; na prática se criou um sistema em que existiam tropas de três países da OTAN no Chipre, o que rapidamente irritaria o AKEL. 

Makarios teve dúvidas sobre assinar o acordo, mas teve apoio de outros hierarcas da igreja103 e recebeu forte pressão do Estado grego. O primeiro-ministro britânico Harold Macmillan também deu um ultimato antes de viajar para Moscou: se Makarios recusasse, seria implementado o plano anterior. Makarios mandou mais uma carta explicando as negociações para Grivas e pedindo uma declaração de apoio; o arcebispo também convidou 24 lideranças cipriotas para acompanhá-lo em Londres, e o coronel não estava entre eles,104 mas havia sim membros do AKEL (dentre eles Vasos Lyssarides, que seria mais importante nos próximos anos, além de médico pessoal de Makarios).

Depois de duras negociações envolvendo os britânicos, representantes da Grécia, da Turquia e da comunidade turco-cipriota (representada pelo Dr. Fazil Kuçuk), Makarios assinou os acordos de Londres (11 de fevereiro de 1959) e Zurique (19 de fevereiro de 1959). Os membros do conselho ad hoc criado por Makarios que se opuseram foram aqueles ligados ao AKEL e o único representante do braço político da EOKA que estava presente, Tasos Papadopoulos.105

Em outra carta para o comandante militar da EOKA, Makarios justificou os acordos como uma “vitória”, pois as garantias internacionais só evitavam que o Chipre se juntasse ao bloco comunista (ele não mencionou para o coronel que bases britânicas permaneceriam na ilha) e as concessões políticas para os turcos eram meras garantias civis (não eram).106

Makarios retornou para o Chipre no dia 1º de março de 1959 e, apesar de não ter conquistado a Enosis, foi recebido por uma multidão jubilosa: o evento foi tão grande que vilas inteiras se esvaziaram para acompanhar a chegada do etnarca. Assos107 avalia que a dimensão do evento foi fundamental para Makarios confirmar sua liderança política e assumir uma postura mais segura para lidar com Grivas, que até então estava com uma posição indeterminada (pessoalmente ele era contra a independência sem Enosis). No dia 9 de março Grivas emitiu uma declaração para que o povo se unisse sob a liderança de Makarios, renunciou à vida pública, aceitou a anistia que o arcebispo negociou com os britânicos e voltou para a Grécia com seu revólver (exigência sua), onde foi recebido como herói (recebeu várias honras oficiais); o importante é que sua partida deixou o espaço livre para o etnarca. 

O próprio coronel disse em suas memórias que tomou a decisão naquele momento orientado pelo fato de que o ambiente político não era favorável à continuidade da luta armada.108 Depois que Grivas deixou o Chipre, os combatentes da EOKA se enfileiraram para beijar a mão de Makarios em um ritual público.109 Na Grécia, até a esquerda conferia alguma honra a Grivas para manter a coerência com o discurso de que o governo fez concessões inaceitáveis; em pouco tempo o coronel estava no interior grego fazendo discursos um tanto quanto provocativos, enquanto o bispo de Kyrenia continuava pregando Enosis na ilha — o arcebispo precisou se encontrar e conferenciar com Grivas durante três dias na ilha de Creta para aplacar o discurso descontente do seu antigo subordinado militar.

No dia 13 de dezembro aconteceram as eleições presidenciais para a nova República do Chipre, onde Makarios ganhou com 66,82% do voto popular. Seu adversário foi o advogado Ioannis Clerides, ex-prefeito de Nicósia e candidato da União Democrática que foi apoiado pelo AKEL. Seu próprio filho, Glafcos Clerides, veterano da Segunda Guerra e combatente da EOKA, advogado que tinha sido responsável pela compilação de um dossiê de direitos humanos no Chipre e que liderava o novo movimento “Frente Patriótica”, apoiou Makarios — anos mais tarde Clerides filho seria presidente do Chipre por dez anos.

O liberal Clerides teve o apoio formal do AKEL, além de elementos burgueses que temiam a perspectiva de serem governados por um arcebispo em pleno século 20, mas o descontentamento com Makarios fez com que a extrema direita de Kyrenia e os enotistas mais frenéticos apoiassem o advogado contra o religioso. Apesar de gestos oposicionistas, o AKEL tinha um acordo com Makarios e deixou o processo de implementação dos acordos correr normalmente, e isso se refletiu mais tarde nas eleições parlamentares, onde o AKEL conquistou cinco dos 35 assentos destinados à comunidade grega, o restante indo para a Frente Patriótica que apoiava Makarios (a extrema direita não fez deputados).110

A transferência de soberania se completou no dia 16 de agosto de 1960, mas o Chipre se tornaria palco de uma nova luta por independência e de novos confrontos ligados à Guerra Fria. Makarios III, agora presidente, seria um de seus atores principais.

Notas:

1. David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959 (Oxford: Oxford University Press, 2015), p. 40.

2. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 39.

3. Ibidem., p. 35.

4. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 49.

5. Ibidem., p. 51.

6. Spyridon Plakoudas, The Greek Civil War — Strategy, Counterinsurgency and the Monarchy (Londres/Nova Iorque: I.B. Tauris, 2017), p. 53.

7. Ibidem., p. 35.

8. Ibidem., p. 36.

9. Ibidem., p. 83; Alexios Alecou, Communism and Nationalism in Postwar Cyprus, 1945-1955 — Politics and Ideologies Under British Rule (Londres: Palgrave Macmillan, 2016), p. 38.

10. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 53.

11. Ibidem., pp. 54-55.

12. Ibidem., p. 59. 

13. Ibidem., pp. 56-58.

14. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 56. 

15. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 34.

16. David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959 (Oxford: Oxford University Press, 2015), p. 33;  Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 54.

17. Stanley Mayes, Makarios: A Biography, p. 56.

18. David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959, p. 45.

19. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 71.

20. Ibidem., p. 72.

21. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 73; Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 52.

22. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 73.

23. Stanley Mayes, Makarios: A Biography, p. 57.

24. Ibidem

25. Alexios Alecou, Communism and Nationalism in Postwar Cyprus, 1945-1955 — Politics and Ideologies Under British Rule (Londres: Palgrave Macmillan, 2016), p. 78.

26. Ibidem., p. 80.

27. Alexios Alecou, Communism and Nationalism in Postwar Cyprus, 1945-1955 — Politics and Ideologies Under British Rule (Londres: Palgrave Macmillan, 2016), pp. 86-87.

28. David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959 (Oxford: Oxford University Press, 2015), p. 52.

29. Alexios Alecou, Communism and Nationalism in Postwar Cyprus, 1945-1955 — Politics and Ideologies Under British Rule, p. 159.

30. Ibidem.

31. Ibidem, p. 164. 

32. Ibidem, p. 159.

33. David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959, p. 53.

34. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), pp. 80-82.

35. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 84; Alexios Alecou, Communism and Nationalism in Postwar Cyprus, 1945-1955 — Politics and Ideologies Under British Rule (Londres: Palgrave Macmillan, 2016), p. 163; David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959 (Oxford: Oxford University Press, 2015), p. 49.

36. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 86.

37. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 118.

38. Ibidem.

39. Alexios Alecou, Communism and Nationalism in Postwar Cyprus, 1945-1955 — Politics and Ideologies Under British Rule (Londres: Palgrave Macmillan, 2016), p. 163.

40. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 118.

41. Ibidem., p. 119.

42. Ibidem., p. 123.

43. Ibidem., p. 124.

44. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 98.

45. Ibidem., p. 108.

46. Ibidem., p. 127.

47. Ibidem, pp. 110-111; Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 74.

48. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 73.

49. Ibidem., p. 129.

50. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), pp. 133-134.

51. Ibidem., p. 136.

52. Ibidem., pp. 132 e 139.

53. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 85.

54. Ibidem., p. 83.

55. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 176.

56. Stanley Mayes, Makarios: A Biography, p. 88.

57. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 146.

58. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 90.

59. Ibidem., p. 105.

60. Ibidem., pp. 107-108.

61. Ibidem., p. 125; Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), pp. 173-174. 

62. David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959 (Oxford: Oxford University Press, 2015), p. 165.

63. Stanley Mayes, Makarios: A Biography, p. 105.

64. David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959 (Oxford: Oxford University Press, 2015), p. 165.

65. Ibidem.

66. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 180.

67. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p.109.

68. Ibidem., p. 110.

69. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 182.

70. Ibidem., p. 183.

71. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 26. 

72. William Mallinson, Cyprus: A Modern History (Londres: I. B. Tauris, 2005), p. 26.

73. Ibidem.; Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 96; Stanley Mayes, Makarios: A Biography, p. 71.

74. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 183.

75. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 185; Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 110.

76. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 186; Stanley Mayes, Makarios: A Biography, p. 111.

77. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, pp. 167 e 187.

78. Stanley Mayes, Makarios: A Biography, p. 110.

79. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 184.

80. Ibidem., p. 187.

81. David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959 (Oxford: Oxford University Press, 2015), p. 7.

82. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 193.

83. David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959 (Oxford: Oxford University Press, 2015), p. 257.

84. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 193.

85. Ibidem., p. 188.

86. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 93.

87. David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959, p. 287; Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 188.

88. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 185.

89. Ibidem., p. 197.

90. Ibidem., p. 195.

91. Ibidem., p. 196.

92. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 195.

93. David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959 (Oxford: Oxford University Press, 2015), p. 258.

94. Ibidem., p. 260.

95. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus, p. 233.

96. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 113.

97. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 122.

98. David French, Fighting EOKA: The British Counter-Insurgency Campaign on Cyprus 1955-1959 (Oxford: Oxford University Press, 2015), p. 209.

99. Stanley Mayes, Makarios: A Biography, p. 118.

100. Ibidem., p. 120.

101. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 121.

102. Ibidem., pp. 116 e 124.

103. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 131.

104. Ibidem., p. 133.

105. Ibidem., p. 135.

106. Stanley Mayes, Makarios: A Biography (Londres: Macmillan Press, 1981), p. 136.

107. Demetris Assos, Makarios: The Revolutionary Priest of Cyprus (Londres: I.B. Tauris, 2018), p. 227.

108. Stanley Mayes, Makarios: A Biography, p. 137.

109. Ibidem., p. 142.

110. Ibidem., p. 146.