Após a publicação da “Declaração sobre Transgêneros”, pela Associação Geral da IASD, o documento recebeu críticas de adventistas trans, que definiram o conteúdo do documento como perturbador, ofensivo e problemático em termos teológicos e científicos


Por Alisa Williams | editora na Spectrum Magazine. Artigo traduzido do original em inglês por André Kanasiro para a revista Zelota.

Banco de imagens (Edição Jayder Roger).

No Concílio de Primavera de 2017, a comissão executiva da Associação Geral (AG) votou aprovar uma “declaração sobre transgêneros”. A declaração foi elaborada pelo Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI), uma entidade da AG. O presidente Ted Wilson afirmou que a declaração passou por 21 revisões e foi “examinada, examinada e examinada” por especialistas no assunto.

A Kinship Adventista do Sétimo Dia Internacional divulgou sua resposta oficial à declaração (que pode ser lida na íntegra em seu site), e diz em parte: 

“A Kinship revisou esta declaração a fundo, e percebeu que, numa leitura superficial, este documento declara amor e aceitação a pessoas transgênero, incluindo um chamado a tratá-las com ‘dignidade e respeito’. Isso, no entanto, não diminui o dano genuíno desta declaração clara: ‘Desde que os homens e mulheres transgêneros estejam comprometidos em ordenar sua vida de acordo com os ensinos bíblicos sobre a sexualidade e o casamento, eles podem ser membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia.’ Com isso, a igreja permite e até encoraja a negação da membresia com base em identidade de gênero e sexualidade aos que não puderem se conformar […] A Kinship rejeita a mensagem subjacente de que os indivíduos transgênero são mais inclinados a ‘escolhas de estilo de vida biblicamente impróprias’ por sua identidade de gênero […] Incentivamos todos na comunidade LGBTQIAP+ – especialmente nossa família transgênero – a lembrar-se disso: nenhuma declaração, voto, posição ou proposta pode tirar de você a profundidade de sua experiência, sua jornada, sua verdade e o fato de que Deus te ama do jeito que você é.”

Nos dias seguintes, vários indivíduos transgênero conversaram com a Spectrum sobre seus pensamentos a respeito da declaração. Suas respostas estão incluídas aqui:

Resposta #1

Randi é uma mulher transgênero nascida na Igreja Adventista do Sétimo Dia, filha de educadores adventistas. Ela é uma profissional de sucesso com uma família que inclui seu cônjuge há mais de 30 anos e dois filhos adultos jovens. Ela é uma oficial militar aposentada dos EUA que passou quatro anos ensinando em uma instituição adventista. Ela fez a transição completa depois de deixar o emprego na igreja. Ela participa ativamente de sua congregação local e ocupou uma ampla gama de cargos na igreja, como primeira anciã, líder da Escola Sabatina, diretora de serviços comunitários e muito mais.

Tenho observado a progressão desta declaração ao longo dos últimos anos com interesse especial, porque sou adventista do sétimo dia a vida toda e sou transgênero, tendo, portanto, interesse na questão. Passei a maior parte de meio século lendo sobre a ciência relevante para o tópico, as biografias pessoais de muitas pessoas transgênero, e os escritos de teólogos e outros pensadores relacionados ao tópico. Além disso, passei por uma profunda luta pessoal, em grande parte causada pela forma como a igreja se relaciona com aqueles que são de alguma forma diferentes ou únicos, começando na primeira infância e finalmente se resolvendo em algum ponto dos meus 30 e poucos anos. Percebi que Deus me ama em toda a minha singularidade e celebra as maravilhas de sua criação diversificada através das várias cores de pele, olhos e cabelos, formas de rostos e corpos, através de nossas mãos, através de personalidades e habilidades únicas, e sim, através de pessoas intersexuais, de gênero não-conformista e transgênero como eu.

Acho essa declaração profundamente perturbadora e problemática. O espaço aqui não permite uma revisão detalhada, mas os problemas começam com o título e o uso do termo “transgenerismo”.1 É preciso pouco esforço para saber ou perceber que os transgêneros acham esse termo muito ofensivo. Tendo acompanhado a evolução deste documento, acho preocupante que o BRI continue apegado à má ciência à qual sua versão anterior se referia diretamente e a versão atual mantém em sua base. As pesquisas recentes em ciência, medicina e psicologia disponíveis incluem trabalhos de acadêmicos adventistas em instituições adventistas, mas esta pesquisa parece ter sido quase totalmente ignorada, permitindo assim que o trabalho refutado do passado dominasse. Isso se reflete na inclusão da terminologia “desordem de identidade de gênero” (usada no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais [DSM] IV TR) para tentar desacreditar ou diminuir o valor do termo atual “disforia de gênero” (encontrado no DSM V).

Do ponto de vista da teologia, a declaração ignora completamente os possíveis caminhos teológicos que apoiam plenamente as pessoas transgênero e intersexo. A versão muito curta deste caminho inclui as declarações de Isaías, reafirmadas por Cristo, refletindo sobre os três tipos distintos de eunucos. Isso também está de acordo com a inclusão dos gentios e todas as nações, tribos, línguas e pessoas que encontramos no longo arco do mundo judaico-cristão e além, compondo o grupo que é salvo e não pode ser numerado.

Em seguida, muitas das advertências neste documento, que são na melhor das hipóteses complicadas, são especificamente contrárias às melhores práticas conhecidas de atendimento a pessoas transgênero. Isso é motivo de grande preocupação, pois cria uma posição fundamental que faz com que a igreja seja inadequada para ministrar de forma construtiva e útil às pessoas transgênero — crianças em particular.

No outono de 2016, apresentei um documento às reuniões da Divisão Norte-Americana sobre este tópico, e gostaria de incluir o parágrafo final deste documento:

“A Igreja Adventista do Sétimo Dia está em uma encruzilhada sobre como se relaciona com os transgêneros e pessoas intersexo. A igreja pode adotar uma entre várias abordagens, variando de hostil, esperar para ver, a aceitação total na comunhão. Da perspectiva deste autor, a esperança é que a igreja e a denominação adventista do sétimo dia adotem uma posição que apoie a pessoa trans, suas famílias e amigos, e forneça um refúgio seguro e totalmente inclusivo. Espero que a sabedoria de cientistas, médicos e profissionais de saúde mental, cristãos e adventistas comprometidos, que são conhecedores e estudados sobre este tópico, tenha influência, pois está na melhor posição para informar nossa fé sobre esse tópico, assim como é ouvida na maioria dos outros assuntos de saúde mental e física. Seria uma boa notícia saber que olhamos para as Escrituras e desenhamos o círculo maior defendido neste artigo.”

Acredito que a declaração da igreja é em grande parte um fracasso quando julgada de acordo com o que eu esperava. Embora eu esteja profundamente entristecida, até mesmo enfurecida com a declaração, não estou surpresa com isso.

Resposta #2

MM é uma mulher transgênero e ex-adventista do sétimo dia que vive em Seattle.

Eu me afastei do adventismo do sétimo dia quando percebi que a igreja não tem um lugar para mim, e declarações como essa apenas reforçam esse entendimento. Tenho muitos amigos adventistas que diriam: “você poderia vir à nossa igreja!”, e sei que existem comunidades isoladas de adventistas que me permitiriam participar plenamente de sua comunidade eclesiástica, mas não vamos nos enganar — essas pessoas vão contra a cultura predominante da igreja corporativa.

Dito isto, a comunidade adventista é pequena, e sempre estarei conectada com ela. É uma parte absoluta da minha vida. Meu avô era pastor adventista, e muitos de meus conceitos espirituais foram formados crescendo em uma família adventista.

Estou tão distante da igreja hoje em dia que essa declaração não foi surpreendente; foi apenas decepcionante. Eu não levo para o lado pessoal. Ser adventista não é mais uma parte central da minha identidade, pois não posso confiar na igreja para isso. Mas isso me deixa preocupada e arrependida, pois sei que existem muitas pessoas trans que ainda estão profundamente envolvidas com a comunidade adventista. Quando leio essa declaração, imagino o desânimo e a decepção delas. A declaração as objetifica como nada mais do que objetos sexuais e assume que as pessoas trans são mais sexualmente promíscuas do que qualquer outra pessoa. Mas não é por isso que as pessoas transgênero fazem a transição. Conheço muitas pessoas trans e posso dizer honestamente que, em média, elas são menos promíscuas do que muitos dos meus amigos heterossexuais. Ser trans não é isso. Não é uma escolha de estilo de vida. É uma crise interna que estamos evitando. E existem tratamentos médicos que são altamente eficazes para nos ajudar a levar uma vida normal.

Mesmo que você seja uma pessoa trans e faça parte de uma comunidade adventista amorosa que a afirma e não a hipersexualiza ou a julga, você veria essa declaração vindo da liderança, e há uma dissonância nisso. E também há pessoas trans como eu, que não se identificam abertamente em suas comunidades ou locais de trabalho. Existem pessoas trans que estão servindo à igreja e são totalmente comprometidas com seus princípios diretivos, e garanto que há muitas que sofrem em silêncio, sabendo que são completamente incompreendidas.

A declaração é construída sobre a ideia de que existem duas pessoas no início da criação que são perfeitas, e esta é a ideia que todos devemos imitar hoje. Eu não necessariamente discordo da história, mas acho muito importante não supor que alguém que nasceu com uma expressão fora do binário bíblico perfeito — seja físico ou mental — esteja predisposto a ser mais pecaminoso porque nasceu assim. Tampouco devemos atuar para impedi-los de obter intervenção médica que os ajudaria a viver uma vida normal e autêntica. Ignorar a abordagem moderna da medicina e dizer que, embora as pessoas trans nasçam com essa condição clinicamente comprovada, elas não devem se submeter a nenhum tipo de tratamento médico que lhes permita viver uma vida normal, é realmente hipócrita. Isso vai contra as pesquisas que estão sendo feitas — mesmo em nossas próprias instituições adventistas, e contra os cuidados prestados por médicos adventistas. Isso ignora que o tratamento é eficaz e salva vidas. Ele certamente foi eficaz para mim e minha vida.

Então, declarações como essa — dizendo que eu não deveria procurar tratamento médico ou viver uma identidade autêntica — pedem que eu coloque minha vida em risco. Eu não estaria aqui hoje se seguisse essas diretrizes, e não acho que as pessoas que fazem essas declarações entendem isso.

No geral, há muito mal-entendido e ignorância no que se refere às pessoas trans. Acho que isso é agravado pelo fato de que muitas pessoas trans como eu não compartilham seu histórico médico com qualquer pessoa. Como resultado, a maioria das pessoas nem percebe que conhece e interage com pessoas trans o tempo todo. Eu luto para saber se alguém como eu deveria se identificar publicamente, pois eu já estou engajada e interagindo na sociedade todos os dias, e apenas levando uma vida normal e saudável. Mas, ao sair do armário, sei que também me sujeitaria à ignorância e ao julgamento incorporados em declarações como essa. E isso vem de uma fonte que afirma falar e agir em nome de Deus. Eu não sei o que fazer. Todo mundo conhece uma pessoa trans. Todo mundo. Mesmo que seja incidental, é estatisticamente garantido, mas eles simplesmente não sabem. Pessoas trans são tão comuns quanto pessoas ruivas.

Eu gostaria que a igreja passasse mais tempo se concentrando em coisas como cuidar dos pobres e vulneráveis ​​em nosso meio, e menos em declarações como esta.

Resposta #3

Rhonda é bióloga e professora. Ela é uma anciã ordenada adventista do sétimo dia/cristã que também é lésbica transgênero. Ela é casada com o amor da sua vida. Elas estão juntas há 56 anos e têm duas lindas filhas adultas.

Alguns dias atrás, a comissão executiva mundial da Igreja Adventista do Sétimo Dia votou uma declaração sobre pessoas transgênero. Fico gratificada em saber que a IASD esteja fazendo pelo menos uma tentativa de entender nossa necessidade de inclusão e nosso desejo de aceitação. No entanto, não me sinto incluída ou aceita após lê-la. Para Ted Wilson dizer que “Desejamos que elas venham aos pés da cruz”, como se já não o tivéssemos feito, imediatamente nos separa e nos põe à margem da comunidade cristã adventista, que precisa de “Sua graça transformadora” para ser e sentir-se incluída e aceita. Todos nós precisamos da “graça transformadora” de Cristo, incluindo Ted Wilson e todo o restante da comissão executiva.

A comissão sugere que a ambiguidade sexual da pessoa intersexo (e há várias variedades) pode ser resumida em “anormalidades”, e que isso pode ser classificado [somente] no “nível físico”, enquanto a comissão classifica os transgênero como pertencentes ao nível “mental-emocional”, e que nós, transgênero, determinamos nosso gênero de forma diferente “daqueles que determinam o gênero com base no sexo biológico”.

O problema com esse raciocínio é que ele é baseado na ignorância. Eles tacitamente não parecem saber que há evidências muito fortes de pré-determinantes biológicos/genéticos para a transgeneridade que vêm se acumulando pelo menos nas últimas duas décadas. Além disso, para dizer o mínimo, empurrar pessoas intersexo ou trans para a beirada do que consideram “normal” é uma afronta à dignidade e decência humanas básicas. Muitos nas profissões de saúde mental hoje ficariam em apuros tentando definir “normal”, “normalidade” ou “normativo” conforme se aplicam ao sexo ou gênero. Sem consultar um dicionário ou o DSM (obsoleto antes de ser impresso), é provável que nenhum deles defina ou descreva qualquer uma dessas palavras da mesma maneira.

Embora seja verdade que temos “o forte desejo de ser tratado como outro gênero”, temos desejos ainda mais fortes de ser realmente apreciados e aceitos pela população em geral como membros do gênero com o qual nos identificamos. O tratamento é meramente um comportamento externo que pode ou não estar alinhado com o pensamento ou interesse de uma pessoa ou grupo por outra.

A comissão faz questão de dizer: “A disforia de gênero pode, por exemplo, resultar no uso de roupas do sexo oposto, cirurgia de redefinição de sexo e o desejo de ter um relacionamento conjugal com uma pessoa do mesmo sexo biológico.” Estas são consideradas “escolhas de estilo de vida biblicamente impróprias”.

O argumento da comissão é científica e logicamente impreciso, insustentável e desatualizado. Uma pessoa transgênero que usa roupas apropriadas para o gênero com o qual se identifica, não está manifestando “comportamento travesti”, mas está se vestindo da maneira necessária para ser aceita como membro desse gênero, e isso não é mais uma “escolha de estilo de vida” do que uma pessoa cisgênero (não transgênero) usar roupas apropriadas para seu gênero.

Uma pessoa trans que opta por se submeter à “cirurgia de redefinição de sexo” (agora mais politicamente correta: “cirurgia de confirmação de gênero”) não está mais engajada em uma “escolha de estilo de vida” do que uma pessoa cisgênero que remove um tumor canceroso. Ter que permanecer em um armário ou em um corpo indesejado pode ser ainda mais fatal do que o câncer. Mais de 40% das pessoas trans tentam cometer suicídio por causa da disforia de gênero, e muitas são bem-sucedidas. A disforia de gênero é causada pelo medo da não aceitação e de maus-tratos pela sociedade por causa do nosso gênero autoidentificado. Esse medo é muito real e derivado da realidade, já que pessoas trans, em todo o mundo, são assassinadas a uma taxa mais de sete vezes maior do que o restante da comunidade LGBTQIAP+ junta! Faz sentido lógico/prático que façamos conscientemente tal “escolha de estilo de vida” quando somos tão odiados e violentamente intimidados por sermos quem somos?

Quanto ao “desejo de ter um relacionamento conjugal com uma pessoa do mesmo sexo biológico”, outra dificuldade é inerente à própria definição de “sexo biológico”. O maior órgão sexual do planeta Terra é o cérebro humano. Por acaso ele é menos importante na definição do sexo biológico do que os outros órgãos sexuais, também conhecidos como gônadas?

O dimorfismo sexual é a característica de mostrar diferenças físicas reais entre os dois sexos. Estes são mais evidentes externamente nas gônadas, forma/tamanho/altura do corpo, tamanho do peito em adultos, pelos faciais e outros padrões de crescimento capilar, assim como outras características sexuais secundárias. Mas é importante saber que também existem pelo menos duas estruturas no cérebro humano, não imediatamente óbvias, que são muito dimórficas sexualmente: o núcleo leito da estria terminal (NLET) e o núcleo sexualmente dimórfico. Essas estruturas cerebrais específicas exibem diferenças muito definidas entre homens e mulheres. Elas, no entanto, são muito semelhantes para mulheres cisgêneros e mulheres trans, e são muito semelhantes para homens cisgêneros e homens trans. Portanto, em termos de cérebro (onde importa), mulheres trans são essencialmente mulheres e homens trans são essencialmente homens, ponto final! Independentemente disso, a orientação sexual de um ser humano não determina sua identificação de gênero, e vice-versa, e nem tem a ver com uma “escolha de estilo de vida”, pois os humanos não fazem uma escolha deliberada por nenhum dos dois; é uma questão de genética e predeterminação biológica. Veja este artigo da Universidade de Harvard para saber mais sobre isso.

Na declaração da AG, na seção intitulada “Princípios bíblicos relativos à sexualidade e o fenômeno transgênero”, a comissão afirma que, “de acordo com a Escritura, nossa identidade de gênero, como designada por Deus, é determinada por nosso sexo biológico no nascimento (Gênesis 1:27; 5:1–2; Salmos 139:13–14; Marcos 10:6)”. De acordo. Mas “sexo biológico no nascimento” é um assunto complicado. Ele não é determinado apenas por gônadas ou cromossomos sexuais. É estritamente impossível determinar o “sexo” de todos como estritamente masculino ou feminino apenas por suas gônadas e/ou cromossomos sexuais. As pessoas intersexo, mencionadas anteriormente, são um caso em questão. Seu “sexo biológico no nascimento” é muitas vezes “atribuído” de forma imprecisa pelos médicos que realizam seu parto. “Sexo biológico no nascimento” é muito difícil de definir para qualquer grupo, mas especialmente para pessoas intersexuais, e depende em grande parte de muitos outros determinantes, incluindo outros fatores genéticos, hormonais e como esses hormônios são afetados pelas atividades da mãe, alimentos e água contaminados ou de baixa qualidade, álcool e outras drogas, e produtos químicos em seu ambiente imediato enquanto o embrião/feto está se desenvolvendo. Parece provável que em dois momentos específicos durante a gestação, essas substâncias, à medida que são transportadas através da placenta para a corrente sanguínea da criança ainda não nascida, podem resultar em um sistema endócrino (hormonal) gravemente desequilibrado e uma propensão predeterminada a uma identificação de gênero sem relação com o seu desenvolvimento gonadal. Se é extremamente difícil determinar “sexo biológico no nascimento” para um grupo, é o mesmo para todos. Não há “grave dicotomia” em alegar “uma identidade de gênero incompatível com seu sexo biológico”. Tal afirmação não pode ser feita, porque uma definição precisa e absoluta que se aplica a todos não é possível.

A comissão afirma: “Desde que os homens e mulheres transgêneros estejam comprometidos em ordenar sua vida de acordo com os ensinos bíblicos sobre a sexualidade e o casamento, eles podem ser membros da Igreja Adventista do Sétimo Dia.” À comissão eu digo: “Ó meu Deus, que declaração graciosamente gratuita! Obrigada por sua disposição a me incluir relutantemente como membra, mas já sou membra e anciã ordenada em minha igreja adventista local, e não precisei de sua autorização para sê-la. Também me considero ordenando minha vida e não precisei de sua inspiração ou encorajamento para fazê-lo. Por favor notem, no entanto, que minhas opiniões sobre como ordenar minha vida de acordo com os ensinamentos bíblicos e suas opiniões sobre os mesmos podem não ser idênticas.

Todos os ensinamentos e leis bíblicas devem ser interpretados e compreendidos em seu contexto histórico, pois são baseados em princípios que são absolutos, mas as próprias regras, leis e ordenanças não são. Exceções, refutações e mudanças em sua aplicação podem ser encontradas facilmente na própria Bíblia, em toda a sua extensão. Sua aplicação muda com o tempo, o lugar e a cultura. Assim como “cumpre lembrar que as promessas e as ameaças de Deus são igualmente condicionais”, também cumpre lembrar que a aplicação de suas leis também o é.

Apesar da frase de que “a Bíblia ordena os seguidores de Cristo a amarem uns aos outros”, não me sinto amada. Será que você, comissão executiva da AG, não está escolhendo sentar-se em um trono de julgamento alto e sublime? Talvez essa seja a escolha mais importante que está de fato sendo feita aqui.

Para a comissão, fazer tais declarações sobre qualquer minoria é fazer algo não apenas desnecessário, mas possivelmente para acalmar e aplacar uma maioria discriminatória que a encorajaria, elogiaria e de uma forma ou de outra a recompensaria. Ah, espero que isso não seja muito acurado ou crítico, mas para uma organização que deveria se preocupar principalmente com esta verdade: “A última mensagem de graça a ser dada ao mundo, é uma revelação do caráter do amor divino”, essa declaração sobre transgêneros errou completamente o alvo. Eu me sinto triste e enfurecida como resultado.

Notas:

1. N.T.: O termo “transgenderism” está no título da declaração original, mas ausente da versão em português.