Saídas de Jabson Magalhães da Silva e de Marlon Lopes do quadro de líderes da Igreja Adventista lançam questões sobre papel de Erton Köhler em irregularidades de seguradora


Por André Kanasiro | matéria elaborada na parceria entre revista Zelota e Spectrum Magazine.

Em setembro do ano passado, Jabson Magalhães da Silva, diretor financeiro (CFO) da União Sudeste Brasileira (USEB) da Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD), renunciou ao seu cargo silenciosamente, após 37 anos de obra. Em uma mensagem do WhatsApp atribuída a ele e compartilhada em círculos pastorais, Jabson afirmou permanecer um adventista do sétimo dia — embora como obreiro “voluntário” — e que saía com a “cabeça erguida”.

No dia 12 de setembro de 2024, Willian Carvalho Ferreira, que havia trabalhado como diretor financeiro da União-Missão Leste Brasileira (ULB), foi eleito como novo CFO da USEB. A reportagem oficial da IASD sobre a nomeação não fez menção a Jabson, que ocupava o cargo anteriormente.

A renúncia de Jabson parece ser outra casualidade da investigação da Adventist Risk Management (ARM, Inc.) em sua filial na América do Sul (ARM-SA).

Conforme reportado pela Zelota, o trabalho da auditoria da Associação Geral (GCAS) levou a uma investigação, no início de 2024, das irregularidades administrativas na ARM-SA. A ARM, Inc. revelou que pelo menos R$30 milhões de reais foram apropriados indevidamente. Jabson estava entre os líderes da IASD mais importantes que foram implicados na investigação, mas não foi removido por não estar sob a jurisdição da ARM.

Antes da criação da ARM-SA, Jabson trabalhou como auxiliar do diretor financeiro para a Associação Norte-Paranaense, e foi o diretor financeiro da União Sul-Brasileira e da Associação Planalto Central. Quando Erton Köhler, na época presidente da Divisão Sul-Americana (DSA), fundou a ARM-SA, em sua tentativa de centralizar fundos mútuos de uniões sob sua supervisão, ele nomeou Jabson como diretor geral. Embora Jabson tenha deixado a ARM-SA em 2018 para ser o CFO da USEB, foi ele que estabeleceu o conselho da ARM-SA que foi demitido em março de 2024, e foi severamente implicado nas irregularidades quando começaram as investigações.

Desde o início da investigação, o destino de Jabson esteve em um cabo de guerra entre a DSA — que buscava cortar seus laços com a IASD — e a USEB, que, como União-Associação, tem a palavra final quanto a seus líderes. À parte de uma licença pessoal de 20 dias em março de 2024, Jabson continuou trabalhando como de costume ao lado de Hiram Kalbermatter, presidente da USEB. O impasse entre Divisão e União foi quebrado com o surgimento de novas alegações afirmando que Jabson teria recebido uma “mesada” da ARM-SA desde 2011. Fontes que conheciam Jabson ao longo da última década notaram que seu estilo de vida sempre pareceu incompatível com seu ministério eclesiástico. 

Além disso, no dia 1º de junho de 2024, Marlon Lopes, o CFO da DSA, anunciou sua aposentadoria antecipada, que não estava programada para acontecer antes da Assembleia Geral de julho de 2025. O envolvimento de Marlon com as irregularidades permanece pouco claro, mas acredita-se que as investigações forçaram sua aposentadoria antecipada, já que tais inconsistências financeiras, na melhor das hipóteses, só seriam possíveis sob a vista grossa de líderes da DSA.

Originalmente do Rio Grande do Sul, Marlon começou sua carreira financeira como contador no Instituto Adventista Cruzeiro do Sul, e então foi tesoureiro auxiliar no Serviço Educacional Lar e Saúde, na Associação Paranaense e na Associação Norte-Paranaense. Ao tornar-se tesoureiro, Marlon trabalhou no Instituto Adventista Paranaense, na Associação Mato-grossense e na União Sul-Brasileira. Então, no ano 2000, Marlon foi nomeado como diretor geral da TV Novo Tempo.

Em 2010, através da mediação de Erton Köhler, Marlon tornou-se o CFO da Divisão, próximo da época em que a ARM-SA se estabeleceu. Marlon foi reeleito em 2015. Com muito conhecimento das operações financeiras da Divisão, Marlon era consultado na seleção de tesoureiros de confiança em toda a América do Sul, e fornecia listas fechadas de candidatos para que as instituições da IASD escolhessem. Uma fonte que preferiu não se identificar descreveu uma atmosfera de máfia, na qual currículos e entrevistas não eram necessários. Se você estivesse na lista, te ofereciam um cargo, e era bom que você estivesse pronto para se mudar com sua família para onde quer que te mandassem.

Conforme reportado anteriormente, a centralização de Köhler dos recursos da IASD levou a uma mistura de fundos e uma mentalidade de “caixa dois”. Apesar da renúncia de Jabson e da aposentadoria antecipada de Marlon, permanecem perguntas a respeito da contribuição dos esforços centralizadores de Köhler para a criação de uma cultura na qual se borrava a linha entre os usos de fundos específicos. Como Köhler supostamente se ressentia ao ser deixado de fora de assuntos administrativos, Marlon raramente tomava decisões sem sua participação.

Tais procedimentos para selecionar tesoureiros de uniões não estão estipulados na Working Policy. Nem as orientações para nomeação (B 20 10), nem os estatutos modelo (D 05-25) fazem referência a uma lista fechada de candidatos oferecida pelo tesoureiro antes da eleição para um cargo. Para além da política denominacional, não está claro se essas práticas se adequam a quaisquer padrões de independência e transparência, tais como os promovidos pelo Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Edson Erthal de Medeiros, que ascendeu ao cargo de tesoureiro da DSA após apoiar a centralização de fundos por Köhler, é candidato à reeleição na Assembleia Geral deste ano.