Reorganização da Igreja Adventista na África, Ásia e América Central demonstra o rápido crescimento da denominação e suas estratégias para a contenção da autonomia do Sul global
Por André Kanasiro e Stanton Witherspoon, com contribuição de Felipe Carmo e Jayden Samiadji | Matéria traduzida do original em inglês por André Kanasiro para a revista Zelota.
A Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) está redesenhando seu mapa global. Com milhares de batismos, congregações em expansão, e um forte crescimento nos dízimos — que não para de aumentar desde o final dos anos 1980 — os adventistas encontraram um terreno fértil em nações antes tomadas pela política bipolar da Guerra Fria. Enquanto a secularização diminuía o crescimento dos primeiros campos missionários da IASD, a globalização e seu espírito de livre mercado criaram novas oportunidades missionárias, alimentando um crescimento anual de 5-7% por várias décadas.
Mas o que acontece quando o evangelista vai embora e os administradores tomam o controle?
No Concílio Anual de 2025 da Associação Geral (AG), em Silver Spring, Maryland, líderes da IASD aprovaram a criação ou reorganização de três grandes territórios: A União-Associação Filipina Centro-Oriental e a União-Missão Filipina Centro-Ocidental, a União-Missão Indonésia juntamente com a União-Missão Indonésia Ocidental, e a União-Associação Gana Sudoeste com sua contrapartida, a União-Missão Gana Sudeste.
Estas medidas marcam o mais recente estágio de uma restruturação ambiciosa ratificada anteriormente, na Assembleia da AG de 2025, em St. Louis, Missouri, onde a grande maioria dos delegados votaram para receber uniões recém-reorganizadas — passando por Sudão, Filipinas, Gana, Camarões, Costa Rica e Nicarágua — na “irmandade de uniões” da denominação.
Cada uma dessas novas unidades administrativas refletem a vitalidade em algumas das regiões de maior crescimento do adventismo. Mas chama a atenção que nenhuma recebeu a classificação de associação. Cada uma delas foi organizada como união-missão, uma estrutura que celebra o crescimento enquanto mantém a gerência estreitamente alinhada aos níveis administrativos superiores.
Para muitos líderes e membros, estas expansões apresentam uma igreja cheia de vida no Sul global — porém cautelosa quanto à autonomia que confere a essas regiões. Embora seja celebrado, o crescimento é cuidadosamente administrado conforme a denominação busca equilibrar expansão e controle.
Qual é a diferença?
Por trás da celebração de novas uniões está uma antiga questão estrutural: como a IASD mundial pode sustentar uma tendência de crescimento enquanto mantém intacto o alinhamento administrativo?
Para muitos adventistas, a diferença entre uma união-associação e uma união-missão pode parecer protocolar. Mas na prática isso determina se os líderes são escolhidos por seu “corpo constituinte”, composto de delegados dos membros e obreiros de seu território, ou nomeados por seus superiores.
Uniões-associações, conforme descrito por Gerry Chudleigh, ex-diretor de comunicação da União-Associação Pacífico, são organizações autônomas que “possuem e operam faculdades e universidades, e concedem aprovação nas áreas em que associações desejam continuidade, cooperação ou uniformidade, como na aprovação de candidatos para ordenação. E as uniões conduzem planos conjuntos de associações, como oficinas, conferências bíblicas e camporis. Líderes de uniões não podem ser substituídos pela AG, e votos de uniões não podem ser suplantados por votos da AG. As uniões são autônomas e controladas por seus corpos constituintes ― as associações locais que formam a membresia da união. Neste sentido, há uma clara cadeia de comando na IASD, mas ela flui dos membros da igreja local para cima.”1
Por outro lado, uniões-missões permanecem dependentes de órgãos superiores. Conforme descrito pelos Regulamentos Eclesiástico-Administrativos (REA), “o status de Missão indica que uma organização recebe apoio direto (financeiro ou administrativo) da organização imediatamente superior. Os administradores de uma organização com status de Missão são nomeados pela organização imediatamente superior; no caso das Missões locais, são nomeados pela assembleia da União ou pela Comissão Diretiva da União entre suas assembleias; e, no caso das Uniões-Missão, pela Comissão Diretiva da Divisão” (REA B 05 02).
Em resumo, uniões-associações governam o próprio território e são controladas por seus membros locais — podendo eleger seus próprios líderes, administrar orçamentos, e enviar delegados de sua escolha à Assembleia da AG. Uniões-missões, por outro lado, têm seus principais líderes e delegados selecionados pela divisão. Em teoria, a classificação de missão é temporária — um passo rumo à autonomia plena. Na prática, muitas permanecem indefinidamente como missões.
Um líder importante da AG disse à Spectrum que o processo para mudar de categoria é extenso e deliberado. “Qualquer mudança na classificação ou no estabelecimento de uma nova união precisa passar por um processo de revisão com uma comissão de estudos estabelecida pela Comissão Administrativa da AG (ADCOM),” explicou o líder. “Essa comissão inclui representantes da presidência, secretaria e tesouraria da AG, assim como da divisão e às vezes outras divisões. Quando termina a revisão, é feita uma recomendação à ADCOM, que então passa para o Concílio de Líderes da AG e das divisões, e por fim para a Comissão Diretiva, que vai encaminhar sua proposta para a Assembleia da AG. É um processo bastante complicado, claramente delineado na Working Policy, seção B 75.”
O líder acrescentou que a comissão avalia cada caso com base na quantidade de membros, finanças, sustentabilidade, e capacidade de se manter ou contribuir à obra mundial. “Se uma união é capaz de se manter, ela receberá a classificação de associação,” disse o líder. “Se ela ainda depende de repasses, permanece como missão.”
Esse procedimento de tantas etapas ajuda a explicar por que tantos novos territórios — embora vibrantes e em crescimento — continuam a ser organizados como missões. Os votos de 2025 nas Filipinas, Indonésia e Gana mostram uma igreja em rápida expansão, mas ainda cautelosa quanto ao momento em que concederá independência administrativa plena. A história do Sul global adventista diz respeito a crescimento, mas também a controle — e como isso é negociado em diversos continentes.
Filipinas: dividindo pela missão

A tensão entre crescimento e controle fica mais clara do que nunca nas Filipinas, um dos territórios mais dinâmicos e densamente povoados da rede global adventista — e agora um ponto focal de atenção global.
Erton Köhler, presidente, Rick McEdward, secretário executivo, e Paul Douglas, tesoureiro da AG, estão neste momento nas Filipinas para o Concílio Anual da Divisão Sul-Asiática do Pacífico (SSD), que começou no domingo, dia 9 de novembro de 2025, na sede da divisão. A presença dos três sinaliza não somente uma obrigação administrativa, mas também um reconhecimento da importância crescente da região para a IASD.
Em uma publicação feita nas redes sociais ao chegar no local, Köhler enfatizou o peso estratégico e espiritual da região. A SSD inclui 11 países — Filipinas, Tailândia, Indonésia, Malásia, Cingapura, Vietnã, Brunei, Camboja, Mianmar, Timor Leste e Laos — e representa mais de 1,6 milhão de adventistas em 8.600 igrejas em meio a mais de 700 milhões de pessoas. “Ao chegar nestas terras de missão evangelística e paixão pela verdade,” escreveu Köhler, “eu oro por estas reuniões, confiando que Deus fará grandes maravilhas em Sua igreja.”
Ele também elogiou o forte ímpeto missionário da região: a SSD contém atualmente 553 missionários, com mais 63 servindo em outros países, e suas uniões se propuseram a alcançar 86 povos não evangelizados ao longo dos próximos cinco anos. “Maranata!”, concluiu Köhler.
Esta vitalidade notável continua a reformar a estrutura da IASD. No Concílio Anual de 2025, a União-Associação Filipina Central (CPUC) foi a última a passar por uma reorganização. Seu vasto território — que inclui Negros Ocidental, Visayas Ocidental, Panay Noroeste, Romblon, Visayas Central e Oriental, Samar, e Negros Oriental-Siquijor — foi dividida oficialmente em União-Associação Filipina Centro-Oriental e União-Missão Filipina Centro-Ocidental.
Em relação aos números, a história na CPUC é de força e crescimento: 224.410 membros, 1.431 igrejas e 563 empresas, apoiadas por três instituições de saúde e uma faculdade. Desde 2022, ocorreram mais de 53.000 batismos. A CPUC é financiamento robusta, mantendo 16,3 meses de capital de giro, muito acima dos seis meses exigidos. “Eles estão bem posicionados financeiramente,” afirmou Sabrina DeSouza, tesoureira associada da AG. Ela confirmou que todas as três reorganizações aprovadas no concílio deste ano — incluindo as da Indonésia e de Gana — receberam relatórios “limpos” da auditoria, sem alterações.
A divisão da CPUC foi apresentada como uma etapa para aproximar a missão dos membros espalhados pelo arquipélago. Os líderes enfatizaram que a divisão permitiria às congregações e instituições receberem apoio administrativo e cuidado pastoral mais focados.
Esta divisão mantém um padrão que passou a definir a IASD nas Filipinas. Na Assembleia da AG de 2025, os delegados já tinham votado por dividir a União-Associação Filipina do Sul, criando União-Associação Filipina Sudoeste (SPUC) e a União-Missão Filipina Sudeste (SPUM).
Antes da divisão, a União-Associação Filipina do Sul tinha 2.377 igrejas e 732.716 membros em 2022.2 Segundo a Rede de Notícias Adventistas, era a “maior união no território da Divisão Sul-Asiática do Pacífico (SSD),” com uma taxa de crescimento de 43,99% entre 2017 e 2021. Após a divisão, a SPUC registrou 286.741 membros em 1.141 igrejas, enquanto a SPUM registrou 1.302 igrejas e 422.405 membros — 135.664 membros a mais que sua irmã com classificação de associação. Ambas são fortes financeiramente, embora o dízimo per capita da SPUC seja maior e indique uma membresia menor e mais rica.

Enquanto isso, no dia 26 de outubro de 2024, a Comissão Diretiva da AG, durante seu Concílio Anual, aprovou a reorganização da União-Associação Filipina Norte (NPUC) em duas uniões-missões, a União-Missão Filipina Luzon Norte e a União-Missão Filipina Luzon Sul.
Antes da reorganização, a NPUC continha 1.639 igrejas e reportava 24,69 milhões em dízimos e ofertas combinados, numa média de US$54,33 per capita (cálculos anteriores ao ajuste na quantidade de membros).
Em uma conversa com a Spectrum, Judyben G. Cabil, secretário executivo da Missão Mindanau Central, descreveu essas restruturações como parte de um processo natural conhecido na administração eclesiástica como “bifurcação” — e que costuma ocorrer quando a IASD cresce e o território se torna grande demais para ser administrado por uma única união. Após a bifurcação de uma união-associação, ele explicou, o território onde estava a sede original permanece como união-associação, enquanto o território com uma sede nova passa a ser uma união-missão.
Este, no entanto, não foi o caso da NPUC. Cabil explicou que ambas as novas entidades foram designadas como uniões-missões porque a antiga sede estava numa região neutra entre os dois territórios. “Os novos campos precisavam dos seus próprios centros administrativos,” disse ele, “então cada um estabeleceu sua nova sede, e a antiga será usada pela igreja para outro propósito.”
Contudo, a transição carregava peso emocional. Uma declaração oficial no site da NPUC mostra um sentimento que persiste:
“Para a maior parte do corpo constituinte, a reorganização trouxe alegria, já que diz respeito ao crescimento e progresso da obra dentro da NPUC. No entanto, é inevitável que alguns dos obreiros na sede expressem uma sensação de tristeza. A reorganização, embora necessária, é uma transição agridoce, pois todos se preparam para se separar de indivíduos que consideravam parte da família.”
Os últimos anos tiveram algumas complicações para a NPUC. Em 2023, ela registrou um ajuste dramático em seu número de membros, perdendo aproximadamente 188.000 indivíduos após uma “revisão redentora da membresia” — uma iniciativa da AG para alinhar números oficiais com participação ativa. David Trim, diretor do Departamento de Arquivo, Estatística e Pesquisa (ASTR), disse que a redução refletia correções necessárias. “‘Ajustes’ é um termo técnico,” explicou ele, “usado pelo ASTR para os resultados de revisões de membresia para descrever diferenças entre o número de membros e o que era reportado.”
Trim acrescentou que “os números reportados estavam inflacionados,” mas o ASTR não sabe por quê. “No entanto, o que tipicamente acontece é que há mais acurácia para relatar entradas de membros que remoções, e isso porque fazer revisões de membresia para identificar membros que saíram não tem sido uma prioridade. Ao longo dos últimos 15 anos, isso mudou na igreja mundial, e nos alegra que a NPUC tenha conduzido uma revisão de membresia minuciosa, resultando em integridade para a quantidade de membros reportada por ela.”
Wendell W. Mandolang, secretário executivo da SSD, acrescentou que a revisão expôs desafios sistemáticos. “Nós temos um pastor para um distrito que inclui mais de dez igrejas,” disse ele à Spectrum. “Estamos tentando alcançar os membros outra vez.” Muitos membros, observou ele, tinham migrado para outros países sem transferir sua carta de membro, causando dificuldades para que as congregações mantivessem registros acurados.
Com líderes importantes da AG na região, uma nova geração de uniões tomando forma, e mais mudanças estruturais à frente, a expansão da IASD na região continua a inspirar — mas também a testar — o equilíbrio entre missão e administração.
Indonésia: uma igreja de ilhas

Se as Filipinas representam densidade, a Indonésia representa distância — uma nação com mais de 16.000 ilhas e 270 milhões de pessoas na qual a geografia define a missão. Há anos a União-Missão Indonésia Ocidental (WIUM) enfrenta o desafio de coordenar ministérios ao longo deste vasto arquipélago, partindo da capital urbana de Jacarta até as costas remotas de Kalimantan.
No Concílio Anual de 2025, este desafio levou a outra grande reorganização: a criação da União-Missão Indonésia Central (CIUM), juntamente com a reconstituição da WIUM. Ambas juntas contêm mais de 102.000 adventistas em mais de 900 congregações, quatro hospitais, duas universidades, 281 escolas, e uma casa publicadora, servindo uma das populações mais religiosamente diversas do mundo.3
Esta reorganização demonstra tanto os desafios quanto as oportunidades para missão na Indonésia. Embora o crescimento nos dízimos tenha sido modesto — cerca de 5% ao longo de cinco anos — ambas as uniões permanecem financeiramente sólidas, com liquidez e capital de giro confortavelmente acima dos níveis exigidos.
A medida de restruturação do adventismo na Indonésia também é estratégica. Ao criar duas unidades administrativas, a IASD espera servir melhor tanto as províncias urbanizadas no ocidente quanto as regiões predominantemente muçulmanas dentro da Janela 10/40 — um termo usado por missionários para descrever regiões onde o cristianismo menos entra.
Após o voto de reorganização, Saw Samuel, vice-presidente da AG — que anteriormente atuou como secretário associado da AG e ponto de contato com a as Divisões Norte-Asiática do Pacífico, Sul-Asiática do Pacífico, Sul-Asiática e Africana Centro-Ocidental — fez uma oração de dedicação, pedindo que o evangelho “chegue a cada canto destes territórios”.
Gana e Camarões: crescimento e limites da autonomia
Se as Filipinas dizem respeito a densidade e a Indonésia diz respeito a distância, a África reflete tanto o progresso quanto os limites silenciosos da autonomia nos campos em franca expansão do adventismo no continente.
Um avanço recente em Gana, que é parte da Divisão Africana Centro-Ocidental (WAD), é outro exemplo dos protocolos padrão de “bifurcação” descritos por Cabil — uma estratégia para dividir territórios grandes e prósperos em unidades menores e mais administráveis. No Concílio Anual de 2024, a comissão diretiva da AG votou reorganizar a União-Associação do Norte de Gana (NGUC) em duas novas unidades: a União-Associação Central de Gana e a União-Missão Norte-Central de Gana. A nova sede da missão foi inaugurada no dia 8 de janeiro de 2025, com a presença de líderes da união-associação “mãe”.
Antes da divisão, a NGUC continha 1.103 igrejas e 215.709 membros, com uma frequência média de 103.121 membros na igreja. Ela também arrecadou US$7,95 milhões em dízimos e ofertas — cerca de US$38,47 per capita.
No ano seguinte, no Concílio Anual de 2025, a atenção se voltou para o sul. Os delegados aprovaram outra reorganização — a divisão da União-Associação do Sul de Gana (SGUC) entre a União-Associação Sudoeste de Gana (SWCUG) e a União-Missão Sudeste de Gana (SEGUM). A bifurcação segue o mesmo modelo: a unidade existente mantém o status de associação, enquanto o território recém-formado começa como missão.

Juntas, as novas uniões de Gana servirão mais de 200.000 membros, 1.000 igrejas, e várias instituições de educação e saúde. A SWGUC terá 130.151 membros e 731 igrejas, enquanto a SGUM incluirá 70.161 membros e 353 igrejas. A divisão foi apresentada como uma forma de aproximar o cuidado administrativo e a presença pastoral das igrejas locais.4
Voltando o foco para as finanças, ambas as uniões reportaram excelente situação financeira. Em 2023, a SGUC arrecadou US$8,55 milhões em dízimos e ofertas — US$45,35 per capita.
As duas bifurcações de Gana — no norte e no sul — seguem o procedimento padrão: o crescimento é recompensado com divisão, e possivelmente, um dia, autonomia plena. As unidades recém-criadas começam como uniões-missões, o que significa que seus líderes são nomeados pela divisão, e não eleitos pelos corpos constituintes locais. A possibilidade de autogoverno vem depois.
Entretanto, outros territórios próximos sequer puderam recorrer ao procedimento padrão. No país vizinho de Camarões, a União-Missão de Camarões (CUM) também foi reorganizada durante a Assembleia da AG de 2025, e foi dividida em União-Missão Camarões Nordeste e União-Missão Camarões Centro-Ocidental. Antes da divisão, a CUM tinha 1.057 igrejas, 137.871 membros, e arrecadou US$3,2 milhões em dízimos e ofertas — cerca de US$25,79 per capita.

Esta não é a primeira divisão de Camarões. A CUM foi criada em 2013, quando a União-Missão Africana Central (CAUM) foi dividida — mas ambas permanecem como missões até hoje. Alguns líderes enxergam isso como um sinal de estagnação, não de estratégia.
“Nós já estamos prontos para o status de associação,” disse Jean-Marie Tchoualeu Nemang, que atuou como presidente da CAUM entre 2000 e 2005, em uma conversa com a Spectrum. “Nosso desejo era ter duas uniões-associações. Não recebemos dinheiro da AG ou da divisão. No nosso campo não há missões, somente associações, [então] pensamos que poderiam ser duas uniões-associações, ou uma união-missão e uma união-associação, mas eles decidiram algo diferente,” acrescentou.
Um líder importante da WAD, que foi parte da comissão que deliberou sobre a reorganização das uniões, explicou qual foi o raciocínio por trás destas decisões. “É um problema quando as uniões se tornam associações, pois elas ficam autônomas e querem ser independentes da divisão,” disse ele. “Elas podem receber conselhos da divisão, mas não têm que segui-los.” Segundo ele, ao lidar com uniões-associações, a divisão é como um “buldogue sem dentes”. “Nós somos uma igreja só,” acrescentou ele.
Esta afirmação revela a tensão mais profunda a moldar o mapa administrativo do adventismo. A IASD está crescendo rapidamente no Sul global, mas seu modelo de administração frequentemente mantém as rédeas da autoridade firmemente nas mãos dos que estão no topo. Para Camarões, assim como boa parte da África, a expansão é celebrada. A autonomia pode esperar.
Em outros lugares do continente, as reorganizações continuaram por razões políticas e estratégicas — mais notavelmente no Sudão.
Realinhamento do Sudão
Em um ajuste geopolítico significativo, o Sudão será separado da União do Oriente Médio e África do Norte e alinhado com a Divisão Africana Centro-Oriental (ECD). A mudança responde à continuidade do conflito e da instabilidade no Sudão, o que tornou a administração a partir do Egito cada vez mais difícil. Ao unir Sudão do Sul e Sudão em uma única estrutura administrativa, os líderes da IASD esperam melhorar a coordenação e abrir novas oportunidades de missão e desenvolvimento de lideranças em ambos os territórios.
Esta decisão demonstra como o mapa administrativo do adventismo é moldado não somente pelo crescimento no número de membros e na arrecadação financeira, mas também pela política regional e pelas realidades geográficas.
Costa Rica e Nicarágua
A mesma lógica de proximidade e praticidade aparece atravessando o Atlântico. Na América Central, a União-Missão Sul-Centro-Americana (SCAUM) foi dividida em 2024 para criar a União-Missão Costa Rica e a União-Missão Nicarágua — dois territórios que, embora sejam financeiramente estáveis e autossustentáveis, ainda são classificados como missões, e não como associações.
Antes da divisão, a SCAUM continha 582 igrejas, 79.550 membros, e arrecadou cerca de US$13 milhões em dízimos e ofertas anuais, com um valor notável de US$170,62 per capita. Segundo um líder da União-Missão Costa Rica, “a Nicarágua tem um crescimento maior no número de membros, enquanto a Costa Rica tem mais dinheiro”. Ambos os territórios, disse ele, prosperam, mas exigem estratégias diferentes para suas realidades sociais e econômicas específicas.
Na Universidade Adventista da América Central (UNADECA), na Costa Rica, um líder descreveu o contraste mais vividamente: “Nós não alcançamos a classe média, mas geramos uma classe média.” O maior custo de vida da Costa Rica e sua grande população profissionalizada representam um desafio distinto, enquanto a membresia jovem e em rápida expansão da Nicarágua alimenta a energia evangelística.
Até 2003, boa parte da América Central operava como uma única unidade administrativa — a União-Associação da América Central, organizada em 1926. Ela incluía Belize, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e as Ilhas da Baía. Duas décadas atrás, a região foi dividida em três uniões-missões — Centro-Americana Norte, Central e Sul — e cada uma foi subsequentemente dividida por país. Um funcionário da UNADECA descreveu o processo como “balcanização” — uma fragmentação de entidades grandes em unidades menores e mais dependentes. “É uma questão de poder,” disse ele.
A Divisão Interamericana tem atualmente 24 uniões, mas somente 11 têm o status de associação. Nenhuma das uniões que compunham a SCAUM conquistaram autonomia até hoje.
Uma estratégia deliberada
Para Köhler, estas reorganizações não são acidentais, e sim estratégicas. “Quando uma união começa a crescer, nós temos duas decisões a tomar,” disse ele à Spectrum durante uma coletiva de imprensa na Assembleia da AG de 2025. “A primeira: passamos essa união do status de missão para o de associação, ou segunda: dividimos essa união e formamos duas uniões, para estarmos mais próximos das pessoas e de suas necessidades.”
Köhler fala a partir de sua própria experiência. Durante seu mandato de 15 anos como presidente da Divisão Sul-Americana (DSA), ele administrou um território que inclui 16 uniões — quatro uniões-associações e 12 uniões-missões —, refletindo um crescimento notável e a abordagem cautelosa da IASD quanto à concessão de autonomia. A despeito do forte desempenho financeiro e da força dos membros em muitas dessas uniões, nenhuma foi elevada ao nível de associação durante o seu mandato.
“Essa foi a nossa estratégia na época,” afirmou Köhler. “Ao invés de só mudar o status das uniões, criamos uniões novas para potencializar a obra da igreja nessas regiões.”
Segundo o artigo B 60 do REA e o B 65 25 da GC Working Policy, uma missão que busca o status de associação precisa primeiro consultar líderes da AG, para depois a comissão diretiva da divisão aprovar uma comissão de estudo para avaliar o preparo da entidade. Os regulamentos citam critérios tais como fidelidade às crenças adventistas, autossuficiência financeira, e capacidade de liderança — mas muitos destes critérios são subjetivos, deixando aos administradores dos níveis superiores um poder discricionário considerável. Na prática, este processo pode atrasar ou impedir indefinidamente a conquista de autonomia local.
“Eu acho que a melhor forma de dar autonomia é dar voz a elas,” disse Köhler, acrescentando que “não estamos buscando poder”. Mas ainda não está claro como vozes locais já existentes podem ser ouvidas neste processo.
Novos líderes e novos começos
Com os votos lançados e os mapas desenhados, a atenção agora se volta à implementação. Durante as últimas reuniões de final de ano nas respectivas divisões — incluindo as Divisões Sul-Asiática do Pacífico, Africana Centro-Ocidental, Africana Centro-Oriental, e Interamericana — novos líderes foram eleitos para começar oficialmente a administrar a IASD nas uniões recém-formadas.
Suas eleições sinalizam continuidade e mudança: rostos familiares à administração guiando territórios recém-desenhados, e líderes locais assumindo cargos maiores devido à estratégia de missão global da IASD. Para muitos adventistas, a esperança é que estes novos começos tragam a administração para mais perto das pessoas enquanto preservam a vitalidade que alimentou o rápido crescimento da IASD por todo o Sul global.
Notas:
1.↑ Gerry Chudleigh, Who runs the Church? Understanding the Unity, Structure and Authority of the Seventh-day Adventist Church (AdventSource, 2013), p. 24.
2.↑ Os números oficiais vêm do Seventh-Day Adventist Yearbook de 2022 e do 2024 Annual Statistical Report, publicado pelo Departamento de Arquivo, Estatística e Pesquisa da AG, e que contém os relatórios estatísticos de 2023. Outras fontes serão sinalizadas no artigo.
3.↑ Dados do Concílio Anual de 2025.
4.↑ Dados do Concílio Anual de 2025.





