Às vésperas da manifestação contra Bolsonaro, forma-se na Colômbia a "Primeira Linha Ecumênica", formada por católicos e evangélicos em protesto ao governo de Iván Duque, representando um exemplo à igreja brasileira
28 mai., 2021 | Da redação Zelota
Hoje (28), a greve nacional da Colômbia, nossa distópica “democracia sangrenta” na América Latina, completa um mês. A greve, somada a uma série de manifestações nas ruas, explodiu em resposta a um pacote de reformas tributárias neoliberais propostas emergencialmente pelo presidente, Iván Duque; mas ela transborda o descontentamento de uma população na qual 42,5% sofrem com pobreza monetária, 14,5% estão desempregados, 51,2% estão na informalidade, e que mal está sendo vacinada. A resposta do Estado que há quase um século assassina seus opositores políticos não surpreendeu: a ONG Temblores registrou até o momento 3155 casos de violência policial, entre os quais estão 43 homicídios, 22 casos de violência sexual, e 165 casos onde houve disparo de armas de fogo por parte das forças de repressão. Os atos exigem o fim da violência policial, programas de emprego e estudo, renda básica, e maior acesso a serviços públicos essenciais. Também reivindicam o desmonte do Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad), e a renúncia do Ministro da Defesa, Diego Molano, considerado um dos principais responsáveis pela reação truculenta às manifestações.
O que de fato surpreendeu foi a presença de sacerdotes nos atos de hoje, em comemoração ao primeiro mês de mobilizações. Formando o que chamam de “Primeira Linha Ecumênica”, em referência à Primeira Linha de Jovens e de Mães que ficaram nas linhas de frente contra a repressão policial, vários padres, pastores e líderes evangélicos saíram às ruas de Cali para protestar contra o governo elitista de Iván Duque. Portavam escudos com imagens de Jesus abraçando a Colômbia e placas que diziam “Jesus Cristo é a resposta, pois separados de mim nada podeis fazer”. De acordo com um dos líderes do movimento, o padre Edilson Huérfano, a Linha saiu em uma formação simbólica de 12, sendo 3 sacerdotes, 8 pastores e 1 católica laica, e abriu a convocatória para que cristãos de todas as denominações possam se juntar a eles. “Por enquanto não há adventistas, nem sacerdotes romanos, mas as portas estão abertas”, relatou o sacerdote à Zelota.
O padre Edilson Huérfano, sacerdote da Sociedade de Jesus da Comunidade Evangélicas Episcopais, já foi expulso da Igreja Ortodoxa russa em 2019 por criticar publicamente o presidente Iván Duque. “Jesus pregou um evangelho social quando advertiu do que estava acontecendo em sua época, e é isso que estamos fazendo hoje em dia”, disse o padre sobre sua expulsão. Em resposta à Zelota, Huérfano disse que “há muito medo e muito temor dos disparos nas ruas, das pessoas desaparecendo… Eu estou ameaçado de morte. Mas sigo resistindo e lutando”.
É significativo que a população da Colômbia, um narcoestado militarizado que é um dos grandes modelos do governo Bolsonaro, esteja tomando as rédeas de seu destino, às vésperas de mobilizações onde podemos fazer o mesmo. Que amanhã, no dia 29 de maio, sejamos voz profética contra os genocidas que mataram 457 mil de nossos irmãos. Ergamos a voz e proclamemos em voz alta aos nossos algozes, adoradores de Mamon: “já foi derrubada na sepultura a tua soberba com o som das tuas violas; os vermes debaixo de ti se estenderão, e os bichos te cobrirão” (Isaías 14:11).