Erton Köhler, o novo presidente da Associação Geral, apresenta uma nova visão para o adventismo, mas o legado fundamentalista de Ted Wilson paira sobre a denominação
Por Alexander Carpenter e Samuel Girven | Fotos de Köhler por Sandra Muñoz. Traduzido e adaptado do original em inglês por André Kanasiro para a revista Zelota. Republicado em colaboração com SPECTRUM: o periódico e website do Adventist Forum desde 1969. www.spectrummagazine.org
No dia 4 de julho de 2025, mais de 61% dos 277 delegados na comissão de nomeações da Assembleia da Associação Geral (AG) de 2025 declararam sua independência do presidente Ted Norman Clair Wilson. Quinze anos antes, após ser eleito presidente da AG, a primeira coisa que Ted Wilson disse aos milhares de adventistas no culto de seu sermão pós-eleição, realizado no agora demolido Georgia Dome, foi para ninguém aplaudir se concordasse com ele.
Ao invés disso, ele disse, “respondam com um ‘amém’ sincero ao invés de aplausos”. Wilson tinha passado 10 anos como vice-presidente geral da AG, e perdeu pelo menos uma vez em que seu nome foi sugerido para a presidência. Em 1999, após a renúncia de Robert Folkenberg Jr. no meio do mandato devido a um escândalo com transações imobiliárias fraudulentas, Wilson foi considerado para o cargo pela comissão de nomeações da AG. Filho de um presidente da AG e neto de um presidente de duas divisões, Ted Wilson foi eleito para a presidência da AG no dia 25 de junho de 2010. O primeiro sermão de Wilson, no dia 3 de julho, prenunciou o fundamentalismo sem aplausos que ele impôs pelos 15 anos seguintes.
Intitulado “Siga em frente”, Wilson insistiu que os adventistas se mantivessem firmes numa compreensão literal das crenças fundamentais do adventismo frente a um mundo em deterioração. Com esta mensagem, Wilson desencadeou uma agenda populista de base fundamentalista que tem sido um flagelo recorrente para a missão e visão adventista. Wilson encorajou cada adventista a “cobrar seus líderes, pastores, igrejas locais, educadores, instituições, e organizações administrativas”. O tiro saiu pela culatra. Amenizado por umas poucas vitórias, seu apelo levou a muitos ataques contra as universidades da denominação, professores de seminários, movimentos jovens de foco cristológico, estilos de louvor e adoração, e, principalmente, a esforços para impedir a ordenação de mulheres que queriam servir a Igreja Adventista do Sétimo Dia (IASD) como ministras do evangelho — tudo sob a liderança dele.
Ted Wilson faz seu sermão durante o segundo sábado da Assembleia da AG, no dia 3 de julho de 2010. [Josef Kissinger/ANN]
Ecoando tragédias gregas com demasiada harmonia, o poder populista e de grupos independentes fortalecido por Wilson tornou-se a hamartia que ajudou a derrubá-lo.
Na semana passada, um líder de associação escreveu para a Spectrum: “Eu era um delegado quando Wilson foi eleito pela primeira vez, e seu primeiro sermão de sábado me deu calafrios quando ele apelou para que as pessoas cobrassem seus pastores — eu entendi que estava aberta a temporada de caça a pastores. Eu tinha pastoreado uma dessas igrejas fundamentalistas, e sabia que isso era tudo que elas queriam.”
Continuando com seu sermão, após comparar os adventistas aos israelitas vagando no deserto — conforme visto na narrativa de Êxodo — ele jogou uma série de perguntas para os líderes e membros leigos reunidos. “Vocês estão enfrentando montanhas de dúvida secularizada na Bíblia, um mar de interpretação liberal da Palavra de Deus, exércitos de confusão espiritual? Deus diz que somos uma nação santa e um povo peculiar. Sigam em frente. Vocês estão sendo confrontados por montanhas de dificuldades financeiras, um mar de conflitos familiares e pessoais, forças de mudanças sociais negativas? O Senhor diz: ‘sigam em frente’.”
Ele comparou ideias novas e mais progressistas ao Egito espiritual — remetendo a um lugar de cativeiro e paganismo, desta forma sugerindo que a IASD perdeu seu foco na verdade. “Não sucumbam à ideia equivocada, ganhando apoio mesmo na IASD, de aceitar métodos de adoração ou de alcance evangelístico só porque são novos e estão na moda,” disse ele. “Novos métodos precisam ser testados ‘biblicamente’.”
Ele então afunilou os alvos de seu ataque. Formação espiritual, misticismo, e oração contemplativa “se baseiam em teologia defeituosa”. Somente “pastores, evangelistas, biblistas, líderes e diretores departamentais” dentro da IASD eram qualificados para dar novas ideias e métodos evangelísticos, os quais deveriam “se basear em princípios bíblicos sólidos e no tema d’O grande conflito”. Ele também falou de música. Embora reconhecesse diferenças culturais, ele apelou para que o público “não retroceda para padrões pagãos confusos, nos quais a música e a adoração ficam tão focadas na emoção e na experiência que você perde o foco central na Palavra de Deus”.
Delegados e multidões escutam o sermão de Ted Wilson no segundo sábado da Assembleia da AG, no Georgia Dome, 3 de julho de 2010. [Josef Kissinger/ANN]
Irromperam aplausos — e Wilson mais uma vez insistiu veementemente que o público não aplaudisse. Ele continuou, acrescentando que as novas teologias “tiram a Palavra de Deus dos pilares da verdade bíblica” e que a “IASD não será retirada do alicerce bíblico, que permanecerá firme até o fim dos tempos”. A Bíblia, disse Wilson, deveria ser lida e compreendida literalmente. Ele chamou o método histórico-crítico de compreensão da Bíblia de “sinistro”, afirmando que ele é um “inimigo mortal de nossa teologia e missão,” pois “esta abordagem coloca um acadêmico ou indivíduo acima da abordagem simples das Escrituras, e lhe dá uma liberdade inapropriada para decidir o que ele ou ela pensa ser verdade com base nos recursos e na educação do crítico”.
Talvez o momento mais memorável da fala de Wilson tenha sido seu apelo para “cobrar seus líderes, pastores, igrejas locais, educadores, instituições e organizações administrativas de acordo com os mais elevados padrões de crença, baseados numa compreensão literal das Escrituras”. Wilson logo seguiu dizendo que o livro de hermenêutica do Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI) “nos ajuda a saber qual é a forma correta de interpretar as Escrituras”. Ao longo de todo o sermão, ele só citou a Bíblia e escritos de Ellen White.
As reações a este sermão inflamatório na época foram mistas. Sam Neves, na época um pastor de igreja local e agora um diretor associado de Relações Públicas e Liberdade Religiosa na AG, escreveu que Wilson, “mencionou ‘Ellen White’ 7 vezes, ‘igreja’ 42 vezes, ‘pessoas’ 36 vezes, ‘Bíblia’ 25 vezes, e ‘em frente’ 23 vezes. No entanto, ele não usou uma vez sequer as palavras ‘pobre’ ou ‘enfermo’.” Jason Hines, um colunista da Spectrum, escreveu que Wilson “declarou guerra contra o adventismo ‘progressista’” e “aconselhou a igreja a evitar qualquer coisa que envolva ir além de nossa compreensão atual da Bíblia”.
Wilson foi reeleito mais duas vezes como presidente da AG. Seus sermões em reuniões importantes da IASD tornaram-se notórios por sua duração e habilidade de se perder em listas do que ele acreditava serem erros da igreja.
Por exemplo, em 2018, durante o seu sermão no Concílio Anual da AG, Wilson fez comentários sobre “música mundana” e “aqueles que enfatizam demais questões sociais”, provocando uma reunião de quatro horas com líderes de associações regionais (N.T.: Associações para igrejas adventistas negras) com “o único propósito de expressar nosso desapontamento com as afirmações que ele fez durante seu sermão de sábado a respeito de justiça social e adoração”.
No Concílio Anual da AG de 2021, ele apresentou 14 “aberrações” que ele dizia estarem se infiltrando na IASD, e, em seu sermão pós-reeleição na Assembleia da AG de 2022, ele fez um sermão com 25 “verdades vitais” às quais os membros da IASD deveriam se apegar.
No ano seguinte, em seu sermão para o Concílio Anual da AG de 2023, intitulado “Escolhidos para a missão”, Wilson detalhou 16 questões que são “interrupções” do diabo “com o desígnio de confundir” a obra da denominação para proclamar a mensagem dos três anjos.
Mas dois anos depois, no dia 4 de julho de 2025, na Assembleia da AG em St. Louis, Missouri, entre os quase 2.000 delegados que tinham acabado de assistir o “relatório presidencial” oficial de Wilson — um resumo de tudo que a IASD conquistou em sua liderança de 15 anos — somente 188 dos delegados na plenária votaram a favor dele. A vasta maioria decidiu que a IASD de fato pode sobreviver sem ele. Wilson não foi reeleito presidente, e Erton Köhler o sucedeu com mais de 90% de aprovação.
No dia 12 de julho de 2025 — o segundo sábado da Assembleia da AG — Köhler, após uma semana em seu novo cargo, agradeceu publicamente a Wilson por seu trabalho. Ele foi ovacionado de pé no domo do America’s Center. Mas desta vez Wilson não podia silenciar os aplausos: sua era havia acabado. “O final desta assembleia é também o início de uma nova fase nas vidas do pastor Wilson e da Nancy,” disse Köhler. “Podem aplaudi-los,” ele acrescentou, “pois esta é uma expressão de gratidão pela vida deles e pela liderança também”.
Erton Köhler, recém-eleito presidente da AG, dando a Ted Wilson uma Bíblia assinada por colegas durante o culto da Assembleia da AG, no dia 12 de julho de 2025. [Nathaniel Sebastian Reid / AME (CC BY 4.0)]
Contudo, a parede que separa Igreja e Estado ultimamente tem sido de uma porosidade apocalíptica. Mais uma vez, o passado é prólogo em tempos tão reacionários, e o que parece uma vitória pode se transformar num interregno no qual a retaliação inspira o populista involuntário a colocar o vestigial acima de todos.
Wilson e Wilson e Wilson e Mãe
Wilson, que visava desencadear politicamente uma responsabilização teológica ao recomendar que todos os adventistas “cobrem seus líderes”, foi novamente vitimado por sua própria retórica populista ao passar 16 minutos usando seus duros arreios presidenciais para encabrestar procedimentos parlamentares e acabar com a tentativa dos negacionistas de mudar a agenda da Assembleia da AG no dia 3 de julho de 2025.
Sendo o presidente da AG 30 anos após seu pai Neal ser retirado do cargo, Wilson assumiu o poder por meio de apoiadores para os quais toda a denominação precisava retornar a um passado literal e específico, em que dias eram iguais a anos, exceto em relação à ciência das origens. Esta reforma oportuna de volta a um passado teológico prometia um poder que liberaria as bênçãos de Deus sobre seus seguidores.
Impulsionado por um movimento reacionário nos EUA e no adventismo global em expansão, ele foi capaz de cultivar líderes globais com uma compreensão missionária colonial de poder que prezava a lealdade como caminho estreito rumo a oportunidades de ascensão hierárquica. Sendo o primeiro filho a herdar o poder adventista mundial de seu pai, Ted Wilson, pai de três filhas e nenhum filho, pavimentou sua carreira política reforçando o teto de vidro da denominação.
Sua nova agenda de “reavivamento e reforma” se espalhou bastante a princípio, mas logo se tornou mais uma entre muitas iniciativas wilsonianas que praticamente só existiam como sites raramente visitados.
Wilson construiu sua vida com a confiança de alguém cuja mente era completamente preenchida por literatura divinamente inspirada, e cujo pai nos reinos celestiais da AG reforçava sua retidão dando-lhe acesso a oportunidades para acumular o poder terreno que outro filho unigênito explicitamente rejeitou.
Um cristão fundamentalista por definição em sua ideologia mais central, Wilson afirmou publicamente que só lê palavras inspiradas por Deus da King James Version, traduzida milênios depois. Ele ampliou esse fundamentalismo epistemológico para incluir os escritos de Ellen White. Wilson afirmou — e isso continua evidente — que ele não lê outros autores adventistas. Sua tese de doutorado em educação pela New York University inclui 194 citações de Ellen White em um total de 303 referências.
Em outubro de 2024, durante o último sermão de sábado de Wilson para a comissão executiva — cuja maioria votou em outro candidato este ano — ele mostrou às centenas de líderes globais “um poema incrível” que tinha encontrado na Bíblia da sua mãe. O poema também foi compartilhado como tweet na conta oficial do presidente da denominação, onde ele foi chamado de “profundo”. Wilson o leu pausadamente para os principais líderes da denominação devido à sua forma burlesca.
A mãe de Wilson, Elinor Esther Neumann Wilson, uma professora de ensino fundamental, foi descrita por seu filho como alguém “que amava inculcar belas verdades espirituais”. O poema diz [Captura de tela da transmissão ao vivo.]:
“Uma coisa é ler a Bíblia inteira.
Outra coisa é ler, aprender, e fazer.
Alguns a leem para aprender a ler.
Mas no assunto não prestam atenção.
Alguns a leem por obrigação uma vez por semana.
Mas da Bíblia não buscam instruções;
Enquanto outros a leem com pouco cuidado,
Sem pensar em como ou quando a leem.
Alguns a leem como uma história para saber
Como viviam as pessoas três mil anos atrás.”
Então, em abril de 2025 — 87 dias antes de Wilson ser removido do cargo — Andi Hunsaker, presidenta da organização Serviços e Indústrias de Leigos Adventistas (ASI), o encheu de elogios. Durante um momento programado do Concílio de Primavera da AG, com a presença dos vice-presidentes da AG — aposentados, mas onipresentes — Mark Finley e Mike Ryan, Hunsaker elogiou a liderança de Wilson em seus comentários públicos. Então, fazendo uma segunda oração após Finley, Hunsaker citou Ellen White ao ler uma súplica espiritual preparada que alertava contra o dano da “derrota” e a importância de seguir juntos em unidade. Ela também agradeceu a Deus pela liderança de Wilson, chamando-a de uma bênção. Ela acrescentou em sua oração: “Sei que as eleições estão chegando […] e oro para que a liderança desta igreja compreenda o chamado […] e siga unida, siga unida conforme vemos se aproximar o dia”. Dois minutos depois, Köhler subiu ao palco para discutir o que ele chamou de “novo foco na missão”.
Michael Ryan, assistente do presidente da AG, entrevista Andi Hunsaker, presidenta da ASI, durante o Concílio de Primavera da AG no dia 8 de abril de 2025, na sede da AG. [Enno Müller / AME (CC BY 4.0)]
Nos últimos 46 anos, a comunidade adventista teve um Wilson como presidente por 27 anos. Em conversas e trocas de mensagens com mais de 20 líderes adventistas, a visão prevalecente é que Ted Wilson, diferente de seu pai, estreitou o adventismo. Ele não era somente um microadministrador no prédio da AG; ele era hostil a grandes visões institucionais adventistas, e preferia versões minúsculas e puras do adventismo — tais como a Universidade Weimar, onde se graduou o novo presidente da Universidade Andrews, e o Instituto Hartland, onde o seu amigo e conselheiro, Finley, é professor adjunto. Mas com um novo líder, livre do nome desta família, as coisas podem mudar.
Köhler quer compartilhar com o mundo uma nova visão e sensação
No dia 12 de julho, o segundo sábado da Assembleia da AG de 2025, Köhler, presidente recém-eleito, subiu ao púlpito para pregar seu tão esperado sermão no culto divino da manhã. Ele já tinha pregado no primeiro sábado da Assembleia da AG — um espaço tradicionalmente reservado para o secretário executivo da AG, o cargo anterior de Köhler — logo após sua eleição. Mas o sermão que ele fez naquele dia não refletia sua ascensão recente à presidência. Em suas observações iniciais, ele enfatizou a importância do evangelismo global para a missão da IASD e insistiu que os delegados e participantes permanecessem diligentes no propósito e futuro da denominação. Ele acrescentou que, durante seu sermão na semana seguinte, “prepararia uma mensagem para compartilhar com todos uma visão bíblica para o próximo quinquênio”.
Uma semana depois, Köhler começou seu sermão apresentando uma frase de efeito que, segundo ele, seria muito usada nos próximos cinco anos: “Alicerçados na Bíblia e focados na missão.” Mas antes de continuar, ele desviou do foco da mensagem para fazer algumas afirmações gerais.
“Eu estou no início desta nova jornada como líder, mas vocês sempre poderão ter certeza de uma coisa,” ele disse. “Quanto menos experiência, maior a dependência que minha família e eu teremos […] de Deus e […] das suas orações.” Ele reconheceu os esforços dos delegados e as opiniões variadas sobre como questões e debates eram conduzidos. “Não é fácil satisfazer tamanha variedade de expectativas e culturas numa Assembleia da AG, que não representa os interesses de um único país ou pessoa. Esta é sem dúvida uma assembleia para todos, e, portanto, exige flexibilidade e paciência de todos nós.”
Ele também reconheceu a importância das missões humanitárias da IASD, tais como os Serviços Comunitários Adventistas, mencionando especificamente a inundação catastrófica que assolou o Texas recentemente. “Os membros da nossa igreja já estão a postos para ajudar quem enfrenta esta situação difícil, e os Serviços Comunitários Adventistas estão trabalhando duro para aliviar o sofrimento de muitas pessoas naquele estado […] Estamos vivendo em tempos muito, muito difíceis. Nosso amor, nosso apoio, e nossas orações precisam ser instrumentos de Deus para aliviar o sofrimento humano e anunciar que Jesus em breve virá.”
Continuando com seu sermão focado na missão bíblica, ele disse que a esperança adventista no segundo advento deveria “nos encher de um senso de urgência”. Muitas pessoas, explicou Köhler, perderam esse senso de esperança e urgência e passaram a acreditar que Jesus virá “só em algum momento no futuro”. Ele fez referência aos cristãos primitivos retratados no Novo Testamento, dizendo que eles incorporaram sua esperança no retorno de Jesus através de seus ágeis esforços evangelísticos. “Não podemos nos esquecer de que um mundo sem esperança precisa desesperadamente de uma igreja esperançosa,” notou Köhler.
Ele citou Emil Brunner, um teólogo suíço reformado comumente associado com a neo-ortodoxia e o movimento teológico dialético: “Tal como o oxigênio para os pulmões, assim é a esperança para o sentido da vida humana. Tire o oxigênio e a morte ocorre por sufocamento, tire a esperança e a humanidade é comprimida sem fôlego; sobrevém o desespero, levando à paralisia dos poderes intelectuais e espirituais por uma sensação de falta de sentido e propósito na existência.”
Köhler então foi para Mateus 24, uma passagem bíblica na qual Jesus alerta seus discípulos sobre um apocalipse vindouro que ocorrerá no fim do mundo. Köhler disse que os sinais do fim descritos neste capítulo podem ser divididos em dois grupos. O primeiro grupo de sinais diz respeito a um mundo “caindo dramaticamente na destruição”. O segundo grupo de sinais é “uma igreja se erguendo poderosamente para a missão”. Köhler compartilhou que “temos evidências o bastante para dizer que Jesus só virá quando ambos os grupos de sinais ocorrerem juntos”.
Todo mundo, afirmou Köhler, concorda que o mundo está se deteriorando rapidamente. Ele fez referência ao Relógio do juízo final, uma medição simbólica da probabilidade estimada de uma catástrofe global causada por humanos que foi criada pelo Boletim de Cientistas Atômicos. “Este não é o único indicador de que as coisas não estão melhorando, e sim piorando cada vez mais. Isso é inquestionavelmente a obra do inimigo de Deus, em suas tentativas incansáveis de destruir este mundo,” disse ele. Ele listou uma coletânea de males sociais — tais como corrupção, ódio e polarização — e disse que estas tragédias “exigem nossa atenção, nosso amor e nosso cuidado”. Ele terminou este segmento do sermão com um floreio: “Somos chamados para ser agentes de esperança, comprometidos em aliviar o sofrimento da humanidade.”
Seguindo em frente, ele fez uma digressão notável ao discutir como os adventistas devem proclamar sua mensagem do fim dos tempos. “Nossa atenção não pode estar focada em todos os sinais negativos ao nosso redor,” disse Köhler. “Esta não é a ênfase da segunda vinda de Jesus. Não podemos gastar nosso tempo sempre procurando uma tragédia aqui e ali, uma tragédia aqui, outra ali, que possa nos motivar a estar preparados para a segunda vinda de Jesus,” afirmou ele, erguendo levemente a voz. “Não, nossa mensagem não é de medo ou sensacionalismo. É uma mensagem baseada em esperança e segurança, não ansiedade e medo. Somos movidos pela esperança. Todos os sinais negativos mostrando a queda dramática do mundo não são nossa prioridade. A direção que o mundo está tomando não está em nossas mãos e não depende de nós […] Nosso foco está numa igreja que se ergue poderosamente para a missão.”
Além disso, Köhler também disse que a IASD “não foi chamada para ser uma casa de guerra, e sim um centro de distribuição”. Todas as iniciativas da igreja deveriam “não só lidar com o mundo caindo dramaticamente em destruição, mas também priorizar a ascensão poderosa da igreja para a missão”. Ele citou Gottfried Oosterwal, um teólogo adventista muito respeitado, para falar do propósito da missão adventista: “A missão é o que faz bater o coração da igreja. Se ela parar, a igreja deixa de existir. Cada instituição, cada programa, e qualquer atividade da igreja só tem sentido — e o direito de existir — se participa da missão.” Köhler comparou não estar comprometido com a missão adventista a ser “um bombeiro que corre para dentro de um prédio em chamas para consertar a pintura de uma parede”.
Ele então fez um apelo por “um reavivamento em nossas vidas pessoais e na vida da igreja”, assim como “uma reforma que vai nos preparar para viver não de acordo com nossas opiniões pessoais, mas de acordo com a orientação de Deus”. Isso inclui, disse ele, afirmar o ministério profético de White e a importância do evangelismo através da literatura, enquanto também usando as mais novas tecnologias para alcançar as pessoas. “Queremos ser uma igreja que nasceu no século 19 mas está preparada para enfrentar os desafios e necessidades do século 21.”
Ele comparou a diversidade e as diferenças dentro da igreja a “notas musicais nas mãos de Deus”. “Elas podem formar a mais bela e harmoniosa sinfonia. Isso não significa que vocês não terão diferenças e problemas, mas que saberemos discordar com amor, com equilíbrio, com educação, evitando a polarização e fortalecendo nossa integração,” disse Köhler. Ele acrescentou que a igreja só ficará mais forte se “a missão for a prioridade em todas as nossas iniciativas”, dizendo que o adventismo não pode “se distrair com coisas que não são a verdadeira prioridade da igreja”, e que uma maior complexidade estrutural atrapalha a missão central da IASD.
A missão adventista, disse Köhler, é compartilhar a mensagem dos três anjos — encontrada em Apocalipse 14 — com o mundo, mas “sempre partindo da esperança, não com críticas, não com qualquer outro tipo de atitude negativa”. Ele continuou, afirmando que embora a igreja nunca deva mudar sua “mensagem bíblica, nossos métodos e estratégias precisam ajustar o foco”. Ele defendeu uma mudança em como a igreja vê o crescimento, apelidando as medidas atuais de “ABCs”: frequência na igreja, quantidade de prédios e dinheiro. “Não medimos nosso crescimento com o ‘ABC’ [… e sim pelos] fortemente comprometidos com o ‘D’. E este ‘D’ é o discipulado.”
“Precisamos de uma igreja que possa aumentar nossa porta da frente e fechar nossas portas dos fundos, uma igreja mais calorosa que não se foque só em si mesma, como um clube, mas que esteja focada nas pessoas,” proclamou ele. “Afinal, Jesus veio para as pessoas. Jesus viveu pelas pessoas. Jesus ministrou para as pessoas. Jesus morreu pelas pessoas, e, quando voltar, só vai levar pessoas para o céu.”
Köhler citou George Matheson, um ministro e escritor escocês, e encorajou seus ouvintes a responder ao “chamado de Deus”: “Senhor, envia-me aos corações sem lar, às vidas sem amor, às multidões sem bússola, aos muitos sem um refúgio. Envia-me às crianças que ninguém abençoou, aos famintos que ninguém alimentou, aos enfermos que ninguém visitou, aos endemoniados que ninguém chamou, aos caídos que ninguém ergueu, aos leprosos que ninguém tocou, aos enlutados que ninguém confortou.”
Concluindo seu sermão, Köhler acrescentou: “Como eu amaria ver nossa igreja erguendo poderosas informações com seus pés no chão, mas seus olhos fixos no céu; uma igreja com um chamado claro para ser distinta, mas não distante; uma igreja remanescente chamada para preparar este mundo para a segunda vinda de Jesus.”
O vibrante sermão de Köhler, que durou 45 minutos, foi escutado por menos pessoas do que o esperado — as arquibancadas superiores do domo no America’s Center estavam quase vazias, e havia espaços nas seções abaixo que não estavam completamente cheios. A expectativa era de mais de 70.000 pessoas, mas a AG divulgou que só apareceram 40.000 pessoas. Todos os líderes recém-eleitos da AG, incluindo diretores departamentais e líderes de divisões, estavam sentados atrás de Köhler enquanto ele falava. Mas, mesmo com um público menor, ele era interrompido rotineiramente por aplausos, e, em sua conclusão, um coral e uma orquestra apresentaram o coro Aleluia, parte do oratório “Messias” composto pelo alemão-britânico George Frideric Handel — um momento de grande pompa no fim de uma longa semana de reuniões administrativas e politicagem.
Conforme o canto desacelerava e a música diminuía, Köhler subiu mais uma vez ao atril. “Este momento é como uma antecipação do céu,” disse ele, referenciando a importância espiritual da música e a felicidade que ela evocava para todos os que estavam escutando. “Vocês concordam comigo? O que vocês estão sentindo agora?”, perguntou ele. “Consigo imaginar esperança. Alegria. É isso que precisamos compartilhar com o mundo. Exatamente o que vocês estão sentindo agora — vocês precisam compartilhar isso com o mundo. Esta é a nossa missão. Não estamos aqui para depreciar o mundo. Estamos aqui para compartilhar a esperança daquele dia pelo qual ansiamos.”