No e-mail, ele denuncia irregularidades financeiras na Associação Paulistana, questiona a transparência da liderança e critica a baixa participação dos membros leigos em processos decisórios


Três dias após da publicação da matéria “A Associação Paulistana e a fantástica fábrica de batismos“, a revista Zelota recebeu por e-mail a reação de um primeiro ancião adventista de influência. No e-mail, ele comenta os fatos divulgados e questiona a integridade e transparência da liderança da Associação Paulistana (AP) da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), denunciando uma série de irregularidades financeiras e administrativas dentro da instituição. Ele também expressa preocupação com a credibilidade da organização e critica a falta de participação efetiva dos membros leigos nos processos decisórios.

Com a autorização do remetente, o e-mail segue na íntegra:

Prezados Editores da Zelota.

Inicio essa correspondência com um certo receio. Sou ancião de uma grande e importante Igreja Adventista do Sétimo Dia no Brasil e não costumo seguir as suas publicações, por discordar da linha editorial de seu veículo.

Contudo, após perceber a imensa repercussão da matéria publicada, revelando os problemas na Secretaria da Associação Paulistana da IASD, entendi que deveria encaminhar este email, inclusive solicitando e autorizando a sua publicação, desde que respeitado o direito de sigilo das fontes, conforme assegura a Constituição Federal do Brasil, artigo 5°, inciso XIV. Essa autorização é dada apenas para a publicação na íntegra dessa carta, sem qualquer supressão ou alteração de seu conteúdo.

Aos fatos e questões:

Me causou grande preocupação saber que no mesmo período em que a Comissão Diretiva da Associação Paulistana da IASD, liderada pelo Presidente Pastor Romualdo Larroca, julgava o caso da Nova Semente como sendo uma “insubordinação administrativa e doutrinária” do Pastor Edson Nunes, dos líderes e a da maioria dos membros daquela Igreja, quase a metade dos Pastores Diretores de Departamentos da Associação Paulistana estavam envolvidos em uma série de irregularidades.

Os responsáveis pelo juízo eclesiástico da IASD a respeito das questões da Nova Semente, enquanto conduziam este processo que culminou com a remoção de centenas de pessoas do rol de membros da Associação Paulistana, incluindo pastores e obreiros, realizavam as seguintes “obras”:

1. Desvio de recursos financeiros da própria Associação, através do pagamento em ressarcimento à apresentação de despesas comprovadas por Notas Fiscais falsas apresentadas para reembolso à Tesouraria da Associação Paulistana, a qual é liderada pelo Pastor Marildo Vivan;

2. Captação de recursos de terceiros, assemelhado ao Esquema de Ponzi ou pirâmide financeira, liderado pelo Evangelista Pastor Celso Cidral, tendo como principais envolvidos alguns dos Diretores de Departamentos, como: Pastor César Reis, Diretor de Mordomia e Saúde; Pastor Alex Gonsalves, Diretor de Ministério Pessoal e Escola Sabatina; Pastor Reginaldo de Souza, Diretor de Publicações e Espírito de Profecia; Professora Nadma Forti, Diretora de Ministério Infantil; Pastor Vicente Pessoa, Diretor Ministerial; que foram quase todos afastados de suas posições de liderança ou aposentados compulsoriamente por irregularidades em empréstimos ou golpes financeiros contra um número ainda desconhecido de pastores, obreiros e membros. Vale ressaltar que nesse tipo de operação, vítimas e autores se confundem, uma vez que todos concorrem para o mesmo objetivo, que é o ganho financeiro insustentável por si mesmo;

3. Fraude nos batismos, com pagamento de propina e entrega de presentes para os batizandos, muitos dos quais se batizaram inúmeras vezes, sendo pagos com dinheiro obtido da Tesouraria da Associação Paulistana;

4. Envolvimento de dezenas de Obreiros Bíblicos, Pastores Distritais e provavelmente outras pessoas que forneciam as Notas Fiscais falsas, que foram utilizados como “laranjas” no trânsito do dinheiro obtido do caixa da Associação Paulistana, em um esquema sofisticado de distribuição e partilha do dinheiro apropriado. Esquema esse que pode ser facilmente identificado em qualquer relatório contábil e comprovado em extratos bancários e notas fiscais frias;

5. Fraude nos relatórios da Secretaria da Associação Paulistana, liderada pelo Pastor Ronaldo Oliveira, com inclusão dos nomes dos batizados no Sistema de Controle de Membros, repetidas vezes, sem que nunca fossem detectadas as irregularidades nos lançamentos sucessivos e repetidos dos mesmos nomes, indicando uma falha inexplicável em um Sistema de Controle de Membros do qual a própria IASD se orgulha. Houve apenas comprovada incompetência da equipe liderada pelo Pastor Ronaldo Oliveira na Secretaria da Associação Paulistana nessa questão ou também má-fé, para produzir relatórios falsos de crescimento?

Mas há aspectos ainda mais graves e de pior consequência, que ultrapassam os próprios deslizes praticados. Quanto vale a imagem de uma Organização Religiosa Global, que vive exclusivamente da sua imagem diante de seus membros e da opinião pública? Uma Organização Religiosa que divulga ser transparente, austera e irrepreensível em sua conduta administrativa?

Estamos falando de uma grave crise na Associação Paulistana e na União Central Brasileira, instituições de primeira grandeza no cenário adventista mundial!

Vejam vocês algumas repercussões e consequências:

1. Quebra da credibilidade dos processos da Secretaria da Igreja Adventista. A Divisão Sul-Americana, durante o período da presidência do Pastor Erton Köhler, investiu em um Sistema de Controle de Membros, que foi implementado pelo Pastor Magdiel Schulz, então Secretário da DSA. Esse programa foi divulgado para a IASD mundial como um grande avanço nos procedimentos da Secretaria Oficial da IASD. A repercussão foi tão grande e positiva que alavancou os nomes dos seus idealizadores! O Pastor Magdiel Schulz foi eleito Assistente da Presidência da Associação Geral em 2015, e o Pastor Erton Köhler foi eleito Secretário Mundial da IASD em 2022! Ambos ocupam essas importantíssimas posições de liderança na mais alta cúpula administrativa na Sede da IASD em Washington, EUA. Esse escândalo compromete toda a credibilidade do Sistema de Controle de Membros criada pelos referidos pastores, revelando que a Secretaria da IASD pode ser facilmente manipulada e isso impacta os números e resultados nos relatórios apresentados à Igreja Mundial!

2. Comprometimento da confiança dos membros na Fidelidade. O Departamento de Mordomia ensina aos membros da IASD que é preciso manter a fidelidade nos dízimos e ofertas, ao mesmo tempo em que o Departamento da Tesouraria divulga a ideia de que é praticamente impossível haver desvio de recursos dentro da estrutura administrativa. Essa crise da Associação Paulistana lança por terra esse conceito de que os recursos da IASD estão blindados de fraudes e desvios, revelando que qualquer pastor ou obreiro pode desviar grandes somas de dinheiro com assustadora facilidade ao apresentar Notas Fiscais falsas. Onde estão os mecanismos de controle e fiscalização?

3. Essas fraudes podem colocar a IASD em vulnerabilidade diante dos Órgãos Governamentais de Fiscalização e Controle, como Receita Federal e Ministério Público;

4. A evidente constatação de que existem grupos de servidores da IASD que se reúnem para controlar e manipular instituições em seu benefício próprio, enquanto agem com injustiça e espírito de vingança contra aqueles que não fazem parte de sua facção. No caso específico da Nova Semente, se revela o uso de estratégia conhecida e muito utilizada por grupos criminosos que é a de criar uma “cortina de fumaça”, criando um conflito que não existe de fato, conduzindo toda a atenção das pessoas para um lado, enquanto se realizam delitos de grande gravidade por parte dos próprios acusadores, que detêm o poder e o controle institucional em suas mãos;

5. Vergonha e humilhação da IASD nas redes sociais e diante da Igreja Mundial e outros grupos religiosos, expondo fragilidades que certamente serão exploradas pela má-fé de muitos;

6. Mas o mais grave, a destruição da fé e da possibilidade de crença de milhares de 

pessoas humildes que foram cooptadas por sua posição de vulnerabilidade econômica. Milhares de pessoas humildes que trocaram o batismo por uma cesta básica, por uma nota de 50 reais! Pessoas humildes de quem foi roubada a oportunidade da verdadeira conversão! Pessoas das favelas, da periferia, que enfrentam fome e escassez, exploradas em suas fragilidades. Pessoas que deveriam ter sido acolhidas em suas necessidades físicas e espirituais, mas que foram utilizadas como objetos da ganância de Pastores Corruptos!

Diante do nosso espanto e diante de todo o escândalo e vergonha a que esses falsos pastores submetem a igreja, é de se perguntar como o Senhor olha para tudo isso!

O que Deus espera de nós, membros fiéis da Igreja Adventista do Sétimo Dia, diante desses fatos?

Diante de Deus, o devemos fazer?

Nos calar em silenciosa omissão, permitindo que os maus obreiros continuem a roubar a dignidade e a pureza da Igreja Adventista do Sétimo Dia, comprometendo a Missão Profética da pregação da mensagem da Volta de Cristo?

Nós que ensinamos nossos filhos a confiar na igreja e nos seus pastores, como devemos explicar a existência de tantos pastores corruptos e enganadores?

Nós que mantemos a Igreja Adventista do Sétimo Dia com a fiel entrega de dízimos e ofertas, como voltar a confiar que os recursos entregues são administrados com fidelidade e retidão?

Não está na hora de exigir que a IASD 

aprimore as suas práticas administrativas e financeiras, abrindo mais espaço para a participação dos membros leigos, que a sustentam?

A IASD afirma em seus documentos e manifestações oficiais que é gerida por um Sistema Representativo de todos os seus integrantes: membros, líderes leigos ou obreiros. Mas isso não é verdade. A proporcionalidade da participação dos membros da igreja, que são a maioria, é mínima e apenas figurativa. São eleitos para as Assembleias e Comissões Diretivas pouquíssimos membros e sempre são escolhidos dentre aqueles que são os “amigos do poder”.

Eu mesmo já fui Delegado e Membro de Assembleias, Mesas Diretivas, Comissões de Nomeações, em diversas ocasiões, nas mais variadas instâncias da Organização Adventista. Estive em 3 Assembleias da Associação Geral e este ano participarei novamente, no mês de julho, em St. Louis. Posso afirmar que, nesses momentos, nós, os membros leigos, nos sentimos muito pequenos e “sem voz” diante de uma multidão de obreiros que parecem já conhecer os rumos das decisões.

Chegou o momento da Igreja Adventista do Sétimo Dia se tornar, de fato, aquilo que ela afirma ser: uma Igreja transparente, que presta contas aos seus membros, comprometida com a sua Missão e que não se permite ser manipulada ou controlada por aqueles que buscam o exercício e o controle do poder.