O batismo em massa é fruto de uma campanha evangelística internacional da IASD em um país com políticos importantes adventistas, no qual conversões espelham divisões tribais
Papua New Guinea Union Mission of Seventh-day Adventist Church (Facebook)
Por Nate Miller | Estagiário de verão na Spectrum em 2024. Estuda inglês, piano e francês na Universidade Andrews. Traduzido e adaptado do original em inglês por André Kanasiro para a revista Zelota.
Mais de 260.000 pessoas foram batizadas na empreitada evangelística recente da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) em Papua Nova Guiné: “PNG para Cristo”.
Descrita como uma “campanha de colheita e discipulado”, a série focada em batismos em massa foi composta de cerca de 2.000 programas evangelísticos. Estes foram realizados ao entre 26 de abril e 12 de maio em 162 locais espalhados pelo Estado Independente de PNG, com uma população de cerca de 10 milhões.
Quase 300 líderes internacionais da IASD, incluindo Ted Wilson, presidente da Associação Geral (AG), Erton Köhler, secretário da AG, e Glenn Townend, presidente da Divisão Sul-Pacífico (DSP), falaram em várias localidades como parte do evento nacional.
Ted Wilson, que fez uma série de sermões de 16 noites sobre o Apocalipse da Esperança em Minj, foi recebido por uma multidão massiva quando chegou, no dia 24 de abril.
O primeiro-ministro da PNG, James Marape — que fez pressão por uma emenda constitucional nomeando Deus “como o criador e mantenedor de todo o universo”, juntamente com o presidente da Suprema Corte e o presidente da Câmara (todos adventistas) — deu boas-vindas publicamente a Ted Wilson.
“O principal motivo para buscarmos convidados internacionais como oradores”, disse Malachi Yani, presidente da União-Missão Papua Nova Guiné, “foi o aprendizado — isso é primário.”
Embora em algumas partes da PNG tenha aumentado o número de mortes em conflitos tribais, nenhum orador internacional visitou áreas próximas aos casos de violência.
“Vir até aqui e fazer uma parceria com esta província,” disse David Butcher, presidente da Associação Sul-Australiana, “é maravilhoso, pois vemos algo maior [que nós mesmos].”
Um vídeo publicado por Erton Köhler em suas redes sociais mostra espectadores em celebração enquanto acompanham grupos massivos de pessoas vestidas de branco e aguardando o batismo no litoral da PNG. “5.000 pessoas se batizando na praia em Port Moresby”, disse Köhler.
“Fiquei impressionado,” disse Ronald Lawson quando a reportagem oficial da IASD foi citada para ele. Lawson, notório sociólogo adventista, viajou ao redor do mundo, incluindo a PNG, entrevistando mais de 4.500 adventistas em todos os níveis da denominação.
Muito do que determina se você é um adventista na PNG “é em qual vila você nasceu”, diz Lawson. É importante, ele explica, entender este fenômeno no contexto de afiliação tribal e de mistura sincrética entre cristianismo e animismo.
Mas os batismos em massa não se restringiram a áreas costeiras — havia tantos pedidos de batismo que eles também foram realizados em riachos e piscinas improvisadas.
De acordo com Ted Wilson, o objetivo da campanha evangelística é um total final de 600.000 batismos. A membresia oficial da União-Missão Papua Nova Guiné é de 395.636 pessoas.
Lawson também compartilhou um evento que ele testemunhou na PNG.
Minha primeira viagem para fazer entrevistas na PNG foi em 1986, quando já havia muitos políticos adventistas que eu estava ansioso para entrevistar. Um deles era de uma das primeiras vilas a se tornar adventista nos planaltos orientais: Kabiufa. Esta vila era o local da escola adventista de ensino médio mais famosa na PNG. Ela foi a primeira de nossas cinco escolas de ensino médio a oferecer turmas até os 18 anos de idade, o que possibilitou uma formação excepcionalmente boa para os adventistas. (Os outros 4 colégios adventistas com ensino médio só iam até os 15-16 anos.) Eu estava hospedado com o presidente da missão, na época ainda um australiano, em Goroka.
Em uma manhã de sábado nós passamos por 3 igrejas, terminando na igreja da vila de Kabiufa. O político e eu nos reconhecemos de nossa entrevista, e nos cumprimentamos após o final do culto. O presidente, cheio de orgulho, me levou de carro pela cidade no sábado à tarde, mostrando-me como era significativa a presença adventista nos planaltos orientais. Quando retornamos à casa do presidente na hora do jantar, recebemos notícias chocantes: o político teve o que chamamos de infarto naquela tarde e morreu. Os anciões da vila queriam que o presidente da missão o ressuscitasse na manhã seguinte. O presidente ficou muito nervoso — como ele poderia recusar tal pedido, já que ele estava no Novo Testamento? No entanto, ressurreições parecem não ocorrer mais. A tentativa de ressurreição na manhã seguinte não foi bem-sucedida.
Mas o presidente da missão voltou para casa com notícias perturbadoras: os anciões do vilarejo tinham se reunido depois para determinar quem foi o responsável pela morte de seu líder, e tinham decidido que uma vila vizinha não adventista era a culpada. Suas ações estavam de alguma forma associadas aos seus ancestrais, que ainda eram parte da vila, e os ancestrais de ambas as vilas eram inimigos tradicionais. O presidente da missão ficou muito preocupado: ele me disse que isso levaria a um conflito armado entre as duas vilas, e que provavelmente haveria feridos ou mortos.
“Eu imagino até que ponto os políticos adventistas da PNG estão envolvidos nisso”, acrescenta Lawson. “Quando eu perguntava a estes políticos como ser um adventista impacta o tipo de políticas que eles buscam, eles me olhavam sem entender.” Ele se lembra de um líder político finalmente se oferecendo para “conseguir um lote de terra para a igreja”. Refletindo a respeito das notícias, Lawson perguntou: “Quem estamos batizando? De quais vilas eles vêm? Por que eles estão se batizando agora?”