A exigência de que certos delegados da Assembleia Geral sejam funcionários em tempo integral exclui uma boa parcela de obreiros adventistas, especialmente mulheres e pessoas com deficiência


Por Tom de Bruin | Artigo traduzido e adaptado do original em inglês por André Kanasiro para a revista Zelota.

Tom de Bruin é um pesquisador em estudos bíblicos da África do Sul, Holanda e Reino Unido. Ele tem sido um pastor e administrador da União na Holanda, e um professor de Novo Testamento no Newbold College, Reino Unido. Encontre-o em seu Twitter ou em seu website, tomdebruin.com

(Foto: Pieter Damsteegt | North American Division)

Durante a sessão de segunda-feira na Assembleia Geral (AG), uma emenda para definir melhor “funcionários na linha de frente” na constituição e nos estatutos da Associação Geral foi votada pelos delegados. Ela aparece na agenda da seguinte forma:

Ela define uma categoria de participação executiva com poder decisório que permite a representação de funcionários não administrativos. Um bom número de delegados viu problemas na redação, e a emenda foi enviada de volta à comissão para revisão.

É um fato que os delegados da AG são majoritariamente homens e muito mais velhos que o adventista médio. Eles também são geralmente sem deficiências físicas e trabalham em tempo integral para a igreja. Eu me preocupo com a proposta sugerida, já que ela tem potencial para reduzir ainda mais a diversidade de delegados que tomam decisões sobre o futuro do adventismo.

A proposta é bastante simples. Na seção que define quantos delegados cada Associação pode enviar para a AG, algumas palavras foram acrescentadas para esclarecer o que exatamente a constituição quer dizer com o termo “funcionário denominacional na linha de frente”. A necessidade deste esclarecimento já ficou aparente com alguns comentários da plenária. Por exemplo, Paul Bhaggien, vice-chanceler da North East Adventist University na Índia, apontou que ficava contente em saber que trabalhadores na linha de frente eram não só obreiros pastorais, mas também professores.

Com base em minha experiência, a redação foi ao mesmo tempo abundantemente clara e impossivelmente complexa. O espírito da constituição é claro: eles querem funcionários que não trabalham na administração. O fato de que isso inclui pessoas além de pastores também está claro. Que outro sentido essa frase — “pastor de igreja ou outro funcionário denominacional na linha de frente” — pode ter? Isso é muito mais complexo na prática.

As questões chave incluem:

1. Quanto tempo você precisa gastar na linha de frente para ser classificado como linha de frente?

2. Administração só significa União, Associação e Missão, ou inclui a administração de hospitais e escolas?

3. O diretor de uma escola adventista é um funcionário na linha de frente? E se a escola for muito pequena e só funcionar quatro dias por semana?

4. E quanto ao cirurgião que também administra um hospital de missão? O que fazemos para Associações menores onde vários pastores também têm alguma posição administrativa?

A redação revisada não resolve essas questões. A sugestão é substituir “funcionário denominacional na linha de frente” por “funcionário denominacional na linha de frente em tempo integral, tal como obreiro bíblico, profissional de saúde, colportor, professor, etc.” O leitor atento vai perceber o que alguns delegados também apontaram. Além de dar exemplos, a redação agora inclui o termo “tempo integral”. Em um primeiro momento, alguém pode achar que isso resolve os problemas acima — um cirurgião que faz trabalho administrativo está desqualificado desta categoria, já que ele não trabalha na linha de frente em tempo integral. Mas a composição sugerida acrescenta outra exigência a esses delegados: eles precisam trabalhar para a igreja em tempo integral.

Isso discrimina contra funcionários de meio período, muitos dos quais são mulheres e funcionários com deficiência. A Working Policy exige um emprego em tempo integral para muitos funcionários. Com base em minha experiência, eu sei que essas políticas não são rigorosamente aplicadas (lembre-se de que 79% das organizações eclesiásticas eram inconformes em 2018), mas você nunca sabe quando administradores vão subitamente sentir que uma política é central.

Um local onde isso acontece considera credenciais e licenças, que só podem ser dadas a funcionários que trabalham em tempo integral. A dificuldade aqui é que quase nenhum funcionário da igreja pode fazer seu trabalho sem uma credencial ou licença. Mas A licença ministerial (ordenação) ou licença ministerial comissionada é vital para o seu trabalho, especialmente para pastores. A partir de conversas com administradores de Divisões, eu sei que algumas pessoas têm opiniões bem fortes sobre o assunto. Eu já ouvi de administradores em cargos elevados: “Se você não pode se comprometer 100% com o seu chamado, isso é mesmo um chamado?” Eu espero não ter que explicar o quanto essa atitude diminui a variedade disponível de experiências vividas que contribuem para a tomada de boas decisões.

Felizmente, quando eu fui secretário de União na Holanda, leis locais contra discriminação nos proibiam de aplicar essa política de tempo integral. Eu sei a partir de colegas que este é o caso em boa parte da Europa. Exigir um emprego em tempo integral é visto como equivalente a discriminação por gênero e discriminação contra pessoas com deficiência. Isso nos permitiu ordenar e comissionar funcionários de meio período, em inconformidade com a política eclesiástica.

Ontem, na AG, Johannes BOchmann, da Associação Berlim-Central Alemã, de fato apontou que exigir de obreiros na linha de frente um expediente integral exclui vários de seus colegas. A questão da discriminação não foi levantada com muita força, mas ainda podemos esperar que a comissão responsável na AG dê ouvidos. Mais tarde essa semana eles talvez tragam de volta uma redação revisada que seja menos discriminatória contra a maioria dos adventista do sétimo dia. De outro modo, a igreja vai dar outro passo para garantir que delegados não representem a importante diversidade da igreja.