A história esquecida dos adventistas do sétimo dia que ofereceram assistência clandestina a Ernesto Che Guevara e seus combatentes no início e no desfecho da Revolução Cubana


*Série: O adventismo em Cuba (parte 2). Para ler a Parte 1 clique aqui.

No artigo anterior sobre a relação da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) e a Revolução Cubana, tratamos de oferecer informações qualitativas e quantitativas sobre o ambiente amistoso entre a igreja e o socialismo emergente. Embora faltem documentos e relatos históricos da época, duas conclusões foram possíveis (sem a pretensão da generalização): (1) a IASD, ao menos os membros cubanos, não se sentia ameaçada pelos ideais e promessas da revolução; (2) a IASD, durante o governo socialista, não deixou de crescer, e se desenvolveu numericamente como igreja na ilha (índice de crescimento equivalente ao das ações missionárias estadunidenses após a década de 1980). 

Há, no entanto, uma afirmação que não foi completamente esclarecida, embora tenha sido realizada com base no conhecimento do sociólogo adventista Caleb Rosado1, a saber, que a maioria dos adventistas cubanos não concordava com a ditadura de Fulgencio Batista; e que eram simpatizantes dos revolucionários a ponto de oferecer a eles assistência clandestina. Essas afirmações são particularmente corajosas, mas possuem documentação histórica suficiente para dizer-se factual sobre esse período. 

Existem, ao menos, duas narrativas adventistas durante a Revolução Cubana que corroboram com a afirmação de Rosado; elas possuem detalhamento suficiente para que seja possível evidenciar uma ação conjunta e organizada para o benefício dos combatentes. Uma em Sierra Maestra, no início da revolução, em que adventistas camponeses auxiliam Ernesto Che Guevara e alguns revolucionários; e em Santa Claro, no desfecho da luta, em que adventistas docentes e discentes do Colégio da União Antilhana socorrem, abrigam e alimentam os rebeldes. 

Embora as histórias tenham ocorrido em momentos diferentes – e retratem eventos distintos – os padrões que envolvem a relação dos adventistas com os revolucionários são insistentes. Em primeiro lugar, em ambos os casos, os adventistas permanecem isentos de posicionamentos políticos claros, mas não agem de forma neutra: eles compreendem a necessidade e a importância da insurreição rebelde e depositam nela suas obrigações civis, éticas e religiosas. Em segundo lugar, os adventistas afirmam seu compromisso com a vida, e recusam pegar em armas. Em terceiro lugar, nas situações relatadas, não há evidências de qualquer desentendimento ou conflito ideológico entre os ideais da revolução e a esperança adventista.

O Iate Granma

A Revolução Cubana começa suas investidas oficiais contra a ditadura de Fulgencio Batista em 1956, com a chegada de um grupo de expedicionários embarcados em um iate, nas praias cubanas. O “iate Granma”, como era conhecido – trocadilho de “grandmother”, em inglês (“avó”) –, provinha do México e carregava consigo 82 homens; embora, em tese, pudesse comportar apenas 12 pessoas. E a tese se confirma: após uma série de vicissitudes, como falta de suprimentos, enjoos e um quase naufrágio por conta do peso, e alguns vazamentos, o iate com dificuldade alcança a Playa Las Coloradas no dia 5 de dezembro, atrasado.

Aproximadamente um ano antes do embarque, Fidel Castro encontrava-se no México, e nesse contexto planejava organizar uma ofensiva de insurreição em Cuba contra a ditadura de Batista. Durante esse período, Fidel permaneceu em contato com os grupos de resistência clandestina que ainda estavam em Cuba, como o “Movimento 26 de julho” (M-26/07). Este grupo, por exemplo, já enviava militantes ao México para que voltassem posteriormente à luta armada em companhia de Castro e outros rebeldes. Foi no México que Fidel conheceu Ernesto Che Guevara, um argentino que, embora recém-convertido aos ideais da revolução, demonstrou surpreendente aptidão, e embarcou no Granma para lutar ao lado de Cuba.

A chegada do iate à ilha não cumpre a data planejada (dia 30 de novembro), e chega com atraso; ocasião fatal em que o exército de Batista aguardava de sobreaviso. Ao desembarcarem na Playa Las Coloradas, instaura-se uma chacina, realizada pelo bombardeio de aviões e helicópteros da ditadura, deixando do grupo citado o número de aproximadamente 20 revolucionários. Em terra – alvos fáceis –, o grupo enfrenta, logo em seguida, uma batalha em Alegría del Pío, que deixa apenas 12 sobreviventes – o incipiente “Exército Rebelde” – que se dispersam na região de Sierra Maestra. Nesse contexto, o grupo procura o apoio da população mais pobre, principalmente entre os agricultores, na expectativa de engrossar as fileiras da guerrilha rural.

Rota dos expedicionários do Iate Granma, em Cuba. Fonte: MARTIN, M. S. Cuban Insurrection: 1952-1959. New York: Routledge, 2017.

Naquela época, com apenas poucas cidades e vilarejos, Sierra Maestra contava com uma população de aproximadamente 60 mil agricultores, pejorativamente denominados “guarijos” – o equivalente a “caipira”, “burro” ou “retardado” para classe média urbana de Cuba. “Eram camponeses humildes e analfabetos, negros, mulatos e brancos […] com seus chapéus de palha muito gastos, pés descalços retorcidos e um linguajar espanhol ininteligível.”2 Embora alguns guarijos tivessem suas próprias terras, muitos eram grileiros, e a situação de suas vidas contrastava com a dos grandes proprietários de terras privadas, que viviam ausentes da região, e ocupavam os melhores terrenos da planície. Breves comentários sobre a desigualdade social cubana nesse período podem ser encontrados em nosso artigo anterior.

De acordo com Ernesto Guevara Lynch3, em seu livro Mi hijo el Che, ao avistar a condição miserável em que se encontravam alguns dos expedicionários do Granma, um adventista, Argelio Rosabal Fonseca, disse à sua noiva: “Ali estão alguns irmãos que necessitam de mim.” Muito embora o auxílio de Rosabal aos revolucionários da expedição Granma não seja explorado nas publicações adventistas (em inglês, português ou espanhol), ele é fartamente referido na literatura que documenta a insurreição histórica da Revolução Cubana em Sierra Maestra,4 o ponto de partida para o sucesso dos revolucionários. E não é de se admirar que o evento seja aludido no Diario de un combatiente pelo próprio Ernesto Che Guevara.5

De acordo com Jon Lee Anderson6, em seu livro Che Guevara: Una vida revolucionaria, “depois de outro dia sem comida ou água, [os expedicionários] retomaram a marcha, mas estavam exaustos, a moral estava baixa e alguns diziam que não queriam continuar. Seus ânimos foram restaurados essa noite, ao chegar na casa de um agricultor, e apesar da relutância de Che, bateram na porta. O dono da casa, um pastor adventista do sétimo dia, membro da rede camponesa do 26 de Julho na região, os recebeu cordialmente.”

A informação de Anderson, acima, parece imprecisa, mas não inteiramente equivocada. Nesse relato, é provável que os expedicionários do Granma tenham sido recepcionados, oficialmente, por Alfredo Gómez, um adventista que, de fato, compunha a rede revolucionária camponesa 26 de julho em Sierra Maestra – coordenada por Cecília Sánshez.7 É difícil, contudo, construir uma narrativa sobre o ocorrido nessa ocasião, pois parece não existir mais informações sobre Alfredo e sua relação com os revolucionários na região. Não obstante, há a curiosa evidência de quem o mencione como “pastor adventista”8; e, nesse sentido, a afirmação acima estaria correta: os expedicionários do Granma foram, de fato, recepcionados por um pastor adventista. No entanto, ainda que seja tentador afirmar que um pastor da IASD socorreu Che Guevara e os rebeldes, os relatos históricos documentam outra realidade, que pode facilmente ser somada a esse evento.

Que ore el pastor!

Como já mencionado, o adventista que, de fato, recebeu os expedicionários e os alimentou foi Argelio Rosabal, que não era um pastor. Não há informações documentando como foi sua vida até 1956, mas referências sobre anos posteriores indicam que Rosabal deveria ser um jovem adventista cubano de, no máximo, 30 anos. Ao que tudo indica, ele foi criado em uma família humilde de agricultores, em uma aldeia chamada Los Mameyes, localizada em Sierra Maestra. Por conta de sua ocupação como agricultor, como muitos na época, Rosabal provavelmente não teve a oportunidade de se dedicar aos estudos. 

Ainda que não ocupasse qualquer função oficial de liderança na comunidade adventista, a bibliografia que comenta sobre sua vida afirma que Rosabal era admirado e respeitado por seus conterrâneos, e possuía visível influência entre os crentes da congregação. Ele foi o responsável por orientar a congregação no processo que mobilizou para o auxílio dos revolucionários recém-chegados à ilha, fornecendo roupa, alimento e hospedagem.

Após o acolhimento dos expedicionários na casa de Rosabal, e a realização de uma farta refeição, no dia seguinte, Che Guevara e os revolucionários receberam diversas visitas, grande parte delas de adventistas curiosos da região. Por conseguinte, a notícia se espalhou de boca em boca, e a população local rapidamente ficou ciente do ocorrido. Naquele primeiro momento, por segurança, os expedicionários foram separados para dormir em casas distintas. Como precaução adicional, eles se desfizeram de seus uniformes para se vestir como camponeses – roupas emprestadas de Rosabal –, escondendo suas armas e munições em um único local, com o intuito de recuperá-los mais tarde. Apenas Che e Juan Almeida andavam armados.

Muitos familiares de Rosabal se envolveram na missão orientada por ele: a família forneceu alojamentos, roupas e comida aos expedicionários. Sua sogra, Ofelia Arcís, encarregou-se de alguns deles, como Camilo Cienfuegos e Reinaldo Benítez, e chegou a levar doces e cigarros aos rebeldes; “ao vê-los com as roupas rasgadas, barbudos, peludos e abatidos, [Ofelia] começa a chorar e a dizer que graças às suas orações ao Senhor eles haviam sido salvos”.9 Entre os que foram pessoalmente auxiliados por Rosabal, constavam Che Guevara, Juan Almeida, Ramiro Valdéz e Camilo Cienfuegos. Todos foram levados até a casa de sua família em Los Mameyes.

Após a recepção e os cuidados oferecidos aos revolucionários – orientados e mobilizados por Rosabal naquela ocasião –, sua influência sobre a congregação de adventistas foi imediatamente notada por Che Guevara. Um belo dia, após o almoço, Che decidiu, na companhia dos que estavam presentes, batizá-lo com o apelido de “El Pastor”.10 Há relatos de que, em Sierra Maestra, os adventistas não apenas auxiliaram os guerrilheiros com alimento e aconchego, mas também os atualizaram a respeito dos últimos acontecimentos relativos à revolução – informações que obtiveram por meio de um “telégrafo do mato” ou “Radio Bemba”.11

Em algumas ocasiões, Rosabal orava com os expedicionários, a fim de rogar a proteção divina sobre eles, pedindo a bênção de Deus sobre a tarefa que tinham pela frente. A bibliografia relata que a reação de todos era de absoluto respeito. Na hora da refeição, o próprio Che dizia: “ore o Pastor”. Em Diario de un combatiente12, Che Guevara graceja, recordando que, ao chegar na casa dos adventistas, “passamos mal de tanto comer”; literalmente, pois alguns combatentes foram acometidos de diarreia: “A pequena casa em que estávamos logo se converteu num inferno; Almeida ateou o fogo da diarreia, e logo oito intestinos desagradecidos demonstraram sua ingratidão, envenenando aquele pequeno recinto”, relata Che em seu diário sobre a primeira refeição com Rosabal.

Mas o abrigo aos expedicionários não foi organizado sem muita cautela. O tio de Rosabal, Ricardo Rivera, trabalhava para o exército de Fulgencio Batista, e foi responsabilizado por encontrar e eliminar os expedicionários. No entanto, ao que tudo indica, Rivera não compactuava com a ditadura de Batista, e se esforçou para conter os soldados. Assim, os revolucionários não puderam se acomodar nas instalações de Rosabal, justamente porque o local estava rodeado de uniformizados. Conta-se que, para protegê-los do ditador, Rosabal os escondeu em alguns arbustos próximos a sua casa, nutrindo-os com comida e água diariamente. 

Mesmo auxiliando os revolucionários, a relação de Rosabal com os ideais da revolução se restringiram ao respeito à vida dos expedicionários. O adventista esclareceu a Che Guevara que era contra o uso de armas; e há relatos de outros adventistas que, embora afeiçoados aos revolucionários, de fato, insistiram não pegar em armas, caso fosse necessário.13 Todos os expedicionários escreveram cartas aos seus familiares, e encarregaram Rosabal de colocá-las no correio, em Pilón. Elas foram enviadas sem remetente a fim de despistar o inimigo. Nesse curto período de convivência, a intimidade amadureceu a ponto de Che confiar a Rosabal uma carta destinada a seus familiares, na Argentina.14

Em dada situação, enquanto Rosabal transportava comida e água para os rebeldes, se deparou com a casa de seus pais invadida pelo exército de Batista. A invasão ocorreu porque o exército obteve informações de que os revolucionários estavam abrigados no local. Portanto, eles invadiram algumas casas, chegaram a encontrar o armamento no tronco de uma Jagüey, e capturaram um revolucionário enfermo. Naquela ocasião, Rosabal já estava ciente de que o exército de Batista possuía informações sobre o esconderijo dos Rebeldes, e planejava fugir com o grupo durante a noite. Na fuga, após se dividirem em dois grupos para continuar marchando, Rosabal os serviu de guia noturno até a casa de sua cunhada, Ofelia, que os alimentou e os hospedou. Ao conduzir os revolucionários, Rosabal confiou seus familiares adventistas ao cuidado de seu cunhado Guillermo Garcia15, amigo de infância de Celia Sánchez, líder da rede M-26/07 na região do qual provavelmente era membro. O auxílio de Rosabal e dos adventistas possibilitou que Che Guevara encontrasse Fidel Castro e, dessa forma, dessem continuidade à concretização da Revolução Cubana.

Até hoje a família de Rosabal é conhecida pelo auxílio oferecido aos combatentes. Marcos Antonio Ramos, em seu livro Panorama del Protestantismo en Cuba, conta também que, no mesmo local, acometido de fortes crises de asma (possivelmente enquanto fugia com Rosabal), Che Guevara foi socorrido por adventistas que lhe salvaram a vida. Dessa perspectiva, é possível afirmar que a membresia adventista em Cuba – ao menos a que recebeu os expedicionários em Sierra Maestra –, não apenas salvou a vida de Che Guevara em diversas ocasiões, mas foi protagonista no sucesso da primeira expedição responsável pela Revolução Cubana.

Seria desonesto afirmar que os adventistas de Sierra Maestra uniram-se ideológica e politicamente às expectativas dos revolucionários; mas seria igualmente falso alegar que não houvesse qualquer simpatia pela luta socialista contra a ditadura de Fulgencio Batista, já que famílias inteiras arriscaram suas vidas em prol da segurança dos expedicionários. O exemplo de Sierra Maestra é uma evidência histórica de que o “exército de Cristo” lutou ao lado do “exército socialista” de Fidel Castro, movido pela esperança e pela justiça.

A cidade de Che Guevara

Se a atuação dos adventistas foi essencial para o sucesso da Revolução Cubana em Sierra Maestra, experiência semelhante ocorrerá, posteriormente, em Santa Clara, onde os rebeldes enfrentaram uma batalha decisiva para o sucesso da insurreição, em dezembro de 1958, também sob o comando de Che Guevara. Nessa ocasião, os revolucionários de Castro já granjeavam evidente vantagem na guerra, e começaram a organizar sua própria ofensiva contra a ditadura de Batista. Eles possuíam quatro frentes na província do Oriente, cada uma delas com um histórico de vitórias. Além dessas, outras frentes estavam sob o comando de Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Jaime Vega; destacou-se na história do adventismo a que se encontrava em Santa Clara.

No entanto, antes de conquistar a cidade, os combatentes chegaram em desvantagem, e enfrentaram uma sucessão de batalhas suicidas até tomarem posse de localidades estratégicas na região, ocasião que ficou conhecida como a “Batalha de Santa Clara”. Em uma ocasião, por exemplo, o exército dos rebeldes contou com aproximadamente 300 homens, a coluna guerrilheira “Ciro Redondo”, como era conhecida, para enfrentar mais de 3 mil soldados de Batista – entre tanques e aviões. Lá ocorreu, provavelmente, uma das mais sangrentas lutas para a conquista da Revolução Cubana. Os combatentes, ao explorarem e se instalarem, inicialmente, em diversas províncias de Villa Clara, foram intensificando de forma gradual sua presença em direção à capital. Além disso:

“Santa Clara era a última pedra angular da estratégia defensiva batistiana. Encruzilhada do transporte e da comunicação no centro da ilha, com uma população de 150 mil habitantes, Santa Clara era o último obstáculo na marcha rebelde até a capital; se fosse tomada, apenas o porto de Matanzas ficaria entre eles e Havana. Batista depositou todas as suas esperanças na defesa de Santa Clara.”16

A história relata que, em uma madrugada de 1958, Fulgencio Batista mandou levar de Havana a Santa Clara um significativo carregamento de armas aos seus soldados, em vista das batalhas que ocorriam naquele local. Essas informações, contudo, chegaram a Che, que, com o auxílio de seus companheiros, descarrilhou o comboio quando o carregamento passou por Santa Clara: o assalto ao trem blindado frustrou a comunicação entre a ditadura e o exército no interior do país, rendeu os soldados que conduziam o transporte, e impediu que o exército recebesse os armamentos necessários. No geral, o trem carregava 380 soldados, além de 28 oficiais e engenheiros. Ele também possuía um poder de fogo impressionante: cinco lançadores de foguete de 35 a 248 projéteis; cinco morteiros de 60 milímetros, com 362 granadas; 14 metralhadoras calibre 30, com 88.800 cápsulas; 38 fuzis automáticos calibre 30, com 133.560 balas; 308 rifles M-1, além de diversas armas menores e outros instrumentos para combate.17

Antes da chegada do comboio blindado, agências de notícias internacionais difundiam a mentira (como é de costume em relação à Revolução Cubana) de que Che Guevara estava morto. Após o assalto ao trem, contudo, a Rádio Rebelde anunciou sua vantagem e desmentiu a morte do comandante: “Para a tranquilidade das famílias na América do Sul, e da população cubana, asseguramos que Ernesto Che Guevara está vivo e na linha de fogo […] e em pouco tempo, ele tomará a cidade de Santa Clara.”18 Dito e feito.

Até hoje, os turistas que visitam Cuba, quando em Santa Clara, são recebidos como quem entra na “cidade de Che Guevara”, justamente por ter sido o local determinante para o triunfo da Revolução Cubana, sob sua liderança – motivo pela qual também hospeda o seu túmulo, entre outros mausoléus à sua homenagem. Ainda hoje os vagões também são expostos como atração aos turistas, por representarem o auge da guerrilha, e o momento decisivo para a vitória do socialismo em Cuba. Ainda que reserve valor simbólico quase exclusivo à brilhante atuação do comandante, Santa Clara também é um símbolo de importância política e religiosa aos adventistas, pois os remete a uma experiência singular na época da Revolução Cubana.

Los barbudos

Por volta da década de 1950, como já mencionado no artigo anterior, o Colégio da União Antilhana já estava localizado em Santa Clara. Sua propriedade possuía, em média, dez “caballeiras” (o equivalente a 135 hectares). No calor da revolução, ao se precaver da violência da guerra, a direção da escola proibiu a saída dos alunos para o natal – ao menos aos que viviam muito longe das instalações do colégio, pois não havia ônibus ou trens disponíveis. Além disso, a condição precária das estradas poderia dificultar a locomoção e expor ainda mais os estudantes ao perigo – já que o conflito era violento e definitivo, e eclodia a alguns quilômetros do colégio.

Essa ocasião foi descrita com muitos detalhes por Walton J. Brown19, em seu artigo “Sob suas asas” (“Under his wings”), publicado pela Review and Herald em abril de 1959 – e permanece, como será evidente, como o principal documento sobre a relação entre os adventistas e os rebeldes no desfecho da Revolução Cubana. Segundo Brown: “Quando E. E. Cossentine, da Conferência Geral, e V. E. Berry, da Divisão Interamericana, vieram fazer uma inspeção no colégio, eles relataram que tiveram que cruzar alguns rios em que as pontes haviam sido destruídas.” A despeito das dificuldades, algumas atividades do colégio não foram interrompidas. No entanto, a direção tomou consciência de que a situação estava, de fato, perigosa, quando dois alunos foram surpreendidos, no outro lado da ponte, por uma troca de tiros. No retorno, eles alegaram ter cruzado o caminho com um grupo armado de barbudos, que vigiavam a estrada.

Os internos do colégio recebiam notícias de que, aos poucos, as regiões de Santa Clara eram conquistadas pelos combatentes, principalmente por conta do que passou a ser informado pela Radio Rebelde. Devido à ação estratégica da guerrilha – que pretendia desorientar a comunicação da ditadura com seu exército20 – as linhas telefônicas haviam sido cortadas, e o Colégio da União Antilhana não conseguia realizar qualquer contato com o exterior. Quando a escola foi surpreendida por esses acontecimentos – por volta de 26 de dezembro –, a Batalha de Santa Clara caminhava para o seu desfecho e, portanto, demonstrava-se ainda mais sanguinária. Quase como respostas às orações de professores e alunos, no entanto, os eventos seguem de forma inimaginável para uma instituição adventista:

“O vigia noturno veio e nos informou que dois barbudos estavam vigiando o nosso prédio principal, e que outros haviam tomado a universidade do outro lado da rodovia. Nós imediatamente fomos espiar os famosos ‘homens das colinas’, e encontramos dois sentinelas muito cansados – com barbas, armas e tudo o mais. Mesmo nessa condição, eles eram muito fiéis a sua causa; e logo descobriram que não éramos hostis a eles.”21 Além de outros elogios, Walton J. Brown, em certa ocasião, comenta que a determinação dos soldados o impressionava. Segundo ele, mesmo fracos e praticamente desarmados, o grupo dirigia-se à Santa Clara no intuito de encarar centenas de soldados da ditadura – além dos tanques e aviões. “Alguns, que foram sem armas, diziam: ‘Quando encontrarmos os rebeldes, nós nos armaremos.’”22

Comovido com a situação, o chefe do departamento de Bíblia, Charles R. Taylor (nascido no antigo IAE), os ofereceu leite e lhes emprestou um saco de dormir, para que revezassem seu uso durante a noite. Depois disso, “nós, então, fomos para a entrada da universidade, onde encontramos um grande número de rebeldes. Eles estavam cansados e famintos. E eles também eram amigáveis.”23 Mesmo com essa impressão, é possível que os internos e a direção do colégio aparentassem algum pavor ou receio dos barbudos: ao oferecerem leite aos combatentes sedentos, foram impressionados com gracejos e piadas do tipo: “E agora? O que vocês acham dos mau-maus de Cuba?”, referindo-se a um apelido dado aos soldados de Castro.

A partir de então, todas as aproximações entre os residentes do colégio e os combatentes foi realizada de forma cordial e respeitosa: os rebeldes pediam algumas permissões, e a liderança da escola sedia – dentro de seus limites, exigências e princípios. Em uma dessas ocasiões, a administração do colégio se encontrou pessoalmente com o comandante Ernesto Che Guevara. Em contato com a liderança, Che pede para que sejam providenciados alimentos aos médicos e enfermeiros que chegariam nos próximos dias. E embora a escola estivesse com dificuldade para conseguir leite no contexto do conflito, o comandante assegura à administração a proteção de seus soldados para o que fosse necessário, pois a região pertencia à Cuba livre.

“Em pouco tempo, os feridos começaram a vir de Santa Clara à universidade. As salas de aula foram utilizadas como postos de primeiros socorros; os médicos nos pediram lençóis, travesseiros e bandagens; e os alunos e professores doaram tudo o que puderam. Diversos alunos, que tinham conhecimento de primeiros socorros, também foram até lá e ajudaram durante a manhã.”24 Brown acrescenta que os residentes no colégio permaneciam sempre ocupados com os cuidados aos rebeldes. Ele informa que centenas apareciam cansados e com fome; e fez questão de afirmar – com curiosa insistência no seu relato – que eles eram sempre “respeitosos e gratos”. Segundo Brown, os guerrilheiros eram camponeses humildes, corajosos, agradecidos pela recepção e, a despeito do terror da guerra, brincalhões.

Com o passar do tempo, combatentes e estudantes adventistas dividiam o mesmo local de refúgio – ambos se protegendo da fome e das bombas de Batista. Em dada ocasião, enquanto se preparavam para o jantar, a preceptora, Sra. Peña, explicou aos rebeldes que era costume dos adventistas orar a Deus antes da refeição. Portanto, ela pediu ao Sr. Santos, o granjeiro, que fizesse as preces: “Assim que ele começou, os rebeldes que estavam sentados se levantaram, se voltaram à direção do Sr. Santos, e permaneceram em completo silêncio durante a oração.”25 Brown sublinha que esse tipo de comportamento entre os combatentes era típico entre eles, todos simples, mas muito disciplinados. “Durante todos os dias seguintes, nenhuma palavra ou ação prejudicou a relação entre os soldados e nossa escola.”26

Ilustração do ataque contra o Colégio da União Antilhana. Fonte: Review and Herald (v. 136, n. 18, 30 de abr., 1989).
Foto aérea do Colégio da União Antilhana em Cuba. Fonte: Portadores de Luz (p. 654).

Esse comportamento, evidentemente, não se restringia aos soldados. Brown relata que, em determinada manhã, ele e outros da liderança procuram pelo comandante Che Guevara em sua sala de operações. Nessa ocasião – e pela segunda vez em sua história – o comandante dedicou tempo para ouvir a respeito da esperança adventista. A liderança também fez questão de sublinhar o seu desejo de fazer o possível para preservar a vida de todos, mas esclareceu que existiam algumas coisas que não poderiam realizar por conta da fé. “O doutor Guevara disse que já conhecia os adventistas do sétimo dia [de Sierra Maestra], e alegou que se comprometeria pessoalmente para que nada interferisse nossas convicções e práticas religiosas.”27

Dito e feito. Em uma quarta-feira, representantes dos rebeldes pediram para que o colégio imprimisse alguns folhetos de propaganda, que seriam posteriormente distribuídos em Santa Clara. A direção afirmou que as atividades da imprensa respondiam unicamente às demandas da escola, e que não poderiam imprimir materiais não relacionados à sua religião – neste caso, o engajamento oficial da instituição com a propaganda política. Receosa, a liderança também afirma que os soldados poderiam tomar as impressoras à força, se necessário. “Eles indicaram que não desejavam realizar nada por meio da força, e foram embora. Mais tarde, o líder deles me informou que o grupo encontrou outro local para a impressão, e que respeitaram os nossos princípios.”28

Durante aqueles dias, combatentes e estudantes aguardavam notícias sobre o desenrolar da guerra, e a região do campus ainda era assediada pelas bombas da ditadura. Mas o período de combate durou menos do que esperavam: “o primeiro encorajamento para os insurgentes ocorreu na manhã de segunda-feira, quando eles puderam tomar um trem fortemente armado, com mais de 300 soldados.”29 Após essa primeira vitória – e algum tempo ainda resguardando-se das bombas – os residentes no Colégio da União Antilhana puderam finalmente comemorar o fim da guerra e o advento da revolução: “Na noite seguinte em que fomos atacados, o governo ruiu, e os líderes fugiram, deixando tudo nas mãos dos insurgentes. […] Deus havia respondido nossas orações, e as orações de outros em nosso favor; e agora estávamos livres do medo de uma morte súbita por bombas e balas.”30

Com o desfecho da guerra, aos poucos os combatentes deixavam as acomodações do colégio. Mesmo assim, alguns rebeldes ainda tiveram a oportunidade de celebrar o advento da vitória socialista em companhia dos residentes; e, inclusive, participar da primeira reunião sabática pós-revolução. Nesse contexto inesperado, guerrilheiros e estudantes adventistas, entre os dias 31 de dezembro de 1958 e 1 de janeiro de 1959, no Colégio da União Antilhana, comemoraram o sucesso da Revolução Cubana.

Foto retirada, posteriormente à revolução, em que posam Fidel Castro e alguns combatentes entre alunos adventistas, trajados formalmente para a ocasião da visita. Fonte: Página oficila do Colégio da União Antilhana.

De Sierra Maestra à Santa Clara

Após reviver as duas principais experiências entre os adventistas e a Revolução Cubana, com protagonismo centrado em uma de suas principais personalidades, Ernesto Che Guevara, é difícil sumarizar os pontos de intersecção mais relevantes. Essas duas histórias não servem apenas para fortalecer os ânimos dos adventistas que – por convicção política e espiritual – compartilham dos ideais marxistas-leninistas ou martianos. Ela também deveria ser o ponto de partida para envergonhar aqueles que se esforçaram para omitir tais relatos; ou que, em iniciativas de caráter questionável, passaram por eles sem conferir a importância e a profundidade que mereciam.

Recentemente, o editor da Casa Publicadora Brasileira (CPB) Michelson Borges – pastor adventista apartidário e apolítico que mais publica opiniões sobre a política cubana –, compartilhou um vídeo e publicou um texto sobre o assunto, ambos elaborados pelo Pr. Isaac Malheiros, professor no Instituto Adventista Paranaense (IAP). Em ambos os conteúdos, alguma atenção é conferida aos adventistas em Sierra Maestra e em Santa Clara, mas com pouca profundidade e detalhamento – já que o objetivo do vídeo e do texto é falar a respeito dos adventistas após a revolução socialista.

No texto, intitulado “Adventistas apoiaram a revolução cubana?”, o Pr. Isaac Malheiros dedica dois ou três parágrafos para mencionar a relação entre Argelio Rosabal e Che Guevara, mas não se aprofunda. O objetivo não é explorar as relações positivas entre os adventistas e os revolucionários, mas enfatizar as perseguições no contexto pós-revolucionário, e os problemas que alguns pastores enfrentaram no governo socialista. Malheiros dedica, por exemplo, espaço privilegiado à opinião de Argelio R. Stomayor (filho de Argelio Rosabal), que lamenta o envolvimento do pai com os revolucionários, e atualmente, na Espanha, possui uma ideologia anticomunista. Malheiros também cita o desentendimento entre Omar Rosabal (outro filho) e o governo cubano, por ter sido acusado de agenciar prostitutas. Embora não fique clara a relação entre a polêmica e o envolvimento dos adventistas com a revolução, o assunto é utilizado como argumento para desmerecer os esforços de Rosabal e outros adventistas em prol dos combatentes em Sierra Maestra.  

O episódio de Santa Clara é mencionado de forma igualmente apressada. No vídeo, por exemplo, Malheiros cita o acontecimento em menos de 1 minuto, porque, novamente, o objetivo é relatar a perseguição que alguns adventistas sofreram no governo socialista. Mas ao contrário do caso anterior, em consideração a Santa Clara, Malheiros oferece uma informação desonesta sobre o evento: no vídeo ele dá a entender que Che Guevara impôs obrigações à liderança do colégio, afirmando que os adventistas auxiliaram o comandante “meio que obrigados”; no texto, ele afirma que “os adventistas não tiveram a opção de não colaborar”. Essas inferências ideológicas são, no mínimo, trapaceiras para um doutor. Embora o texto da Zelota não tenha conseguido traduzir a beleza da narrativa de Walton J. Brown sobre os rebeldes no Colégio da União Antilhana, ele certamente procurou enfatizar as principais insistências do autor: (1) nada foi realizado por meio da força; (2) os combatentes respeitaram a fé adventista; (3) todos eram disciplinados, gratos, cordiais, humildes, fiéis à sua causa e, não raro, bem humorados. Por isso, quando Malheiros afirma que os adventistas foram obrigados a obedecer às exigências de Che Guevara, está deliberadamente mentindo sobre os adventistas e sobre a Revolução Cubana.

É fácil incorrer em desonestidades desse tipo quando não há aprofundamento; o foco do vídeo e do texto demonstram que Michelson Borges e Isaac Malheiros estão preocupados em enfatizar o contexto sombrio que envolveu os adventistas após a revolução, e não a parceria histórica entre eles, evidenciada em Sierra Maestra e Santa Clara. Não é “errado” ler a história a partir de uma perspectiva ideológica, como os pastores fizeram em seu material; ainda assim, a afinidade a alguma ideologia (comunista ou não) não é justificativa para apresentar informações falsas dessa natureza. No terceiro texto da série “O adventismo em Cuba”, iremos explorar o contexto pós-revolucionário dos adventistas, com a profundidade e o criticismo ausentes no material dos pastores. 

Mesmo assim, a iniciativa de Borges e Malheiros foi plausível e útil para a discussão sobre os adventistas em Cuba. Eles, por exemplo, concordam com a Zelota quando afirmam que, de fato, houve simpatia e companheirismo entre os adventistas e os combatentes comunistas. Mesmo oferecendo informações parciais sobre o período pós-revolucionário – e pouca atenção ao pré –, Borges e Malheiros contribuem com o objetivo da Zelota: movimentar as discussões entre adventismo e política, e especialmente entre adventismo e marxismo. Em todo caso, a ideologia dos pastores é notável: eles diminuem as relações positivas entre os adventistas e a Revolução Cubana para afirmar sua agenda anticomunista, com foco especial às evidências negativas dessa relação. 

Discussões recentes à parte, os relatos apresentados neste artigo devem fortalecer algumas convicções entre os adventistas a respeito da revolução socialista em Cuba. Essas convicções – modéstia à parte – podem se valer de um terreno documental sólido; um ambiente repleto de fatos inquestionáveis sobre a história do adventismo. É possível (e preferível), como já afirmamos antes, que muitas outras narrativas sejam ainda escritas sobre os adventistas em Cuba; e seria para o benefício de seus membros que fossem elaboradas a partir de um mínimo conhecimento político e histórico sobre o evento.

Neste texto, fica evidente que os adventistas do sétimo dia – principalmente os leigos – se identificaram com a revolução socialista em Cuba e se mobilizaram para o sucesso da Revolução Cubana. Por mais que seus ideais religiosos não estivessem, de maneira clara, alinhados aos dos revolucionários, a dedicação dos adventistas a Che Guevara e seus combatentes é, no mínimo, surpreendente para um grupo que não se envolvia com política e recusava pegar em armas. Em todo caso, é, até aqui, inquestionável que a iniciativa dos adventistas, ao lado dos revolucionários, expressava motivações puramente cristãs. Para eles, no contexto da guerra contra a ditadura de Fulgencio Batista, não existia tal coisa como “nem esquerda, nem direita”: existia, acima de tudo, a urgência de seus deveres cívicos e religiosos que, do início ao fim da Revolução Cubana, optou pelo avanço do socialismo, de Sierra Maestra a Santa Clara.

Notas:

1. ROSADO, Caleb. Castro and the Churches. Spectrum, v. 15, n. 3, p. 24-27, [s.d.].

2. ANDERSON, J. L. Che: uma biografia. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda., 1997.

3. LYNCH, E. G. Mi hijo el Che: la verdadera dimensión humana de una leyenda del siglo XX. Plaza Y Janes Editores, 2009.

4. Leia mais detalhes ou menções sobre esse encontro em: ANDERSON, Jon Lee. Che Guevara: una vida revolucionaria. Barcelona: Editorial Anagrama, 2006; ANDERSON, J. L. Che: uma biografia. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda., 1997; USTARIZ, Reginaldo. Che Guevara: Vida, Muerte, y Resurrección de un Mito. 2. ed. Madrid: Nowtiluz, 2008; KALFON, Pierre. Che, Ernesto Guevara: Una Leyenda de nuestro Siglo. Barcelona: Plaza Y Janes Editores S.A., 1997; SÁNCHEZ, J. M. La viña de la esperanza: historia reginal y política. Santafé: Editorial Códice, 1998; GUEVARA, E. C. Diario de un combatiente: Sierra Maestra – Santa Clara (1956-1958). Editora Planeta, 2012; MACHO, I. C. Che Guevara. Madrid: Status Ediciones, 2002; GAMBINI, H. El Che Guevara. Buenos Aires: Editorial Paidos, 1968; RAMOS, M. A. Cincuenta Años de Revolución: La religión em Cuba. In: CÓRDOVA, E. (Ed.). 50 años de revolución em Cuba: el legado de los Castros. Miami: Ediciones Universal, 2009; RAMOS, M. A. Panorama del Protestantismo em Cuba. Miami: Ediciones Universal, 1986; RAMOS, M. A. La Cuba de Castro y después…: Entre la historia y la biografia. Grupo Nelson, 2007; O’DONELL, P. Che: EL argentino que quiso cambiar el mundo. Buenos Aires: Sudamericana, 2012; THOMAS, H. Cuba: A History. Penguin Books, 2010; BONACHEA, R. L.; MARTIN, M. S. Cuban Insurrection: 1952-1959. New York: Routledge, 2017.

5. GUEVARA, E. C. Diario de un combatiente: Sierra Maestra – Santa Clara (1956-1958). Editora Planeta, 2012.

6. ANDERSON, Jon Lee. Che Guevara: una vida revolucionaria. Barcelona: Editorial Anagrama, 2006.

7. O’DONELL, P. Che: EL argentino que quiso cambiar el mundo. Buenos Aires: Sudamericana, 2012.

8. CONSTENIA, J. Che Guevara: la vida em juego. Texas: Edhasa, 2006.

9. GÁLVEZ, W. Camilo, señor de la vanguardia. Editorial de Ciencias Sociales, 1975.

10. Ver KALFON, Pierre. Che, Ernesto Guevara: Una Leyenda de nuestro Siglo. Barcelona: Plaza Y Janes Editores S.A., 1997.

11. Ver ANDERSON, J. L. Che: uma biografia. Rio de Janeiro: Editora Objetiva Ltda., 1997.

12. GUEVARA, E. C. Diario de un combatiente: Sierra Maestra – Santa Clara (1956-1958). Editora Planeta, 2012.

13. CARBAJAL, C. R. Nuestro Comandante Che Guevara. Editora Catálogos, 1999.

14. CONSTENIA, J. Che Guevara: la vida em juego. Texas: Edhasa, 2006.

15. CUPULL, A.; GONZÁLEZ, F. A brave man. Editorial Jose Martí, 1997; GÁLVEZ, W. Camilo, señor de la vanguardia. Editorial de Ciencias Sociales, 1975.

16. ANDERSON, Jon Lee. Che Guevara: una vida revolucionaria. Barcelona: Editorial Anagrama, 2006, p. 349.

17. USTARIZ, Reginaldo. Che Guevara: Vida, Muerte, y Resurrección de un Mito. 2. ed. Madrid: Nowtiluz, 2008.

18. ANDERSON, Jon Lee. Che Guevara: una vida revolucionaria. Barcelona: Editorial Anagrama, 2006, p. 351.

19. BROWN, W. J. Under His Wings. Review and Herald, v. 136, n. 18, 30 de abr., 1959, p. 16.

20. USTARIZ, Reginaldo. Che Guevara: Vida, Muerte, y Resurrección de un Mito. 2. ed. Madrid: Nowtiluz, 2008.

21. BROWN, W. J. Under His Wings. Review and Herald, v. 136, n. 18, 30 de abr., 1959, p. 16.

22. Idem.

23. Idem.

24. Idem.

25. Ibid., p. 17.

26. Idem.

27. Idem.

28. Ibid., p. 21.

29. Ibid., p. 17.

30. Ibid., p. 23.